Investimento Direto fraco em junho indica que Brasil está ficando em segundo plano

IDP somou míseros US$ 174 milhões, quando a expectativa era de US$ 2,5 bilhões; BC estima US$ 60 bilhões neste ano mas, se chegarmos a US$ 45 bilhões, já temos motivos para comemorar

  • Por Fernanda Consorte
  • 27/07/2021 15h32
Itaci Batista/Estadão Conteúdo Cédulas de R$50 colocadas em sequência Nos últimos 12 meses encerrados em junho, o total do fluxo cambial foi praticamente zero, vindo de -US$ 30 bilhões em dezembro

Nos últimos 7 dias, pouca coisa mudou no mercado financeiro. O clima de cautela ainda é soberano diante do temor com a variante Delta do coronavírus, o que se soma às dúvidas em relação a política monetária do Fed, o Banco Central do Estados Unidos que, por sinal, se reúne amanhã para decidir a taxa de juros do país. Do lado de cá, o desserviço do governo por meio de falas e anúncios desencontrados segue em ritmo que já nos parece normal. Recentemente, adicionou-se ao nosso risco país a minirreforma ministerial, em que nosso presidente recorre a distribuição de cadeiras ao Centrão para acomodar futuros benefícios partidários, dado que as eleições se avizinham e ele precisa encontrar um partido para ser chamado de seu. 

Ou seja, caros amigos leitores, nenhuma novidade em relação a colunas anteriores. O que chamou atenção nesta manhã foi o resultado dos Investimentos Diretos no País (IDP), que em junho somaram míseros US$ 174 milhões, quando a expectativa do mercado era de US$ 2,5 bilhões. Segundo o Banco Central, o resultado baixo deve-se a saídas líquidas de US$ 2,3 bilhões em operações intercompanhias. Uma queda bastante importante, que elimina a notícia positiva de revisão para cima do IDP em 2020. Na minha leitura, os números mais contidos de IDP só corroboram a ideia de que o Brasil está sendo deixado em segundo plano na decisão de investimentos. Interessante notar que os números de atividade econômica do país não estão exatamente ruins. Temos mostrado resiliência, voltado a patamares pré-crise, tanto que a inflação de serviços está alta. Houve estímulos públicos necessários para evitar uma catástrofe. 

A sempre questão levantada é a fotografia do Brasil, que tem impedido forte fluxo de capital num ambiente de liquidez mundial. Claro que um contexto de cautela no exterior impede ou retém parte dessa liquidez, porém a marca registrada pelos investimentos diretos no nosso país sugere que há um problema maior a despeito dos números de atividade econômica. O Banco Central estima que o IDP deve chegar a US$ 60 bilhões neste ano. Eu acho que, se chegarmos a US$ 45 bilhões, já temos motivos para comemorar. De fato, o fluxo cambial reforça a falta de interesses pelo Brasil: nos últimos 12 meses encerrados em junho, o total do fluxo cambial foi praticamente zero, vindo de -US$ 30 bilhões em dezembro. Contudo, essa melhora deu-se somente à balança comercial; o fluxo financeiro mesmo segue negativo nos últimos 12 meses. E, segundo dados recentes do BCB, o fluxo cambial em julho até o último dia 22 foi bastante negativo (-US$1,1 bilhão), justamente pelo fluxo financeiro. Enfim, reafirmo minha aposta de continuidade de taxa de câmbio desvalorizada aqui no Brasil, pela falta de apetite aos nossos ativos, sejam financeiros ou físicos. Não há novidades em relação a semana passada, não me brilham os olhos os dados positivos de atividade econômica que tem gerado mais inflação. Por enquanto, o retrato do Brasil segue rabiscado no cenário global e, enquanto essa imagem seguir, não haverá investimentos diretos suficientes por aqui. A conta é simples.

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