Olga Kos conta como momento difícil de sua vida deu origem ao instituto que leva seu nome

Ida da médica para o terceiro setor teve a ver com doença do marido: ‘Foi uma experiência de transformação que marcou as nossas vidas’

  • Por Fabi Saad
  • 22/02/2023 10h00 - Atualizado em 22/02/2023 18h30
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Divulgação Médica idosa sentada no sofá Instituto Olga Kos atende pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade social há mais de 15 anos

Nossa mulher positiva é conhecida por sua discrição pessoal e profissional. Olga Kos é médica pediatra por formação, esposa, mãe de dois filhos e avó de três netos, um deles diagnosticado com autismo. Ela dá nome ao instituto que há mais de 15 anos atende pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade com projetos artísticos, esportivos e científicos. “Ter um instituto que carrega o meu nome triplica o tamanho da minha responsabilidade. O compromisso com os beneficiários quadruplica o meu empenho”, afirma. “Quando leio o depoimento de um beneficiário do Olga Kos me deparo com uma nova conquista. São quase 5 mil histórias de participantes ao longo destes 15 anos. Encontro nestes depoimentos a minha verdadeira motivação.”

1. Como começou a sua carreira? Eu sou médica pediátrica de formação. Atuei na rede pública de saúde. Eu me locomovia de ônibus, sempre levando insumos e medicamentos que coletava para serem distribuídos às pessoas mais carentes. Eu presenciei todo tipo de necessidade e vulnerabilidade. Talvez tenha sido nesta época que eu despertei para o terceiro setor.

2. Como é formatado o modelo de negócios do Instituto Olga Kos? Há mais de 15 anos o Olga Kos atende pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade social. Oferecemos atividades esportivas e artísticas. Temos também a parte científica, que envolve pesquisas que dão instrumentos para que gestores públicos tenham melhores condições de pensar em políticas públicas. Anualmente, o Olga Kos leva quase 18 mil pessoas ao Obelisco do Parque Ibirapuera pela causa da inclusão. A Corrida e Caminhada Olga Kos deste ano vai acontecer no dia 19 de março, em alusão ao Dia Internacional da Síndrome de Down, celebrado no dia 21 de março (clique AQUI e se inscreva).

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? O Olga Kos nasceu de um momento difícil, podemos definir assim. Meu marido teve uma questão de saúde, ficou um ano hospitalizado e assistindo a uma nova novela que tinha uma personagem com síndrome de Down. Decidimos que, se ele saísse com vida desta situação, iríamos nos dedicar a esta causa. Foi uma experiência de transformação que marcou as nossas vidas e deu origem ao instituto. Hoje posso dizer de forma segura: o Olga Kos é tudo para mim. Neste contexto, fomos transformados por um momento de dificuldade, de maneira significativa, e todos os outros desafios são tratados como um canal de transformação.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? A dinâmica do terceiro setor envolve muita dedicação e empenho. Ter um instituto que carrega o meu nome triplica o tamanho da minha responsabilidade. O compromisso com os beneficiários quadruplica o meu empenho.  Por se tratar de um trabalho que gosto de fazer, no caso do Olga Kos, que envolve uma causa social importante e necessária, consigo equilibrar os dois “lados” sem grandes conflitos. Este é um bônus da terceira idade: tenho dois filhos já adultos, o que permite uma atividade mais intensa em prol do instituto. Eu tenho netos, inclusive um é autista, consigo engajá-los nas corridas e caminhadas que realizamos anualmente em prol da inclusão. O instituto é tudo para mim, ou seja, o pessoal e o trabalho caminham de maneira harmônica e equilibrada, afinal, toda oportunidade de integrar amigos, a família, conscientizar as pessoas, de um modo geral, é o exercício do meu trabalho e, ao mesmo tempo, a minha missão como ser humano.

5. Qual seu maior sonho? Meu maior sonho é ver a inclusão social ocorrendo de forma natural em todos os ambientes possíveis. Nas casas de todos nós, nas empresas, escolas, nos espaços de lazer etc. Isto é, na verdade, um “desejo” comum, nem deveria ser um “sonho”. Mas como ainda temos muito a avançar, temos trabalhado no Olga Kos para que este “sonho” se realize o quanto antes.  

6. Qual sua maior conquista? Quando leio o depoimento de um beneficiário do Olga Kos me deparo com uma nova conquista. São quase 5 mil histórias de participantes ao longo destes 15 anos. Encontro nestes depoimentos a minha verdadeira motivação. E, a cada novo depoimento, entendo que vivo uma nova e maior conquista. Saber que um jovem que sofreu bullying, consequentemente parou de falar e perdeu o prazer na convivência, mas recuperou estes estímulos em nossas oficinas é uma conquista. Saber que esse participante recuperou o prazer pela socialização através de nossos projetos é um estímulo para nós.  Saber que por causa da morte do pai, uma pessoa com paralisia cerebral perdeu todas as atividades esportivas e culturais por questões financeiras, mas, com nosso trabalho, conseguimos suprir esta ausência é uma conquista. Saber que temos uma participante com síndrome de Down que tem a sua própria renda, é instrutora de taekwondo e desenvolveu este processo de autonomia no Olga Kos é uma conquista. São muitas conquistas, imensuráveis e incomparáveis. 

7. Livro, filme e mulher que admira. Neste caso, vou citar a série “Fauda”, a que assisti recentemente. Gostei dela porque mostra as estratégias e suspenses que existem entre dois povos que estão em conflito há anos: israelenses e palestinos. É um tema de difícil abordagem. Li sobre a série e fiquei sabendo que se trata de experiências reais vividas pelo diretor e protagonista Lior Raz. Além disso, o coautor da série tem conhecimento de causa: trata-se do jornalista político Avi Issacharoff, que há mais de 20 anos cobre conflitos no Oriente Médio. A série também aborda temas culturais, românticos (o amor entre um israelense e uma árabe), sociais, entre outros que mostram, ainda que de forma ficcional, pontos da vida real que merecem ser discutidos. Um filme que amei, amo e amarei é “Cinema Paradiso”. Mostra a amizade, o amor, o respeito entre um homem e um menino que é comovente e afetuoso. Sempre me emociona, O livro que achei mais interessante foi o “O Menino do Pijama Listrado”, que conta uma história de amizade entre dois meninos, um do campo de concentração e o outro filho do comandante do campo. O quanto uma história cruel pode ocorrer dentro de uma época cruel e ferir o lado opressor na mesma intensidade. A mulher: admiro muitas, todas que lutaram em prol de uma sociedade melhor, mais justa, mais humana, mais igualitária e mais inclusiva. Que a vida valha a pena ser vivida!

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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