O que permanece depois do fim
Entre a finitude e a memória, permanece aceso o amor
Dizem os antigos gregos que o destino é tecido por três irmãs, as Moiras. Cloto fia o fio da vida, dourado e frágil. Láquesis mede seu comprimento, enquanto Átropos, a que decide o fim, corta o fio com precisão. Átropos nos lembra que toda história, por mais bela, termina em silêncio. A finitude é o corte que nos atravessa: o vazio onde antes havia uma voz, o espaço onde o riso fazia morada. Mas o Dia de Finados chega como um sopro de reconciliação. Entre flores que murcham e velas que se apagam, celebramos o que resiste. Quando o fio se rompe, o que resta não é o nada: é a brasa.
É nesse instante que o destino tecido pelas Moiras se encontra com o fogo da Fênix. Se o fio é a vida, os laços que criamos são chama. O amor, a amizade e a memória são como brasas que recusam o apagamento. Mesmo depois do corte, continuam ardendo em nós, como a Fênix que renasce das próprias cinzas.
A Fênix não teme o fim; ela o aceita. Constrói seu ninho de mirra e canela, consome-se em chamas e desperta renovada. Assim fazemos quando lembramos de quem partiu. Cada história contada, cada gesto repetido é uma pequena ressurreição, um modo de dizer: você ainda está aqui. O fio é pessoal, mas o fogo é coletivo. Enquanto houver quem acenda uma vela, leve flores ou apenas feche os olhos em silêncio, o fogo continua. É a forma humana de desafiar o esquecimento.
O Dia de Finados não é uma despedida — é uma conversa. A morte senta-se à mesa conosco, discreta e observa. Entre flores e lembranças, aprendemos que viver é perder, mas também continuar amando o que já partiu. As Moiras podem cortar o fio, mas jamais apagar o fogo. A finitude é o tear; a eternidade, a chama. Entre ambas, sopra o humano — guardião das brasas da memória.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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