Lembram-se do ‘blá, blá, blá’ da jovem ativista Greta Thunberg? Vale para a COP27 também

Jargão utilizado para criticar a lentidão nas ações relacionadas à redução do aquecimento global durante a última Conferência sobre Mudanças Climáticas permanece atual

  • Por Helena Degreas
  • 22/11/2022 10h00 - Atualizado em 22/11/2022 17h32
Leonardo Loyolla Coelho/Divulgação Foto de capital do Estado Falta de acordo sobre cortes maiores nas emissões de gases de efeito estufa continuará afetando a saúde e a vida das pessoas em todo o mundo

Entre os dias 6 e 18 de novembro, a cidade de Sharm El-Sheikh, no Egito, sediou a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 27 (Conference of the Parties), com o objetivo de reunir as lideranças dos países que assinaram o Acordo de Paris para discutir e avaliar o cumprimento das metas de redução das emissões de gases do efeito estufa responsáveis pelas mudanças climáticas que vem ocorrendo no planeta. António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), defendeu um Pacto de Solidariedade Climática entre países e instituições financeiras para fornecer auxílio técnico e fundos com o objetivo de acelerar o processo de transição de economias emergentes para o uso de energias renováveis. Um dia após o término do evento e, apesar não haver mudanças mais ambiciosas no objetivo de conter o aumento da temperatura média do planeta abaixo de 2°C, em relação aos níveis do período pré-industrial, foi concluído um acordo composto por uma declaração e uma resolução sobre a criação de um novo fundo para ajudar economias emergentes.

Lembram-se do “blá, blá, blá”? O jargão utilizado pela jovem ativista Greta Thunberg para criticar a lentidão nas ações relacionadas à redução do aquecimento global durante a COP26 permanece atual. A falta de acordo sobre cortes maiores nas emissões de gases de efeito estufa e fim dos combustíveis fósseis como matriz energética predominante das nações mais ricas do planeta, dentre elas Estados Unidos e China continuará afetando a saúde e a vida das pessoas em todo o mundo. Inundações, alagamentos, incêndios, estiagens e calor insuportável são apenas algumas das consequências da discórdia entre governos. Eles poluem, nós padecemos com as agruras climáticas. Simples assim.

Apesar disso, o acordo realizado no domingo pós-conferência pode ser considerado histórico pois prevê a ajuda financeira aos países mais vulneráveis que sofrem os efeitos das mudanças climáticas seguindo a linha de pensamento vigente, conhecida como “perdas e danos”, na qual países que mais emitem gases de efeito estufa, devem reparar os prejuízos causados às demais nações por conta dos efeitos do aquecimento global. Matéria publicada no jornal The Guardian aponta para o surgimento dos refugiados climáticos, aqueles que encontram-se desabrigados ou em processo de “desalojamento forçado”, pode-se dizer, causado pelas consequências provenientes dos extremos climáticos. A matéria acrescenta que empresas de seguro patrimonial têm evitado a realização de coberturas em imóveis localizados em regiões costeiras em função do risco à erosão de nações insulares ou que se encontrem em baixa altitude como é o caso das Maldivas, Tuvalu, Ilhas Marshall, Nauru e Kiribati.

Por volta de 2100, o estudo realizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU aponta que cerca de 600 mil pessoas serão apátridas vez que suas cidades estarão submersas nas águas dos oceanos. No Canadá, cerca de 10% das casas não dispõem de cobertura de seguro pois encontram-se em risco iminente de desaparecer, obrigando os moradores a terem de incluir aspectos climáticos na escolha dos locais para moradia. Greta Thunberg está coberta de razão. Enquanto pessoas perdem suas vidas e patrimônio, fotos postadas em redes sociais por líderes mundiais apresentam um sucesso discutível vez que ações concretas foram deixadas para os próximos encontros.

Se as coberturas oferecidas pelas empresas de seguro patrimonial em território brasileiro optarem por fazer o mesmo, cidades localizadas sobre bordas de várzeas de rios e lagos, em regiões costeiras, sobre alagados ou ainda em regiões com altas declividades estarão, numa tradução “livre”, “inseguráveis”. Gostaria de acrescentar ainda que, todos aqueles imóveis e bairros que, ao longo de secular ausência do Estado do processo de urbanização, foram sendo construídos e produzidos sem a assessoria técnica de arquitetos e engenheiros civis caracterizando-se pela  autoconstrução e autoprodução e que predominam nas paisagens das cidades espalhadas pelo Brasil afora, também estarão no rol dos “inseguráveis”. Pelos resultados da COP27 e pela lentidão de volta de política para buscar um futuro melhor comum entre povos e nações, as seguradoras nacionais e internacionais encontrarão sérias dificuldades para encontrar clientes no futuro próximo.

Se a situação é tão grave como a descrita, como o cidadão pode colaborar? Vamos cobrar dos políticos que ajudamos a eleger ações concretas ao longo de seus mandatos direcionados à redução da emissão dos gases de efeito estufa. Na prática, significa avaliar como seus projetos de lei e como seus votos em seus respectivo estados e cidades impactam no clima. É cobrar do futuro presidente da república, ações coerentes e práticas voltadas ao atendimento das metas que compõem a Agenda 2030. Por sua vez, o Uruguai, país vizinho ao nosso, adotou boas práticas de gestão pública ambiental que levou, no longo prazo, a resultados surpreendentes. A bem-sucedida Política Energética 2005-2030 completou a primeira etapa de transformação com uma média de 97% de energia elétrica consumida pelos cidadãos proveniente de fontes renováveis (45% hidrelétricas, 32% eólica, 17% biomassa, 3% solar e 3% fóssil), ficando atrás apenas da Dinamarca na participação de fontes renováveis diversas. O resultado na economia do país é promissor. Em breve, o governo pretende desenvolver projetos de hidrogênio verde e buscar, por meio de licitação, investidores e fundos interessados em aplicar seus recursos, na empreitada. Terá êxito, certamente.

No Brasil, a matriz energética é limpa e renovável pois provem de hidrelétricas. Segundo análise do Carbon Brief, o Brasil é responsável por cerca de 5% das emissões no período 1850-2021, principalmente por causa do desmatamento descontrolado, nas mudanças no uso da terra como agricultura e pecuária sobre biomas naturais. Se querem gerar mais empregos, nossos gestores públicos precisam entender que empresas e fundos de investimento estão migrando para investimentos em empresas, ações e tecnologias voltadas para uma economia com baixa emissão de carbono. Descarbonização e sustentabilidade são as palavras-chave. Caberá ao próximo mandatário, recolocar a pauta ambiental brasileira no mundo, desfazendo as barbaridades realizadas nos últimos quatro anos de governo Bolsonaro. Tem alguma dúvida ou quer sugerir um tema? Escreva para mim no Twitter ou Instagram: @helenadegreas.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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