Governo amplia conversas com o Centrão e tenta trazer para o seu lado quem sempre quis ser governista
Ciro Nogueira articula novas alianças, mas o preço a se pagar é o atendimento de demandas; alguns querem cargos, outros, a agenda dos ministros e proximidade com o poder
O governo quer formar uma base maior no Congresso, e a nomeação do senador Ciro Nogueira para a Casa Civil é só o início. Por telefone, o novo articulador do governo conversou com líderes formais e informais a fim de ampliar a base de sustentação. A estratégia é criar um grupo para dar apoio ao governo acima até dos partidos. Há também conversas para uma espécie de bandeira branca. Nomes marcadamente de oposição ao presidente foram contatados para reduzir a pressão e dar uma trégua. O alvo agora é a aproximação com partidos tradicionalmente governistas, como o MDB. Se houver mesmo a formação de uma base informal, com participação de deputados e senadores de siglas que formalmente não fazem parte da ala governista, haverá reação. O MDB antecipa que aceitar nomeações significa exclusão do partido. Uma base desvinculada do presidente é uma novidade e só pode ser formada em caso de extrema crise política, o que não é o caso.
Com o Centrão no comando da política, a situação muda, mas, no Senado, ainda há dificuldades para o Palácio do Planalto. Este é o grande desafio do ministro Ciro Nogueira. A emenda do voto impresso está fora das negociações, mas a defesa do governo, acima até da defesa do presidente Jair Bolsonaro, pode parecer um poder paralelo, mas é assim que funciona o novo acerto. Os deputados e senadores que integram este acordo já são governistas históricos, mas estão agora fora do poder por opção do próprio governo, que agora abre as portas para os aliados de sempre. Se conseguir o entendimento, uma nova base será montada, e Bolsonaro terá facilidades no Congresso. O preço é o atendimento de demandas. Alguns querem cargos, outros, a agenda dos ministros e proximidade com o poder. O grave neste caso é dar a coisa errada para o parlamentar.
Neste momento de volta do Congresso do recesso parlamentar, há uma grande interrogação sobre a atuação do governo a partir de agora. Só nomear integrante não adianta. Como diz o deputado Hildo Rocha (MDB-MA), “é preciso dar tinta para a caneta”. Um grande patrimônio na política é a credibilidade. O ex-ministro da Casa Civil e agora ministro da Secretaria Geral, general Luiz Eduardo Ramos, criou dificuldades ao não honrar compromissos assumidos. Não é só promessa de cargos, mas posições políticas em projetos aprovados em acordo e depois vetados pelo presidente. Esta é uma fase de ouro em que o ministro Ciro Nogueira terá um bom caminho para trabalhar. Mas, se não cumprir o que acertar, será minado e perderá a credibilidade. Deputados e senadores, entre eles alguns conhecidos por não cumprir promessas a eleitores, exigem cumprimento de acordo acima de tudo.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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