O empreendedorismo consciente de Marina Shore: skincare associado à saúde mental e lucro revertido para o meio ambiente

Criada em uma família de empreendedores, ela ocupou cargos de marketing em grandes empresas até resolver fundar seu próprio negócio, baseado no impacto social e ambiental

  • Por Fabi Saad
  • 05/01/2022 10h00 - Atualizado em 05/01/2022 17h08
Divulgação Marina Shore, uma mulher na faixa entre 20 e 30 anos, está sentada em frente a uma mesa, com os braços em forme de A e as mãos dadas, com produtos de sua marca espalhados pelo cenário Marina Shore afirma que sua empresa está compromissada com questões como aquecimento global, emissão de carbono e gestão de resíduos

Marina Shore, nossa Mulher Positiva da semana, foi criada em uma família de empreendedores. A sua avó, por exemplo, costurava fantasias para escolas de samba e dali conseguiu o sustento para os 12 filhos. Marina herdou o tino para os negócios e, além de consultora de inovação, fundou recentemente uma marca de skincare que leva seu nome e associa o conceito de cuidado com a pele à saúde mental. “Há muitas necessidades para atender no nosso país. Da falta de acesso à higiene básica ao desmatamento. Não queria limitar a atuação da marca, então vamos ajudar no que podemos com esse lucro das vendas”, diz Marina, que encontrou no empreendedorismo uma forma de fazer sua parte no mundo. “É uma marca de skincare. Mas nunca foi e nunca será apenas isso.” Ela também é codiretora fundadora da Changemaker Chats Brazil, uma organização sem fins lucrativos com sede em Nova York, com foco em equipar mulheres com know-how, networking e ferramentas para promover mudanças positivas no trabalho, em casa e em suas comunidades. “Entrevistei líderes brasileiros incríveis, como a diretora dessa ONG, o que me inspirou ainda mais a seguir em frente com o meu próprio negócio”, conta. Mais de 11 mil mulheres fazem parte da comunidade globalmente.

1. Como começou a sua carreira? Fui criada em família de empreendedores — como minha avó, que costurava fantasias para as escolas de samba de São Paulo para sustentar 12 filhos sozinha. Sempre pensei que um dia criaria o meu próprio negócio. Formada em publicidade e marketing, pós-graduada em administração pela FGV, comecei minha carreira há mais de uma década. Ocupei cargos de marketing nas maiores indústrias químicas de aromas e fragrâncias do mundo, liderando e executando o desenvolvimento de produtos, esforços de marketing e inovação para clientes, como Ambev, Unilever, Danone, Coca-Cola e Nestlé. Me mudei para Londres em 2018, onde estabeleci minha consultoria de inovação e estratégia. Enquanto criava soluções para os maiores desafios de marcas de bens de consumo e atuava à frente do Changemaker Chats Brasil, também desenvolvi a Marina Shore, marca de skincare. Tínhamos encontros do Changemaker no Brasil a cada dois meses, então eu aproveitei meus períodos no país para começar a desenvolver os produtos da minha marca. Até então, já sabia que parte do lucro do meu novo negócio seria revertido para ações sociais, mas o objetivo também era criar produtos veganos, não testados em animais e relacionados ao cuidado com a pele, o corpo e a mente.

2. Como é formatado o modelo de negócios da Marina Shore? A Marina Shore prioriza a inovação de produtos e um modelo de negócio consciente, começando por “expandir as barreiras” do que uma marca de cuidados com a pele pode ser. A empresa cria, produz e comercializa produtos para cuidar da pele, do corpo e da mente. E traz como premissa básica abraçar a beleza do processo, convidando a repensar a maneira de olhar para o cuidado pessoal. Para a Marina Shore, a beleza do processo está na construção diária de novos hábitos, com mãos ativas, mentes compassivas e atitudes generosas consigo mesmo e com o meio em que vivemos. Para além disso, o impacto social e ambiental são o cerne da empresa, que destina um terço do lucro para seu Fundo de Regeneração. A cada R$ 3 de lucro, R$ 1 é revertido para apoiar organizações que aceleram objetivos de desenvolvimento sustentável de comunidades, restauração do meio ambiente e proteção do clima.

A empresa, que nasce dentro dos fundamentos de uma DNVB (Digitally Native Vertical Brand, que em tradução livre significa Marcas Digitalmente Nativas e Verticais), atua no universo digital e tem seu modelo de negócio estruturado verticalmente, controlando todos os seus processos internamente. Para tanto, Marina Shore proporciona identificação e conexão com seus clientes através de suas redes sociais, por meio de trocas e experiências fundamentadas no forte propósito da marca. Essa nova dinâmica se alinha com os valores das gerações que nasceram na era digital, uma vez que a intenção central da empresa é de gerar impacto positivo no mundo, premissa essencial para esse público. A marca já nasce também pautada nos conceitos de ESG (Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e Governança, em tradução livre), atuando com práticas afirmativas dentro e fora da empresa, exercendo o compromisso social e questões como aquecimento global, emissão de carbono e gestão de resíduos.

Tendo a saúde mental como ponto de partida para o desenvolvimento dos produtos, a marca faz sua estreia com uma inovação para o universo de ferramentas de skincare: uma Gua Sha multifuncional de metal, anatomicamente desenhada para encaixar em todas as partes do corpo. A Gua Sha Marina Shore possibilita a execução de uma série de técnicas de ginástica facial, alta performance sobre pontos de acupuntura, massagem terapêutica e drenagem linfática facial e corporal para eliminação de toxinas acumuladas no corpo. A linha de produtos da marca conta ainda com duas máscaras de argila e um óleo facial que trazem em suas formulações o potencial funcional de plantas e combinam ingredientes, ativos naturais e elementos sensoriais que enriquecem o processo de cuidado pessoal.

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Foi fazer a transição do ambiente corporativo para o empreendedorismo na prática, enquanto mudava de país. Sempre apliquei minhas habilidades empreendedoras dentro das empresas onde trabalhava. Essa prática era importante, pois me trazia mais satisfação profissional ao mesmo tempo em que fomentava o surgimento de ideias e proporcionava desenvolvimento e ambiente de inovação para a empresa. Em dado momento, quis ter meu próprio negócio para buscar independência financeira, ter liberdade geográfica, liberdade de tempo e rotina, causar impacto positivo na vida das pessoas e criar solução para problemas reais do cotidiano. Mas, com o empreendedorismo, vem uma sequência enorme de riscos e momentos de solidão. E por um longo período, sozinha à frente dos meus negócios, não podendo contar com colegas para repartir as conquistas e dificuldades diárias, tive que encarar vários outros desafios. Empreender e gerir uma empresa exige muita dedicação, conhecimento e persistência.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Nos últimos anos, busquei um processo mental que me ajudou a mudar a maneira como trabalho (e vivo) para melhor. Esse processo se resume a uma combinação de reflexividade — ou questionamento de suposições para aumentar minha autoconsciência — e redefinição intencional dos meus papéis. Não vejo como uma solução única, mas sim um ciclo no qual devemos nos engajar continuamente conforme nossas circunstâncias e prioridades evoluem. Faço pausas para questionar minhas decisões diárias, presto a devida atenção às minhas emoções, coloco as coisas em perspectiva e determino como minhas prioridades precisam ser ajustadas. Em seguida, considero alternativas e implemento mudanças. Parto do princípio de que equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é um ciclo, não uma conquista.

5. Qual seu maior sonho? A vantagem mais gratificante de ser uma empreendedora social é o potencial de ter um impacto positivo na sociedade, melhorando a qualidade de vida das pessoas. Nesse âmbito, meu sonho é criar soluções inovadoras para a mudança — e poder inspirar outros a fazer o mesmo. À frente da Marina Shore, entendo que o sentido se dá se cada produto e iniciativa da marca representar saúde, transformação e mudança sistêmica. Para isso, quero poder ter a capacidade e conhecimento para liderar e perseguir a visão estabelecida para a empresa. Já como líder feminina, quero poder criar oportunidades e abrir caminho para as jovens mulheres nos negócios.

6. Qual sua maior conquista? Meus empregos anteriores não foram “apenas um emprego”, mas sinto que a função que exerço agora é mais importante do que isso; tem propósito e me dá muita satisfação. Minha maior conquista foi, apesar dos desafios, conseguir me capacitar ao longo de todos esses anos para me dedicar a algo em que acredito. Como acontece com qualquer forma de empreendedorismo, as empresas sociais enfrentam sua parcela de desafios. Mas os profissionais envolvidos são capazes de buscar a recompensa de alcançar uma mudança social e um maior senso de realização pessoal.

7. Livro, filme e mulher que admira. Livro: “The Book of Hope”. Este livro da lendária primatologista Jane Goodall nos dá quatro razões para acreditar em um futuro melhor: a inteligência de nossas mentes, a resiliência da natureza, o poder da juventude e o espírito indomável da humanidade. Filme: “14 Montanhas: Nada é Impossível”, disponível no Netflix. “Independentemente da sua origem, você pode mostrar ao mundo que nada é impossível.” – Nimsdai Purja. Mulher: Luiza Trajano.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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