Após indicação de sua cota pessoal, Lula parte para a negociação de outros cargos com partidos políticos

Petistas dão indícios de que o novo governo terá 32 ministérios, com os primeiros 100 dias controlados passo a passo

  • Por José Maria Trindade
  • 09/12/2022 17h15 - Atualizado em 09/12/2022 19h57
Mateus Bonomi/Agif/Estadão Conteúdo Fernando Haddad, ministro da Economia, Flávio Dino, ministro da Justiça, Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito, o recém-eleito vice-presidente Geraldo Alckmin, candidato à Presidência Rui Costa e ministro da Defesa o candidato Jose Mucio posa para uma foto após uma coletiva de imprensa no prédio do governo de transição Primeiros ministros do próximo governo foram anunciados nesta sexta-feira, 9

O grupo de transição prepara o relatório final para dar base ao presidente eleito, com críticas duras contra o governo de Jair Bolsonaro. “Um governo de corpo grande e cabeça pequena”, segundo Luis Inácio Lula da Silva, ao confirmar os nomes dos seus primeiros cinco ministros. É a chamada cota pessoal do presidente e vai funcionar como o “núcleo duro”. A indicação do governador da Bahia, Rui Costa, foi importante. Ele será o poderoso do governo. O trabalho de Lula é delegar, e a Casa Civil é uma espécie de gestora. Terá a função, inclusive, de cobrar dos colegas ministros. Costa tem personalidade forte, é economista e, apesar de ter passado pela Câmara dos Deputados, ficou conhecido na política em Salvador. Desde o início do processo de transição, apareceu como nome forte do governo. Ainda ocupa seu cargo na Bahia. Não renunciou para se candidatar ao Senado, por dificuldades de aglutinação de apoio interno. É o responsável pela votação de Lula no Estado.

Flávio Dino vem da magistratura. Ex-juiz federal, foi deputado federal e governador eleito e reeleito pelo Maranhão. Desbancou a tradicional hegemonia da família Sarney. Nesta última eleição, foi eleito senador. Perfil de esquerda, terá uma missão delicada: promover reformas na Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal. Nas discussões internas, este foi o ponto mais avaliado. Não será criado imediatamente o Ministério da Segurança Pública. Fernando Haddad terá o controle da economia. O superministério criado para Paulo Guedes deixa de existir e será fatiado entre Orçamento e Incentivo à Indústria e Empresas. Na Fazenda, Haddad, nomeado, dá a indicação de que o verdadeiro mentor da economia será Lula. Isso assusta o mercado pelo perfil gastador e pouco ligado ao rigor fiscal. Muitos entendem que nos primeiros meses haverá um controle rígido da economia. Para quem saiu da Prefeitura de São Paulo mal avaliado e não reeleito, foi um pulo político alto. 

José Múcio Monteiro vai comandar as Forças Armadas. Uma tendência mundial de que os militares sejam chefiados por um civil, mas houve um cuidado grande nesta nomeação. Os comandantes não aceitaram o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF). Seria, segundo generais, uma espécie de intervenção do Supremo. O primeiro e mais importante passo já está concluído, a escolha dos novos comandantes. O critério foi a antiguidade, que para os militares é posto. O Itamaraty será ocupado pelo diplomata Mauro Luiz Vieira. Embaixador, ex-ministro de Relações Exteriores, atualmente presta serviço na Embaixada da Croácia. Conhecido na diplomacia, terá uma visão mais comercial das relações externas. Uma mudança de critérios, e a sua experiência vai levar o Brasil a se aproximar muito mais dos vizinhos aqui da América do Sul e relações novas com Argentina. O primeiro trabalho dele a partir de agora será a aproximação do governo Lula com o governo Biden. O encontro dos dois presidentes será a senha para as novas relações. 

Os cinco ministros indicados agora formam o perfil do novo governo. Este é o chamado núcleo duro do poder. Na política, se diz aqui que é a cota pessoal do presidente eleito. Os outros cargos serão negociados com a participação dos partidos políticos. O próprio Lula está negociando esta parte mais ampla da nova gestão. A indicação é de que será um governo de 32 ministérios. Os primeiros 100 dias serão controlados passo a passo. Nesta primeira leva de indicações, faltou a determinação clara da participação do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, o coordenador deste processo de formatação do novo governo.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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