China rouba tecnologia brasileira e leva nossas sementes para a África
As sementes xing ling já estão na África e os investimentos são altos para criar uma frente que pode derrotar o Brasil com a nossa própria tecnologia
As quinquilharias chinesas que invadiram o mundo escondem um sistema pesado, técnico e organizado. Não há cidade que não tenha o seu centro de produtos chineses. Baratos, sem qualidade comprovada e com consumo em alta, as feiras se popularizaram em todas as capitais. Aqui no Distrito Federal a Feira do Paraguai mudou o nome para Feira dos Importados, mas continua vendendo as eternas novidades da China. A feira agora dominada por coreanos tem o forte na venda de óculos e bolsas genéricas. Nem mil operações conseguem tirar os falsificados das bancas. O sistema é organizado e se amplia. A novidade agora é a semente xing ling. Isto mesmo, os chineses roubaram os segredos das nossas sementinhas e investem pesado na África. Produtos top de linha com alta tecnologia estão agora nas mãos dos chineses e vão concorrer com os originais, os produtores brasileiros. Estas sementes, matrizes de suínos e bovinos, são resultados de anos de pesquisa e experiência de campo. A Embrapa tem uma estrutura enorme e cara e avalia adaptações, resistências a pragas e aumento de produtividade. Um trabalho demorado e tecnologia apurada envolvendo vários setores e que está sendo levado para concorrer com o Brasil. Enquanto líderes do agronegócio dão a impressão de que estão por cima da carne seca e que dominam o mundo na produção de alimentos, setores de inteligência ligaram o alerta geral. A situação pode mudar.
Os sapiens viviam no mundo livres e soltos. Eram nômades e sobreviviam da caça e da colheita. O lado negativo era que viviam fugindo de leões famintos, hienas insistentes e predadores vorazes. No segundo passo, descobriram que poderiam evoluir para o cultivo e começaram como o trigo. Domaram as sementes, selecionaram as melhores através da observação e experiência. Foi aí que os sapiens passaram de nômades para sedentários para cuidar da cultura. Num conceito científico, o sucesso de qualquer espécie se mede pelo número de DNAs espalhados pelo mundo. Se é assim, quem domou quem? Seria o homem que domou o trigo ou o trigo em maior número que dominou o homem e o tirou da vida livre para escravizá-lo eternamente como colonizador e cuidador de plantas? Em uma resposta conceitual, o certo mesmo é que hoje, sem tecnologia, o campo para. O Brasil domou a agricultura e pecuária. Se transformou no maior produtor de soja do mundo. A soja alimenta desde crianças, jovens e adultos a bovinos, caprinos e suínos. As aves na verdade são também produto da ração que chega a locais distantes como os famosos salmões criados em cativeiro na Noruega.
Num dos primeiros tratados sobre economia que se tem notícia, o estudioso Thomas Malthus assustou o mundo. Ele mostrou com dados que a população mundial estava crescendo em PG, Progressão Geométrica. A produção de alimentos também crescia, mas em PA, Progressão Aritmética. O resultado mostrado por ele provocou um debate mundial, a falta de alimentos. Haveria, segundo o seu tratado, guerras por comida e crises graves nas relações internacionais. Os anos se passaram e o terror descrito não aconteceu. O estudo não foi esquecido. Recentemente economistas entenderam que Thomas Malthus fez um grande serviço à humanidade. As áreas plantadas foram multiplicadas. A produtividade também aumentou muito. A tecnologia para melhorar o aproveitamento de alimentos se desenvolveu e hoje a busca de alimentos se dá não nas fazendas, mas nos supermercados. O resultado é que não falta alimentos. Em alguns setores o que falta é dinheiro para comprar alimentos. O debate intenso já está pacificado no sentido de que Malthus estava certo ao apontar o desequilíbrio. O mercado é que se antecipou e produziu, aumentou a produtividade e aproveitamento. E assim o mundo evitou o cenário caótico traçado pelo economista.
O mundo acabou se esquecendo da possibilidade de falta de alimentos. Grandes produtores apareceram e entre eles o Brasil. As vantagens são evidentes. Um território enorme, condições climáticas próprias e força de trabalho. O governo investiu e criou empresas impulsionadoras, com crédito e oferta de tecnologia. A tecnologia empregada no meio rural é de ponta. Acabou o recanto de trabalho escravo e o maquinário tem que ser operado por profissionais especializados. As sementes foram selecionadas a custa de pesquisas demoradas e os tratos culturais desenvolvidos por técnicos abnegados. E são exatamente estas tecnologia e conhecimento que foram copiados e agora sendo levados para outros países com investimentos chineses. A África será no futuro um grande concorrente do produto brasileiro. Já é uma realidade a semente xing ling que será usada contra nós. O nome correto é Shanzhai. Por aqui se criou esta expressão xing, significa estrela e ling que indica o zero. Portanto, um produto com zero estrela. Esta é a guerra que ainda está invisível.
*José Maria Trindade é repórter e comentarista de política da Jovem Pan.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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