Ex-governador preso e cassado por corrupção pode dominar a Comissão de Orçamento do Congresso

CMO é a comissão mais disputada entre deputados e senadores e pode ser presidida pela deputada Flávia Arruda, mulher e sombra do ex-governador José Roberto Arruda, preso e cassado por corrupção

  • Por José Maria Trindade
  • 28/10/2020 13h26
  • BlueSky
Wilson Dias/Abr José Roberto Arruda Ex-governador do DF, José Roberto Arruda foi condenado por falsidade ideológica no esquema conhecido como "Caixa de Pandora"

O Centrão quer colocar o ex-governador José Roberto Arruda como dono das chaves do cofre da União. A disputa, que já paralisa as votações no Congresso, tem origem na Comissão Mista de Orçamento da União. É a posição de maior destaque entre parlamentares. Os deputados e senadores da Comissão movimentam mais de R$ 100 bilhões de um orçamento muito maior, de mais de R$ 3 trilhões, mas engessado por despesas obrigatórias que não podem ser retiradas. Tudo estava amarrado para que o DEM indicasse o presidente da Comissão, a famosa CMO. Só que na disputa pela presidência da Câmara, o DEM deixou o Centrão e o gesto foi entendido como ruptura de acordo. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, quer emplacar na presidência da Comissão o baiano Elmar Nascimento. O Centrão, liderado pelo deputado Arthur Lira, quer eleger a deputada Flávia Arruda, do PL do Distrito Federal. 

Não se trata de disputa de ego, mas um projeto para o comando da Câmara. Movimentar tanto dinheiro assim é sinal de poder e de muita moeda de troca por votos na eleição de fevereiro para a presidência da Câmara dos Deputados. Aí é que entra o papel do ex-governador e ex-senador José Roberto Arruda. Uma articulação bem feita usando o Orçamento é sinal claro de eleição. A deputada Flávia Arruda é nova na política, está em seu primeiro mandato. Só que foi eleita na sombra do marido, o ex-governador José Roberto Arruda. Acabou como a mais votada do Distrito Federal. Arruda foi senador, e como líder do PSDB no Senado, violou o sigilo do painel eletrônico em votação secreta na cassação do mandato do senador Luiz Estevão. Teve que renunciar para evitar a cassação, e levou o então presidente do Senado, senador Antônio Carlos Magalhães, a fazer o mesmo. Como governador, José Roberto Arruda foi gravado recebendo maços de dinheiro e foi preso e cassado. Mesmo com esta trajetória o seu nome representa uma fatia importante de votos no Distrito Federal a ponto de eleger a mulher como a sua sombra. Agora, tenta comandar o cofre, a parte mais importante na política. 

Esta disputa provocou o estrangulamento do debate a ponto de impedir votações importantes. A guerra entre o presidente da Câmara e o líder do Centrão divide até aliados do presidente Jair Bolsonaro. A Comissão Mista de Orçamento, formada por deputados e senadores, nem foi instalada. Já está atrasada. A LDO, Lei de Diretrizes Orçamentárias, não foi votada, e o governo teve que mandar ao Congresso o Orçamento 2021 sem uma LDO que, na prática, é o mapa dos investimentos públicos. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, dá o ultimato. Marcou para o dia 5 de novembro a eleição do presidente da Comissão, que por sua vez, indica o relator do Orçamento. Sempre foram divisões em acordo entre os partidos políticos e agora a ameaça é de ir para o bate-chapa. Se não houver entendimento, ganha quem tiver maioria, e a indicação é de que o Centrão pode ganhar e ressuscitar o poder de Arruda por aqui.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.