Painel publicitário eletrônico vira companhia segura para mulheres em ponto de ônibus
Questões como assédio, integridade física e segurança pública da população vulnerável não se limitam apenas ao design e à instalação de um abrigo
Nossas cidades estão em constante mudança, criando o ambiente ideal para debatermos projetos transformadores e seus impactos econômicos, sociais, políticos e ambientais. É importante discutir as oportunidades que a inclusão e a transformação digital podem trazer nos processos de design urbano, promovendo novas formas de cidadania ativa como diretriz para a inovação, inclusão e desenvolvimento social. Nas colunas anteriores, destaquei o papel das ferramentas digitais no empoderamento dos cidadãos, fornecendo-lhes as condições necessárias para participarem das decisões que visam combater a discriminação, a exclusão social e as desigualdades. Ao percorrer nossas cidades a pé, de bicicleta ou utilizando o transporte público, é possível constatar que prefeitos e vereadores ainda estão distantes de promover ações voltadas à inclusão de grupos vulneráveis, em especial as mulheres que residem em regiões periféricas. Um simples olhar para um ponto de ônibus é suficiente para entendermos a falta de qualificação dos espaços públicos para abrigar esse tipo de mobiliário urbano. Não basta apenas sua existência, é necessário planejar e projetar uma série de elementos visando ao bem-estar dos cidadãos, como acesso e conectividade com outros meios de transporte, abrigo e proteção contra as condições climáticas, além de informações claras e atualizadas sobre itinerários, horários de chegada e partida dos ônibus, mapas e sinalização de emergência.
A segurança do usuário é um aspecto essencial tanto no mobiliário urbano para o transporte coletivo quanto naquele voltado à mobilidade ativa. Questões como assédio, integridade física e segurança pública da população vulnerável não se limitam apenas ao design e à instalação de um abrigo de ônibus. Cidades como Cidade do México (México), Barcelona (Espanha), Cingapura, Seul (Coreia do Sul), Londres (Reino Unido), Nova York (Estados Unidos), Amsterdã (Holanda), Tóquio (Japão) e Estocolmo (Suécia) têm explorado o uso de ferramentas digitais e a gestão de Big Data para melhorar a interação com os cidadãos e oferecer serviços mais eficientes. Essas cidades implementaram redes de Wi-Fi público em áreas de grande circulação, desenvolveram aplicativos móveis oficiais da prefeitura para acesso a informações sobre serviços públicos, eventos, notícias e denúncias, e disponibilizaram totens de autoatendimento equipados com telas sensíveis ao toque em locais movimentados da cidade. Essas inovações permitiram que os cidadãos realizassem serviços como pagamento de contas, emissão de documentos, consulta de informações públicas e agendamento de serviços de forma mais conveniente.
Recentemente, surgiu um projeto publicitário chamado “Abrigo Amigo” (The Guarded Bus Stop), desenvolvido pela AlmapBBDO e Eletromidia, que aborda a prevenção e coibição da violência enfrentada pelas mulheres em áreas públicas. Esse projeto, que recebeu o prêmio Leão de Ouro em Cannes, utiliza uma tecnologia digital amplamente conhecida. Ao substituir os painéis eletrônicos convencionais por painéis digitais interativos, as empresas identificaram pontos de ônibus nos quais as mulheres se sentiam mais vulneráveis durante a noite. Por meio de um simples toque na tela, uma janela de vídeo em tempo real se abre, permitindo que a mulher converse com uma colaboradora da empresa, que a acompanha até a chegada do ônibus. Essa solução, implementada entre as 22h e 6h, contribui para reduzir o estresse causado pela percepção de insegurança. Os painéis digitais também são equipados com sensores de presença, microfones e câmeras noturnas. A presença de uma pessoa real, mesmo que em formato digital, associada à câmera de monitoramento, pode dissuadir ações criminosas e auxiliar na identificação de pessoas em caso de incidentes.
É fundamental que os gestores públicos, como prefeitos, vereadores e demais técnicos, compreendam que, ao planejar para as mulheres, estamos planejando cidades para todos aqueles pelos quais elas são responsáveis, como filhos, idosos e demais pessoas com as quais possuem laços afetivos ou comunitários. Que o reconhecimento recebido pelo projeto publicitário Abrigo Amigo sirva de inspiração para prefeitos e cidades desenvolverem propostas e ações que considerem os diversos usos que as pessoas fazem do espaço urbano. A inovação, a inclusão e a segurança devem estar no cerne dos projetos urbanos. Ao utilizar as ferramentas digitais, podemos criar cidades mais acessíveis, justas e seguras para todos os cidadãos. O momento é propício para explorar essas possibilidades e transformar nossas cidades em lugares mais acolhedores, seguros e inclusivos. O futuro urbano está em nossas mãos, e é nosso dever construí-lo pensando em cada pessoa que habita e utiliza esses espaços.
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*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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