Gabinete paralelo não significa nada, só que Bolsonaro ouve todos os setores antes de agir

Quando se reúne com empresários ou participa de conselho, não é um poder à parte, mas o gestor avaliando decisões importantes a serem tomadas

  • Por José Maria Trindade
  • 31/05/2021 15h04 - Atualizado em 31/05/2021 15h16
CLÁUDIO MARQUES/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Bolsonaro discursando em ato Bolsonaro em manifestação de apoio ao seu governo em Brasília, no dia 15 de maio

A solidão do poder maltrata e afasta o dirigente da realidade. Em Cem Anos de Solidão, Gabriel Garcia Márquez relata formas de estar sozinho que aparentemente são confortáveis, mas que, na prática, ferem e fazem as vítimas fugirem da realidade. A solidão da beleza escraviza. Imagine a dificuldade de uma bela ou um belo na escolha dos seus amores e insegurança do milionário a definir os seus amigos e não aproveitadores. O poder também enclausura e, por aqui, os presidentes da República sempre são isolados no Palácio da Alvorada. Passam a gestão com grupos pequenos de interlocutores e vendo emas pastarem nos amplos jardins. O Palácio é grande, impessoal e cercado. Mais de 200 seguranças convivem com a família do presidente de plantão. Todos os ex-presidentes reclamaram do ambiente. 

O presidente Jair Bolsonaro não é exceção. Difícil ficar à vontade com tantos desconhecidos rondando ao redor. A diferença é que o presidente está rodando o país e foge da marcação pesada. O álibi é a moto. Nas voltas pelo Distrito Federal, o presidente conversa com populares, sente o clima das pessoas sem relação com o poder e se humaniza. Isto não é gabinete paralelo, mas ‘de volta para a realidade III’. Um gabinete popular, que não é paralelo. Um amigo de longa data do presidente Jair Bolsonaro aconselhou a abertura do Palácio. A ideia era fazer reunião com amigos, receber pessoas de fora do governo e fazer o ambiente frequentado. No início foi assim, mas o jeitão Bolsonaro prevaleceu e ele sai por aqui comendo pastel, cachorro-quente e frango assado.

 

O relator da CPI da pandemia do Senado, que investiga a cloroquina, senador Renan Calheiros, diz que já tem provas de que o presidente despacha com interlocutores importantes na gestão da saúde, o tal gabinete paralelo. Os “independentes” da CPI concluíram e documentaram finalmente que o presidente Jair Bolsonaro está trabalhando. Esta é a principal atividade do gestor: ouvir e decidir. Quando se reúne com empresários, ou participa do conselho, não é poder paralelo, mas o gestor avaliando decisões importantes a serem tomadas. Isto não significa isolamento do ministro da Economia, Paulo Guedes. Na Saúde é a mesma coisa. O presidente ouve representantes de setores, profissionais e o auxiliar oficial, o ministro da Saúde, para tomar decisões. O ministro manipular o presidente ou obrigar o presidente a ir em atos seria mais ou menos como o rabo balançar o cachorro e não o contrário. Portanto, o tal gabinete paralelo não significa nada, além da confirmação de que antes de agir o presidente ouve todos os setores, o que é positivo. Seria crime se houvesse vantagens pessoais diante de decisões do governo e neste setor, a CPI não encontrou nenhum indício.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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