Quando o ruim é bom: PEC dos Precatórios ao menos dá uma dimensão do prejuízo fiscal em 2022

Há um otimismo do mercado respaldado pela decisão da ministra Rosa Weber, do STF, de negar pedidos para suspender a tramitação do texto

  • Por Fernanda Consorte
  • 09/11/2021 15h16 - Atualizado em 10/11/2021 03h43
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo - 04/11/2021 Arthur Lira em pé, vestido de terno e gravata, usando de máscara branca, cercado por dezenas de microfones, de diversas emissoras Arthur Lira cancelou participação em evento para dedicar esforços na busca de votos para aprovação da PEC dos Precatórios

A expectativa era de que 2021 fosse melhor que 2020, e talvez tenha sido mesmo. Mas nem de perto foi o alívio que imaginávamos, a notar pelos níveis dos preços de ativos brasileiros atuais – US$/R$ 5,50 por exemplo. Agora, já de olho em 2022, antecipo que, enquanto fomos monotemáticos em pandemia durante quase dois anos, em 2022 seremos monotemáticos em eleições. Tudo será ao redor da decisão das urnas em outubro do ano que vem. Períodos eleitorais, por si só, já trazem incertezas. No próximo, vale lembrar que o governo atual quer ser reeleito e, considerando que hoje enfrenta uma rejeição de 63%, é bastante factível esperar medidas populistas, gastos acima do Orçamento (sem contrapartidas), num ambiente fiscal fragilizado.

Essa combinação joga ainda mais ruídos para manter a taxa de câmbio pressionada, deixar a inflação acima da meta e joga para baixo as expectativas de crescimento econômico. Ou seja, piora, e muito, o retrato do Brasil. Porém, nesse meio tempo vivemos de dia a dia. No pregão desta terça-feira, 9, percebe-se a expectativa positiva dos mercados em relação ao avanço da PEC dos Precatórios em segundo turno de votação na Câmara. O otimismo está respaldado pela decisão da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), de negar pedidos para suspender a tramitação do texto, enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira, cancelou participação em evento para dedicar esforços na busca de votos para aprovação e, se possível, com margem tranquila, após o sufoco visto no primeiro turno.

Diferentemente do que se falava há semanas atrás, a aprovação da PEC se mostra como o “menos pior”, dado que, sem ela, o recurso para aumentar e estender o Auxilio Brasil pode vir de gastos extraordinários. Em poucas palavras, a PEC dos Precatórios ao menos dá uma dimensão do prejuízo fiscal em 2022. Acho curioso chegarmos a esse ponto, é quase uma chancela de que não temos mais controle fiscal neste governo, e qualquer coisa menos bizarra é benéfica. Nesse contexto, é factível entender que essa sensação de alívio dos mercados trouxe a taxa de câmbio ainda ao patamar dos famigerados US$/R$ 5,50 — ou um pouco abaixo disso, o que é muito alto.

Outro ponto a se observar nesta semana é o resultado do IPCA de outubro, para eventuais novas calibragens das apostas para a última decisão de juros do ano. Lembrem-se que quanto mais medidas populistas (gastos fiscais acentuados), maior a pressão nos preços. Só não será pior porque o Banco Central já tem agido prontamente, e será um vetor de ajustes de expectativas. Acreditamos que taxa Selic deve voltar para dois dígitos no curtíssimo prazo — esperamos 12% no final de 2022. Ano que vem não será fácil.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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