Após discurso de Lula, possíveis candidatos do Centrão para 2022 foram pulverizados

Discurso de campanha do ex-presidente não passou despercebido para nenhum setor da política; diante da nova realidade, as forças começam a se mexer

  • Por José Maria Trindade
  • 11/03/2021 11h30
REUTERS/Amanda Perobelli/File Photo/23.11.2020 Lula segurando máscara vermelha e sorrindo Nesta quarta-feira, ex-presidente Lula discursou para a imprensa e disse ser vítima da 'mentira jurídica da história'

Lula entrou no grupo de candidatos. O atual administrador, Jair Bolsonaro, sentiu a pressão, mas aceita e o jogo é reiniciado. O debate mudou de linha, saem palavras gastas como homofóbico, ditador, fascista e misógino. A linha agora da discussão política é vacina, trabalho, pão com manteiga e picanha. O ex-presidente sabe o que está falando, conhece o discurso popular e domina as técnicas de persuasão. O presidente Jair Bolsonaro também é do ramo. Fala diretamente ao eleitor, conhece a realidade e é bom de briga. Esta polarização abriu o debate para as eleições de 2022, não falta mais nada. A primeira consequência desta nova situação é que os possíveis candidatos do centro foram pulverizados. Visivelmente reduzido em movimentos, o momento aponta para uma repetição das últimas eleições nas quais este discurso de centro, dos “muralistas”, obteve um pouco mais do que 10% dos votos. A realidade leva grupos que estavam flutuando à volta aos antigos postos. Isto facilita as conversas de bolsonaristas com integrantes do PSL. Reassenta grupos que estavam estudando a possibilidade de novas aventuras em partidos de centro na chamada “grande avenida central” e aponta para a pergunta que incomoda: “De que lado você está?”. 

O Centro não aprendeu com a grande lição das urnas. É a maioria, mas não se une e os egos não cabem no mesmo ambiente, mesmo que seja uma praça aberta do tamanho do Brasil. São pessoas que falam uma língua especial, técnica e engomada, que passam artificialidade, e longe das ruas e praças onde estão falando de ladrões de dinheiro público contra ditadores e pulso firme nas decisões. Este é o debate que o eleitor entende e não adianta dizer que a política é mais profunda. A aproximação dos políticos com a massa é agora um sinal de sobrevivência. Acabou o tempo do político do tapinha nas costas que perguntava “como vai seu pai”, sem saber quem era e nem se era vivo, uma piada antiga. É preciso ter postura e posição. O meu pai, vereador experiente lá em Minas, em Medina, dizia que “o pior lugar para um político é aquele em que o eleitor não sabe de que lado ele está”.

Lula tem o direito de fazer o discurso. O presidente Jair Bolsonaro está repleto de razão em apontar os erros e mentiras da plataforma falsa do candidato. Com a palavra agora a opinião pública. De um lado quem já mostrou a sua face de negociar tudo que significa dinheiro público. Mensalão e Petrolão são as grandes obras inconclusas dos governos do PT, o último interrompido por pura desintegração por estar podre. Inconclusas, já que o Supremo não prendeu o chefe no mensalão e o ministro Edson Fachin resetou os processos e condenações de Lula com viés de implosão dos resultados da maior investigação da história, dos poderosos que dominam o país.  Do outro lado está o presidente que enfrenta uma crise sem precedentes na saúde, que atinge diretamente o coração da economia. O governo que mudou a cara e fugiu dos domínios políticos para se transformar em massa de manobra para alimentar partidos tradicionais. A inércia na política é uma força muito grande e esta barreira está sendo enfrentada pelo governo. A política anda e não há regras que possam transformar capetas em anjos, nem no mundo esquisito da política.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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