Articulações para o Congresso abrem o caminho de Bolsonaro para 2022

Com aproximação com o Centrão e vitórias de Arthur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco (Senado), presidente implode a força que estava se formando contra ele

  • Por José Maria Trindade
  • 03/02/2021 14h25
  • BlueSky
Gabriel Biló/Estadão Conteúdo O presidente Jair Bolsonaro recebe Athur Lira, presidente da Câmara, e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado

A eleição de Arthur Lira para a presidência da Câmara dos Deputados e a de Rodrigo Pacheco para o Senado mudaram o panorama político para 2022. O presidente Jair Bolsonaro reforçou laços e interrompeu canais importantes que seriam abertos contra ele na disputa pela reeleição. A aproximação com o Centrão não traz apenas o seguro contra o impeachment, mas reafirma que o governo quer dividir o poder com quem criticava duramente durante a campanha. Resumindo: o presidente entrou no grupo. A política aceitou e já faz novos planos. O grande alerta apareceu com o reposicionamento do DEM. O presidente do partido, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, sempre se manteve distante de Bolsonaro, mas nunca na posição de adversário. Depois da divisão interna que acabou no abandono ao ex-presidente do partido e ex-presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia, os articuladores já estão refazendo os cálculos.

Esta era uma via política importante que estava aberta até agora e não se resume ao DEM. Seria a chamada “avenida do centro”, sonhada por todos os candidatos que tentarão derrotar Jair Bolsonaro. Foi uma jogada importante do grupo do presidente, segundo analistas políticos. “O sem querer, querendo”  funcionou. Além de abrir um leque importante, Bolsonaro conseguiu o que seria um grande desafio: abrir uma nova linha de apoio político sem perder o original. Não há no horizonte reações fortes entre os puristas bolsonaristas. Nenhuma divergência ou manifestação dos que estariam dispostos a abandonar o governo depois deste acerto com o famoso Centrão.

Não é só o governador João Doria que deve refazer os cálculos, a nova geografia política impõe nova avaliação por parte do PT, que vê o isolamento rondando a sua linha política. O MDB está também solto e empurrado para o adversário, que ainda é incerto. Com esta articulação — que, se não foi projetada pelo presidente Jair Bolsonaro, passou muito perto do Palácio do Planalto —, o jogo foi reiniciado. O grupo que estava se unindo para se estabelecer como oposição deixou de existir. O deputado Rodrigo Maia, agora na “planície”, está nu, mas já entrou no projeto de recuperação.

Se arrependimento matasse, Maia seria um finado político com carimbo na testa, o de ex-presidente da Câmara. Perdeu a chance política de infernizar o país (ele se acostumou a fazer isso) com um processo de impeachment. Perdeu o tempo, o momento político exato passou, e não valeria a decisão de última hora, o limpar das gavetas. Se tivesse assinado a abertura do processo nos últimos dias, ficaria pior. Deixaria claro que se tratava de raiva, rancor e desespero. Ele tinha a certeza de que seria reeleito e guardaria esta bala de prata para o quarto mandato. Depois do impedimento decidido pelo Supremo, o deputado do DEM ainda continuou altivo. Tinha a certeza de que elegeria um poste na Câmara e, mais do que isso, formaria um bloco partidário que dominaria a Mesa Diretora, as comissões permanentes e futuras CPIs. Tudo foi por água à baixo. Ainda bem. A arrogância é mesmo a véspera do fracasso. 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.