Arquivamento do impeachment de Moraes surpreende pela rapidez de Rodrigo Pacheco

Aliados de Bolsonaro sabiam que o pedido entregue ao Senado seria engavetado, só não contavam com a agilidade do presidente da Casa

  • Por José Maria Trindade
  • 26/08/2021 13h31
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Marcos Brandão/Senado Federal - 25/08/2021 Com alguns microfones colocados em um púlpito, Rodrigo Pacheco dá entrevista no Senado Federal Rodrigo Pacheco é o atual presidente do Senado Federal

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, surpreendeu e agiu rapidamente no arquivamento do pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Mais ágil do que previa o presidente Jair Bolsonaro. Não é qualquer pedido, mas um protocolo que tem como autor o presidente da República. O grupo situacionista esperava mais tempo para o debate e possibilidade real do assunto ser decidido no plenário, com discussões fortes, votação e desgaste do Supremo. Em política, não são raras as vezes em que, quando se perde, na verdade se ganha em imagem. Este é o caso, o presidente jogou para a sua plateia. Deu ânimo à militância e combustível para manifestações públicas, como a de 7 de setembro. Só que a oposição sabia disso e entrou em campo para tirar lucro na disputa. Primeiro passo: se valorizar perante ao STF, tentativa concluída com êxito. A turma do “pode deixar comigo” funcionou, e alguns senadores formaram uma espécie de base parlamentar da Corte no Congresso. Uma novidade nas relações institucionais por aqui. Por outro lado, agiram para o arquivamento e tiraram parte importante da pauta da manifestação convocada para o 7 de setembro.

Se Rodrigo Pacheco sofre desgaste no Palácio, ganha com aliados no Senado. Chamou a responsabilidade para a presidência da Casa, jogou o requerimento do presidente Bolsonaro no arquivo e fez questão de fazer o pronunciamento diante da imprensa, assumindo a decisão tomada em conjunto nos bastidores. Foi de caso pensado. Senadores demonstraram incômodo com a situação que havia sido apresentada após o pedido. Seria um desgaste certo defender o impeachment, ficando ao lado do presidente e se desgastando com a Corte que julga parlamentares. Famosa situação de “entre a cruz e a espada”. Ao arquivar logo, Pacheco tira o debate do Congresso e esvazia parte importante do objetivo da manifestação convocada pelos aliados do presidente Bolsonaro para 7 de setembro. 

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, reclama que a atividade política está sob ataque virtual. Segundo ele, nos dias próximos a votações importantes, o ambiente virtual se transforma em inferno. Diz Lira que recebe reclamações de parlamentares sobre ataques de todos os lados, via mídias, sobre o voto em plenário. Rodrigo Pacheco também reclama do ambiente virtual e decidiu fechar suas redes sociais, as do Senado e as do Congresso. Os gritos não serão vistos oficialmente nem repercutidos. Contra essa estratégia da cúpula do Senado está a articulação de senadores para apresentar requerimento com mais de 70 assinaturas para levar a decisão do pedido de impeachment para o Senado. O regimento fala em um décimo dos 81 senadores, em cinco dias úteis, para que um projeto rejeitado em fase de comissão seja levado ao plenário. O recurso está sendo avaliado, mas os próprio senadores dizem que se Rodrigo Pacheco negar, a apelação cai de novo no Supremo, que mandou instalar a CPI da Pandemia, mas que fatalmente negaria a avaliação do impeachment. A guerra é perdida, mas a estratégia da derrota é a que está em jogo.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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