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Depoimento de Pazuello na CPI da Covid-19 levará senadores a serem cuidadosos

O general Eduardo Pazuello comandou o Ministério da Saúde entre maio de 2020 e março de 2021

A vinda do general Eduardo Pazuello ao plenário da CPI da Covid-19 do Senado foi cercada de cuidados e negociações. Integrantes da CPI entraram em contato com representantes do Ministério da Defesa e com comandantes do Exército sobre a necessidade do depoimento e acertos de detalhes. Senadores ouviram que “causa constrangimento” um general da ativa sentar numa cadeira de CPI como investigado, mas, neste caso, as respostas são sobre atividade civil, como ministro, e não como comandante militar. Por parte da comissão, a promessa é de não fazer do depoimento um ato de ataque contra as Forças Armadas. O próprio presidente da CPI, senador Omar Aziz, falou com o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Oliveira. Em linhas gerais, o ex-ministro será tratado por senhor, vossa senhoria e não como general. Isto não impede que um senador o chame pelo que ele é, um general e na ativa. A decisão para que Pazuello não sente na cadeira quente da CPI usando farda foi tomada pelos comandantes. 

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Historicamente, dar explicações a uma CPI já representa um constrangimento forte. Dizia o vice-presidente da CPI da Previdência no governo Collor, o então senador Mario Covas, que a simples instalação da CPI já é uma reprimenda política para o governo. Já houve choros em depoimentos, ataques nervosos de risos, mentiras e cara de pau. “Deus me ajudou”, disse o investigado deputado baiano, João Alves, um dos anões do orçamento, para explicar o rápido enriquecimento. Na CPI, a apuração descobriu que ele acertou 14 vezes na loteria. Excesso de sorte? Não! Ele comprava bilhetes premiados para justificar o recebimento de dinheiro. As ex-mulheres também fizeram estragos nas vidas dos ex-maridos em depoimentos na CPI. O então deputado Manoel Moreira, de São Paulo, foi confrontado com detalhes de negociação de propinas. A ex-mulher escutava as reuniões e passou tudo na CPI. “Quem possuiu uma mulher como esta não precisa de inimigos”, se resignou o investigado, concluindo que seria impossível responder com argumentos.

Um caso famoso de conhecimento da força de uma CPI foi o do presidente Itamar Franco. O ministro-chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, foi convocado. “Ministro meu não presta depoimento em CPI”, reagiu Itamar. Fez publicar a demissão de Hargreaves e, depois do depoimento, o nomeou de volta com a constatação de que não havia crimes imputados ao auxiliar. Desta vez, um general está no banco dos investigados. Uma situação incômoda para as Forças Armadas e para o Exército. Com ou sem farda, o general Pazuello é da ativa. Já prevendo dificuldades, os comandantes pressionaram para que ele fosse para a reserva quando assumiu o Ministério da Saúde. Ele resistiu. A estratégia dele é chegar à quarta estrela. Por ser de intendência, a tradição do Exército não contempla a promoção a esta arma. Eduardo Pazuello quer quebrar esta norma não escrita e até furar a fila para a promoção. A proximidade dele com o presidente Jair Bolsonaro é importante, mas a sua situação jurídica dificulta e muito este caminho.

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