Bolsonaro faz andanças pelos Estados, e Lula trabalha líderes regionais e forma palanques

Polarização já está configurada, segundo líderes importantes de Brasília; no próximo mandato, o Congresso ganhará importância maior e quem dominá-lo comandará o futuro governo

  • Por José Maria Trindade
  • 21/06/2021 12h56 - Atualizado em 21/06/2021 14h19
Montagem Jovem Pan- Isac Nóbrega/PR/Werther Santana/Estadão Conteúdo Jair Bolsonaro e Lula Bolsonaro e Lula traçam estratégias para a corrida presidencial de 2022

No início da disputa com Paulo Maluf pela Presidência em eleição indireta, o então governador de Minas Tancredo Neves trabalhou pelas bases partidárias e ficou otimista com os números de votos conquistados. Numa das conversas, foi alertado pelos jornalistas de que Maluf sempre ganhava as disputas e ele respondeu, irônico, que ele nunca tinha enfrentado “um profissional”. Tancredo ganhou no plenário da Câmara, numa aliança com a Frente Liberal que apresentou José Sarney como vice e que acabou assumindo cinco anos de governo, exatamente a gestão de transição. O ex-presidente Lula quer repetir a façanha e adotar o “profissionalismo” político para ganhar do presidente Jair Bolsonaro, que ainda não perdeu eleição. 

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro faz andanças pelos Estados, inventou a ‘motociata’ e busca a aclamação como método, o ex-presidente Lula já trabalha os líderes regionais e forma importantes palanques. A polarização já está configurada, segundo líderes importantes de Brasília. O próprio presidente Jair Bolsonaro aposta neste segundo turno antecipado e alerta que “só existem dois lados da moeda: ou cara ou coroa”. A situação agrada aos dois, mas é um muro para os chamados partidos de centro. Representantes de sete partidos se reuniram, mas saíram sem um candidato minimamente competitivo para a disputa no ano que vem. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, um dos integrantes deste chamado centro, nem participou do encontro. O que está em disputa agora é o Congresso e é por isso que os partidos tentam aumentar a participação na disputa. 

A estratégia “profissional” de Lula é formar os palanques regionais. Candidatos nos Estados estão avaliando as chances eleitorais. Este é um momento importante para os deputados, senadores e governadores. Medir a força dos partidos e dos candidatos é fundamental. A certeza é de que no próximo mandato, o Congresso ganhará importância maior e quem dominar Câmara e Senado dominará a política, ou seja, o futuro governo. As costuras políticas já estão adiantadas. O PSB é a grande disputa e já dá sinais de que vai para a esquerda, com a filiação do governador do Maranhão, Flávio Dino, que sai do PCdoB. Em Pernambuco, o prefeito de Recife, João Campos, é a aposta do PT. Ele é filho do ex-governador Eduardo Campos e bisneto do ex-governador Miguel Arraes. O PSB de Pernambuco tem forte predominância nas decisões nacionais como esta de apoiar um candidato à Presidência. O candidato do PDT, Ciro Gomes também disputa a preferência do PSB. O MDB no Nordeste também flerta com Lula e no Ceará o palanque já está praticamente pronto. 

O ex-presidente Lula e seu grupo já estiveram aqui em Brasília, percorreram Estados do Sudeste. O alvo agora é o Nordeste. Não se trata de movimentação popular, mas um trabalho de bastidores. Os deputados e candidatos fazem as contas para que lado vão e o interesse é a eleição e reeleição. Desta forma, grande parte do apoio do presidente hoje no Congresso estará contra ele na campanha. O Centrão está dividido. O presidente Jair Bolsonaro é um candidato tipicamente fora dos partidos. O movimento do governo é de revoada partidária. Perto de 30 deputados vão para o partido que o presidente escolher, provavelmente o Patriota. Será o esvaziamento do PSL. Para se ter uma ideia, o líder do partido, deputado Vitor Hugo já antecipa que vai deixar a sigla.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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