‘Sou preta, vim da periferia e tive que ralar muito para furar a bolha’, diz educadora emocional que criou a Onemind
Herica Ponsiana estava realizada na área de vendas e não imaginava que um dia trabalharia com emoções, mas começou busca pelo autoconhecimento após quase sofrer um burnout: ‘Tornou-se minha missão de vida’
Nossa Mulher Positiva é Herica Ponsiana, educadora emocional e palestrante de bem-estar. Ela nos conta como é possível superar as crises de ansiedade e equilibrar a vida pessoal e profissional através do autoconhecimento. “Eu sou uma mulher preta que veio da periferia, tive que ralar muito para ‘furar a bolha’. Jamais poderia imaginar que um dia trabalharia com emoções, autocuidado e bem-estar. Isso estava fora da minha realidade a. Esse caminho surgiu apenas quando eu adoeci mentalmente e emocionalmente e, para complicar mais a situação, eu não tinha noção que estava doente. […] Por muito pouco não sofri um burnout. A partir desse momento, começou minha busca pelo autoconhecimento e hoje tornou-se minha missão de vida”, contou a fundadora da Onemind.
1. Como começou a sua carreira? Iniciei minha carreira na área comercial e atuei nela por mais de dez anos. Tive a oportunidade de vivenciar todas as áreas de vendas como prospecção, vendas hunter e liderança de equipe. Toda essa trajetória no mundo corporativo foi atuando no segmento de tecnologia.
2. Como é formatado o modelo de negócios da Onemind? A Onemind é uma empresa formada em sua maioria por mulheres especialistas em diversas áreas do bem-estar e saúde mental. Nossa missão é promover a educação emocional nas empresas, preparamos líderes e equipes em como obter ferramentas para prevenir o adoecimento e se manter saudável para desempenhar melhor sua carreira. Focamos na prevenção e na saúde, ou seja, promovendo o bem-estar e autocuidado no ambiente organizacional. Fazemos isso através de treinamentos para capacitar emocionalmente os líderes, programas recorrentes de meditação, vivências e círculos de mulheres. Todas as entregas atualmente são feitas tanto online como presencial em todo Brasil.
3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Eu sou uma mulher preta que veio da periferia, tive que ralar muito para “furar a bolha”. Nessa luta contra o sistema, busquei durante muitos anos desenvolver meus conhecimentos técnicos (hard skills). Jamais poderia imaginar que um dia trabalharia com emoções, autocuidado e bem-estar. Isso estava fora da minha realidade naquela época. Esse caminho surgiu apenas quando eu adoeci mentalmente e emocionalmente e, para complicar mais a situação, eu não tinha noção que estava doente. Gostava muito do que fazia na área de vendas, era uma das melhores na minha equipe. Também tinha paixão por desenvolver pessoas. Certo dia o brilho foi se apagando e o sentido desvanecendo, dando espaço para crises constantes de ansiedade, pânico e por muito pouco não sofri um burnout (exaustão). A partir desse momento, começou minha busca pelo autoconhecimento e hoje tornou-se minha missão de vida. Descobri que meu propósito era compartilhar com as pessoas os métodos e ferramentas para não adoecerem e terem maior autonomia emocional e viverem uma vida com mais felicidade genuína.
4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Essa é uma pergunta interessante, pois equilibrar a vida pessoal e profissional pode significar muita coisa para muitas pessoas. Para mim, quer dizer que eu consigo dedicar um tempo de qualidade para ambas áreas, sem que uma comprometa a outra. Como nem tudo são flores, sabemos que é insustentável querer equilibrar todos os pratos achando que nunca nenhum irá cair. Isso é uma perspectiva importante para se tomar consciência, pois quando nos reconhecemos como humanos sabemos que haverá dias que não será possível. Essa ideia me ajudou muito na minha saúde mental, pois para rodar todos os pratos nós precisamos estar bem, e essa é a prioridade principal. Outra ferramenta que me ajuda é escrever todos meus papéis e ter clareza do que é essencial em cada um deles e fazer uma análise do que está sobrando ou faltando para cada um. Assim a jornada ficou mais leve e eu entendo que não existe uma divisão entre vida pessoal e profissional, tudo é vida! Foi essencial ter uma boa base de autoconhecimento para saber o que podia fazer de melhor para meus papéis. Acredito que a sociedade — e nós mulheres — cobra a perfeição, e essa busca adoece nossa mente e a alma. Desta forma precisamos aprender a ser amiga de nós mesmas e ser gentil nos dias que não estaremos produtivas, entendendo que a pausa também é importante.
5. Qual seu maior sonho? Ajudar o máximo de pessoas a aprenderem sobre meditação, emoções, que obtenham autonomia emocional. Sonho com uma sociedade menos ansiosa e com mais compaixão. Sonho que as mulheres possam ser respeitadas e reconheçam seu potencial e não negocie isso com ninguém. Sonho que a comunidade preta, e principalmente as mulheres, tenha oportunidades iguais e assuma cargos de liderança com autoconfiança.
6. Qual sua maior conquista? Ter uma mente livre e aberta ao aprendizado e a adaptar quando necessário. Outra conquista importante foi aprender a me amar e me cuidar.
7. Livro, filme e mulher que admira. Mulher que admiro é a AMMA, uma líder espiritual na Índia, uma mulher que vem transformando a realidade das mulheres no país. Filme: “Estrelas Além do Tempo”, três mulheres negras na Nasa que são sinônimo de força, coragem e superação. Livro: “O Poder do AGORA”.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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