Voto auditável, que bicho é esse?

Neste 1º de agosto, ruas cheias gritaram para que se tenha uma maneira de auditar o voto de cada eleitor, o que só é possível se houver uma prova física

  • Por José Carlos Bernardi*
  • 03/08/2021 18h24
Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo - 04/11/2020 Sala com mesa cheia de urnas eletrônicas que seriam usadas nas eleições Presidente Jair Bolsonaro e apoiadores do governo federal lutam para que seja implantado o voto impresso nas próximas eleições

Quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao fazer a defesa das urnas eletrônicas, diz que o voto já é impresso no tal Boletim de Urna, a justiça faz uma grande declaração: as urnas eletrônicas possuem uma impressora. Ora, se imprimem o boletim, eu pergunto: qual a dificuldade de se acoplar um visor de acrílico e a urna física para depositar o sagrado voto do eleitor brasileiro? Só preciso esclarecer que o Boletim de Urna não é o voto do eleitor, mas a apuração de todos os votos daquela sessão eleitoral, com todos os resultados. Isso significa que a apuração parcial é feita na hora de fechar o dispositivo e, depois, aqueles números são enviados ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral), que por sua vez envia-os ao TSE.

O Boletim de Urna, por si só, é a apuração. Na sala cofre do TSE, em Brasília, se somam todas as urnas para dar o resultado final. Então, onde está o problema da desconfiança do eleitor e a ginástica do TSE para provar a lisura de todo o processo? A resposta é muito simples: quando o eleitor digita seu voto, num exercício totalmente secreto, o programa da urna é quem faz a computação do voto e armazena os dados que são impressos no final do dia. O problema é que ninguém tem acesso real entre o momento que o eleitor digita os números, aperta a tecla verde de confirma e o que realmente é gravado no software da urna.

O que as ruas cheias gritaram neste primeiro de agosto foi que se tenha uma maneira de auditar o voto de cada eleitor. E, para que isso seja possível, só há um jeito: que no momento da votação se tenha uma prova física. Isso só é possível com o voto impresso, em que o eleitor confere se foram aqueles candidatos que ele escolheu e aí, numa segunda confirmação, o seu voto vai para a urna lacrada, sem que ele sequer toque no papel de confirmação. Caso haja algum recurso judicial ou suspeita de fraude, ou até mesmo um candidato não satisfeito com os resultados, as urnas com os votos impressos são abertas e, de forma transparente, sem nenhuma desconfiança, são escrutinadas aos olhos de todos, apagando de vez qualquer dúvida. Qual a dificuldade de entender o que o povo, que é soberano, quer? Não há nenhum bicho de sete cabeças nesse processo, a não ser que se tenha uma intenção de que os bichos continuem com suas sete cabeças cobertas por uma nuvem escura de desconfiança sob interesses escusos e não democráticos.

* José Carlos Bernardi é jornalista, cristão, empreendedor social e comentarista político. Passa a escrever semanalmente no site da Jovem Pan. 

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