Como será a gestão das cidades no metaverso?

Governos espalhados pelo mundo estão investindo fortemente na construção de sistemas e dispositivos que simulem aspectos da realidade cotidiana da administração pública

  • Por Helena Degreas
  • 30/08/2022 13h08 - Atualizado em 30/08/2022 14h10
vectorpocket/Freepik Desenho de modelo virtual de futura metrópole Espaços programados no metaverso podem ser controlados, redesenhados, planejados ou projetados para atender as nossas vontades

O metaverso não é um ambiente que pertence a uma empresa, um governo ou um aplicativo que você compra e descarrega no seu celular. Tampouco é um lugar inscrito numa geografia física, pode-se dizer. Ele atua como um sistema descentralizado que apresenta o mundo em três dimensões por meio de imagens em alta resolução. Com o uso da realidade virtual e aumentada (VR e AR) associada, em alguns casos, com a Internet das Coisas (IoT), incorpora outras maneiras com as quais podemos experienciar determinados aspectos da vida cotidiana. O sistema permite a criação de inúmeros mundos e realidades. Quer por meio de um mundo virtual reproduzido a partir da realidade física, quer reconstruído ou criado por novos olhares e demandas, os cidadãos terão acesso a recursos extraordinários para o planejamento das cidades

Os espaços programados no metaverso podem ser controlados, redesenhados, planejados ou projetados para atender as nossas vontades, experiências e interações num mundo virtual síncrono, ligado ao conceito de web 3.0 e que se utiliza de tecnologias blockchain. A economia será movimentada por meio da utilização de tokens que, atualmente, já são utilizados como moedas virtuais para o pagamento de serviços, passagens aéreas, estadias em hotéis e numa infinidade de transações financeiras de todo o tipo. Ou seja: em questão de tempo, a realidade alcançará prefeitos, governadores e demais agentes públicos eleitos ou não.

Alguns escritórios de arquitetura vêm substituindo as maquetes físicas e as eletrônicas por experiências imersivas em que o cliente é convidado a usar wearables como óculos, fones de ouvido e luvas para simular experiências sensoriais em ambientes virtuais. Isolados do mundo físico, os clientes podem se inserir num mundo 3D que envolve uma realidade virtual com sons, movimentos e o que mais tiver sido planejado e projetado para aquela situação. Não seria maravilhoso poder entrar no seu escritório ou na sua casa antes da finalização da obra? Ficção científica? Que nada! No caso das cidades, governos espalhados pelo mundo estão investindo fortemente na construção de sistemas e dispositivos que simulem aspectos da realidade cotidiana da administração pública e de projeto urbano no metaverso como ferramenta que pretende facilitar a compreensão de ações climáticas sobre seus territórios, de reflexos de obras no trânsito, além de emissão de documentos e contas com o objetivo de facilitar a vida do cidadão.

Para implantar o Plano Seoul Vision 2030, o prefeito da cidade de Seul (Coreia do Sul) , Oh Se-hoon, informou que pretende investir cerca de US$ 3,3 milhões no projeto Metaverse Seoul. Dentre as novidades apresentadas, está a criação de uma prefeitura virtual, num esforço para reproduzir, melhorar e ampliar os serviços públicos, o planejamento e a administração local, além de dar suporte ao turismo virtual e ao desenvolvimento de novos negócios a partir dos recursos digitais. Atualmente, os cidadãos já podem criar seus avatares e visitar virtualmente o gabinete do prefeito. Se precisarem, poderão se encontrar no metaverso com os avatares dos funcionários municipais trabalhando em seus guichês que, no fundo, nada mais são, do que espaços virtuais que simulam os espaços físicos. Com mais de 100 mil pontos de acesso público à rede wi-fi e cerca de 95% dos habitantes já conectados aos serviços 4G ou 5G, a cidade investirá na melhoria da infraestrutura com o uso de IA (inteligência artificial) buscando facilitar a conexão entre os cidadãos e os serviços governamentais.

Recentemente, o governo local lançou seu mapa digital 3D, uma réplica digital exata e atualizada da cidade com informações em tempo real sobre fatores ambientais como ventos, ruídos e informações diversas que incluem a topografia, as tubulações subterrâneas de eletricidade, gás e água, as linhas do metrô, do tráfego rodoviário, uma área externa vista de seus edifícios ou mesmo de detalhes que existem em ruas estreitas e pequenos comércios. E para que serve tudo isto? Para colaborar com o cidadão visando ampliar a interação pública nos assuntos da cidade e, consequentemente, melhorar a responsividade urbana. Fico imaginando como será o impacto de grupos sociais reivindicando novas praças, calçadas mais largas e arborizadas quando estiverem imersos nos ambientes virtuais propiciados pelos governos locais antes mesmo de iniciadas as obras? 

Processos de verticalização selvagem, completamente inadequados para a infraestrutura pública pré-existente nos eixos de transformação urbana que vem ocorrendo no meio dos bairros aqui de São Paulo, por exemplo, deverão passar pelo crivo dos habitantes que, utilizando óculos e fones, poderão passear pelas quadras, novos terrenos e uso das calçadas antes do início das demolições, ainda na realidade do metaverso, viabilizando mudanças. Estar imerso na realidade urbana prevista, planejada e proporcionada pelas prefeituras colaborará na compreensão do que o poder público pretende realizar, muito além daquela propiciada pela linguagem hermética contida nos manuais, regulamentações e planos urbanos. Em sala de aula, costumo lembrar aos alunos que a população não é composta por urbanistas e, sim, por pessoas que moram em cidades e que termos técnicos comuns entre profissionais devem ser “traduzidos” para a linguagem corriqueira como meio de aproximação social.

O sistema do metaverso será responsável pela próxima geração de aplicativos desenvolvidos, não apenas para rodar em diversos dispositivos, mas também para atender cidadãos e consumidores cada vez mais exigentes de experiências e vivências em tempo real, permitindo comunicações globais instantâneas, formas de transporte e teletransporte, maneiras de ganhar dinheiro, comprar e pagar produtos e serviços, estudar, trabalhar, reunir-se e socializar-se. Em qual realidade? Virtual, aumentada ou até mista vivenciada em ambiente presencial. Por que não?  

Tem alguma dúvida ou quer sugerir um tema? Escreva para mim no Twitter ou Instagram: @helenadegreas.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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