Trindade: Nos bastidores, vale tudo para definir sucessão de Maia na Câmara

Líderes começam a disputa pelas presidências da Câmara e Senado. Este é o mando político que não passa pelas urnas, mas define quem vai mandar na política a partir do ano que vem. E quem vai colocar o guizo no Bolsonaro?

  • Por José Maria Trindade*
  • 20/06/2020 09h52 - Atualizado em 20/06/2020 12h38
Frederico Brasil/Estadão Conteúdo A eleição secreta para a presidência da Câmara é conhecida como a noite dos punhais. E nas costas. Sinal de traição certa. 

Os líderes políticos apostam na possibilidade de correção de rumos no governo. Na primeira reunião de líderes de forma presencial, depois de muitas semanas por videoconferência, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, tentou usar o olho no olho para sentir “o pulso da política”. Nada substitui o encontro presencial. A pergunta predominante foi se os comandantes dos partidos apostavam na possibilidade de mudança na condução do governo. A maioria respondeu que sim. Outros não acreditam e argumentam que o entrave é o próprio presidente e o seu personalismo. Surpreendentemente, o líder do PSDB, o deputado Carlos Sampaio, não atacou frontalmente o presidente Bolsonaro –  como era esperado – e deixou a margem de dúvida sobre uma virada no governo. A estratégia de alguns comandantes da política é de que o núcleo do governo, de forma racional, poderia ‘morder a isca’. A proposta é clara: “Dê-me poder que te darei um bom governo”. Houve silêncio e poucos acreditaram na possibilidade do presidente Bolsonaro ceder parte importante do comando para esta ideia de “bom governo”  – que ninguém sabe exatamente como seria de fato.

Como em política o que se diz nunca é exatamente o que se fala, o propósito da reunião, que passou por vários assuntos, era a sucessão na Câmara. O deputado Rodrigo Maia já jogou a toalha há muito tempo. Teria maioria de votos para ser reeleito, mas, no meio do caminho, está a necessidade de mudar a Constituição. Ele não consegue maioria de votos para uma emenda deste calibre. A política da Câmara indica o seguinte: a porta está aberta. O deputado Rodrigo Maia e seu grupo lutam para eleger o deputado Aguinaldo Ribeiro. Hoje conseguiriam, mas enfrentarão o deputado Arthur Lira, o preferido do Centrão e do grupo do presidente Jair Bolsonaro. Olhando de cima, a disputa se daria entre os dois, mas o deputado Marcos Pereira, vice-presidente da Câmara está no jogo e também quer o cargo. O interessante é que estes três nomes são importantes, mas, como um Highlander, só pode sobrar um. Sem esta união, ninguém ganharia de forma isolada. É aí que entra um candidato ainda fraco, mas uma aposta dos antigos. O líder do MDB, deputado Baleia Rossi que é ligado à velha guarda. Está no páreo, mas depende de um desarranjo nesta união do Centrão e força do deputado Rodrigo Maia. Preservado, Baleia Rossi terá apoio se houver mesmo uma disputa mortal entre Bolsonaristas e o grupo do presidente Rodrigo Maia.

O que animou o presidente Jair Bolsonaro em influenciar na sucessão da Câmara foi o recente acerto com o Centrão. A experiência de ter um presidente da Câmara como Rodrigo Maia adversário não foi boa. A dificuldade desta articulação é que o presidente não pode entrar para perder. Ou ele fica neutro, realmente neutro, ou ganha. Trabalhar nos bastidores pode piorar as coisas. Pelo menos no momento, um carimbo de candidato do Bolsonaro é um passaporte para a derrota certa. Enquanto isso, o presidente do Senado, senador Davi Alcolumbre, tenta emplacar a sua candidatura numa difícil interpretação de que pode ser reeleito na mesma legislatura. Aí a situação fica difícil e vai bater no plenário do Supremo.

As eleições de presidentes da Câmara e Senado serão no início de fevereiro, dia primeiro, mas o calendário nosso de cada dia não vale no meio político. O processo já está a pleno vapor e vale tudo, até cotoveladas e golpes baixos. Aqui já é fevereiro. A eleição secreta para a presidência da Câmara é conhecida como a noite dos punhais. E nas costas. Sinal de traição certa.

*José Maria Trindade é repórter e comentarista de política da Jovem Pan.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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