Lula acerta ao cravar que Bolsonaro vai preso se não se reeleger 

Não basta vencer a eleição, o presidente precisa formar uma base parlamentar sólida, principalmente no Senado; terá problemas se não conter e neutralizar a sede de poder da juristocracia

  • Por Jorge Serrão
  • 11/05/2022 13h16 - Atualizado em 11/05/2022 13h18
Isac Nóbrega/PR - 07/05/2022 Bolsonaro é tietado por centenas de apoiadores, que levantam as mãos e apontam os celulares para o presidente O presidente Jair Bolsonaro recebe o apoio popular durante Feira Nacional da Soja, em Santa Rosa (RS)

Do alto de sua arrogância e insegurança (pois a má vontade de disputar é tão grande quanto a insegurança de perder a eleição), o pré-candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva fez uma ameaça sombria para seu principal rival e inimigo Jair Messias Bolsonaro (sério candidato à reeleição): “Não adianta desconfiar da urna, o que você tem, na verdade, é medo de perder as eleições e ser preso”. Pergunta: Deve ser considerado como risco concreto ou ressentimento a declaração de quem ficou 580 dias preso, mesmo que com mordomias na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, sob acusação de corrupção? Certamente traumatizado pela privação da liberdade, Lula não deveria desejar o mesmo para Bolsonaro. Acontece que, como diria o falecido Leonel Brizola, “Lula é um sapo barbudo capaz de tudo, até de pisar no pescoço da mãe para conseguir o que deseja”. Conseguiu ser solto no dia 8 de novembro de 2019, um dia após o Supremo Tribunal Federal ter considerado a prisão em segunda instância inconstitucional. Também obteve do mesmo STF uma “graça juristocrática”: a recuperação dos direitos políticos com a “descondenação” dos processos na Lava Jato. Lula não foi inocentado, mas reabilitado para fustigar Bolsonaro até uma terceira via aparecer. Como o plano (ainda) não deu certo (e pode nem dar), ele segue cumprindo o sacrifício partidário, fazendo campanha para uma massa ausente, enquanto as pesquisas lhe colocam como “líder”.

Uma dúvida: O risco de prisão para Bolsonaro é real, caso ele não vença Lula (ou, como refletiria, dialeticamente, a Dilma Rousseff, perca a eleição)? Claro que é! Dessa vez, Lula tem alguma razão! Afinal, não se pode subestimar a capacidade da cleptocracia, da juristocracia e da “Gestapo” (o famoso Mecanismo) a serviço das coisas e pessoas erradas no Brasil). Sem a poderosa caneta (esferográfica) que assina o que vai para o Diário Oficial da União, fora da “cadeira elétrica” (ou trono) do Palácio do Planalto e despejado do Palácio da Alvorada, sem nenhum mandato e foro privilegiado, Bolsonaro se transforma em um reles mortal, um alvo fácil dos inimigos que não engolem a primeira eleição milagrosa e que prometem fazer o diabo para impedir a reeleição (que a cada passo político se torna mais concreta em função do aumento das articulações e apoios, principalmente o popular). Se ficar fora do poder, Bolsonaro pode acabar processado e preso por qualquer motivo que lhe imputarem. A Justiça é cega, mas a juristocracia enxerga com toda maldade, crueldade e sede de vingança.

O establishment não perdoa Bolsonaro, porém pode até ser forçado a suportá-lo, novamente — temporariamente, caso a reeleição se efetive. A prioridade de Bolsonaro não é só continuar no poder. Na eleição de 3 de outubro de 2022, ele só tem a alternativa de conseguir formar uma base parlamentar com melhor qualidade e consistência para lhe dar sustentação política. Será muito arriscado ser obrigado a repetir acordos com uma turma tão volúvel e volátil quanto o chamado “Centrão” do Congresso Nacional. Junto com a maioria de deputados, Bolsonaro necessita de uma maioria qualitativa e quantitativa de senadores. A maioria esmagadora dos novos 27 eleitos precisa ser de políticos comprometidos com mudanças estruturais e, acima de tudo, coragem para enfrentar o maior problema político brasileiro: recuperar o equilíbrio institucional na relação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Mais especificamente, a missão mais espinhosa é contar com uma tropa expressiva de senadores que seja capaz de conter ou neutralizar os excessos de autoridade cometidos por membros do Supremo Tribunal Federal. A missão é (quase) impossível. E Tom Cruise não é candidato…

A campanha eleitoral, que promete ser a mais polêmica e radicalizada da história, começou antecipadamente. Até julho, definem-se todos os personagens do jogo, suas articulações e coligações partidárias efetivas. Bolsonaro leva vantagem porque tem a máquina, a base aliada e muitas realizações concretas para mostrar. A esperada melhora no resultado e na percepção da economia ainda será decisiva para (re)conquistar apoios perdidos na classe média, em função do desgaste natural de qualquer governo. Não foi à toa que Bolsonaro mexeu no comando do Ministério das Minas e Energia, em função dos repetidos e inflacionários reajustes de combustíveis praticados pela Petrobras. Por outro lado, o presidente enfrenta a maior covardia midiática do planeta, junto com ataques de um sistema oligárquico feudal que ameaça até prendê-lo (se perder o poder). O prejuízo não fica maior porque a oposição segue refém de velhas ideias ideológicas e se mostra perdida, sem proposta concreta para melhorar o Brasil e promover o crescimento & desenvolvimento. Apesar disso, a campanha de marketing de guerra contra Bolsonaro seguirá truculenta, desleal e repleta de mentiras, bem ao gosto da esquerdopatia.

A juristocracia segue reacionária contra qualquer crítica à segurança do sistema eleitoral. Na prática, não tem como reverter a derrota parlamentar pela rejeição do voto impresso pela urna eletrônica. Grande parte da base de apoio do bolsonarismo e até muitos militares (inclusive na ativa) alimentam críticas à falta de transparência do sistema. Mas pode surgir uma novidade no front. Surge um movimento nas redes sociais em favor da “contagem pública de votos”. A ação é alimentada pela apresentação do Projeto de Lei 943/2022, de autoria do deputado federal Celso Russomano (Republicanos-SP), da base aliada do presidente. Se for aprovado por decreto, com urgência, pode ser implantado ainda nesta eleição o sistema que “institui o escrutínio público de votos e veda o exercido no voto na modalidade exclusivamente eletrônica”. A missão parece quase impossível, tanto para ser aprovada tão depressa quanto para ser implantada pelo reacionário Tribunal Superior Eleitoral. Mas a polêmica tem tudo para incendiar ainda mais o ambiente eleitoral.

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