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Agora como terceira via, o sobrenome Kennedy assusta favoritos nos EUA

PHOENIX, ARIZONA - 20 DE DEZEMBRO: O candidato presidencial independente Robert F. Kennedy Jr. responde a perguntas da mídia após seu comício de campanha no Legends Event Center em 20 de dezembro de 2023 em Phoenix, Arizona

O advogado e escritor Robert F. Kennedy é mestre falcoeiro. Treina e cria falcões. Um dos 11 filhos de Bob Kennedy, recoloca o sobrenome do clã na corrida pela Casa Branca, o que não ocorria desde 1980, quando o tio Ted decidiu desafiar o incumbente Jimmy Carter nas primárias do Partido Democrata. Derrotado, saiu da convenção partidária ovacionado após um belo discurso e mergulhou na campanha de Carter. O Kennedy versão 2024 pretende trilhar outro caminho. E há pesquisas que atribuem a ele perto de 20% das preferências, o que pode se tornar um imenso problema para Joe Biden e Donald Trump, os favoritos da disputa.

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Diferente do tio John, eleito presidente em 1960, do pai Robert, que tentava a nomeação em 1968 até ser baleado e morto no Hotel Ambassador, em Los Angeles, e do tio Ted, o novo Kennedy presidenciável abandonou o Partido Democrata. Aliás, a defecção não surpreendeu. Durante a pandemia, o advogado se aliou a grupos terraplanistas que atacavam as vacinas contra a Covid. Militante aguerrido da causa, criou uma organização chamada Children’s Health Defence, que se dedicou a difundir desinformação sobre a vacina e teorias da conspiração que tinham como alvo a indústria farmacêutica. E para não deixar dúvida sobre a capacidade de radicalizar em defesa de teses no mínimo inescrupulosas, chegou a dizer que a Covid foi geneticamente modificada para poupar chineses e judeus. Foi um aceno direto, e de gosto bem duvidoso, ao eleitorado mais conservador, identificado como cativo do ex-presidente Donald Trump.

Óbvio que o núcleo duro que gravita em torno do republicano não perdeu tempo e rapidamente saiu a campo para neutralizar a tentativa de Kennedy de se mostrar como um neoconservador da gema. “É apenas um democrata radical de extrema esquerda”, respondeu o Comitê Nacional Republicano. Ou como definiu o próprio Donald Trump, “é um progressista desfilando em roupas conservadoras”. Beira a utopia imaginar que um outsider possa desafiar com chances reais de êxito as poderosas máquinas partidárias dos partidos Democrata e Republicano. Para se ter uma ideia do tamanho do desafio de RFK, a última vez em que os candidatos democratas e republicanos não foram os mais votados foi na eleição de 1912. Naquele pleito, o segundo colocado, com 27,4% dos votos e vitórias em seis Estados, foi Theodore Roosevelt, então no recém-criado Partido Progressista. Mas é fundamental lembrar que Roosevelt era um gigante da política americana, tendo sido presidente em dois mandatos consecutivos, de 1901 a 1908.

Outro nome marcante da terceira via foi o ultraconservador segregacionista George Wallace. O célebre governador do Alabama foi o último candidato fora das duas grandes máquinas partidárias a vencer em alguns Estados. Amealhou 13,5% dos votos populares e 46 no colégio eleitoral, graças às vitórias em Arkansas, Lousiania, Mississípi, Alabama e Geórgia. E o último outsider a fazer algum barulho foi o bilionário Ross Perot, que em 1992 obteve 18,9% e cerca de 19 milhões de votos. Até hoje há republicanos capazes de jurar que ele contribuiu para a vitória do então desconhecido democrata Bill Clinton sobre o presidente George Bush, que tentava a reeleição.

Ninguém acredita que RFK possa vencer. A questão é o quanto poderá interferir nos resultados de estados-pêndulos, como Michigan, Pensilvânia, Arizona e Geórgia, entre outros. Neles, a diferença entre republicanos e democratas tem sido de menos de 1%. E, nesse caso, restaria a dúvida sobre quem perderia mais com a candidatura Kennedy, que para os favoritos seria uma ave de rapina com potencial para provocar severos prejuízos.

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