Na disputa pelo comando da Câmara, parlamentares viram massa de manobra

Com quem vai ficar a presidência da Casa? Esta é a pergunta do momento nas articulações políticas; é a luta constante pelo poder e onde o eleitor não manda

  • Por José Maria Trindade
  • 25/11/2020 11h11 - Atualizado em 25/11/2020 11h13
Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados Arthur Lira Deputado Arthur Lira, possível nome do Centrão para a presidência da Câmara, está prestes a virar réu no Supremo

A troca de guardas na Câmara está marcada para primeiro de fevereiro. Mais do que o presidente da Casa, os deputados vão definir os novos comandantes das comissões permanentes, inclusive Comissão de Orçamento, a Mesa Diretora e indicados para cargos importantes. Aí está o poder. Por aqui, onde há poder, há disputa. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, se convenceu de que não deve mesmo se candidatar ao quarto mandato. “Seria uma Venezuela no Brasil”, segundo aliados. Diante desta realidade, a decisão é influenciar de forma inequívoca na eleição do novo presidente. Só que a ideia também está na cabeça do grupo do presidente Jair Bolsonaro. O Centrão, agora aliado, já apresentou o nome: deputado Arthur Lira. Os sinais do Palácio são no sentido de que o governo apoia. Cansado de lutar contra a pauta e força do Legislativo, o governo quer um aliado ou, no mínimo, um neutro no comando da Câmara, e Arthur Lira parece ser este nome.

Só que o preferido do presidente, Arthur Lira, está prestes a virar réu no Supremo. Uma denúncia grave de recebimento de R$ 160 mil reais em propina. Seria o pedágio para manter politicamente o presidente da CBTU, Companhia Brasileira de Trens Urbanos. Não é o único processo contra Arthur Lira, mas este já atingiu maioria na primeira turma do Supremo. O ministro Dias Toffoli pediu vistas e suspendeu o julgamento, mas a maioria já está formada e fatalmente Lira será réu, e há dúvidas jurídicas sobre a possibilidade do presidente da Câmara ser um réu. É que a Constituição impede que um réu assuma a Presidência da República, e o presidente da Câmara é o terceiro na linha sucessória de poder. 

O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, decidiu agir e mostrar a sua força. A estratégia é unir esquerdas e centro na articulação que o manteve no poder deste o primeiro mandato, o tampão para substituir Eduardo Cunha. As conversas neste campo estão adiantadas. O deputado Rodrigo Maia firmou um acordo de cavalheiros com três nomes fortes para a resistência ao Centrão. O deputado Aguinaldo Ribeiro é um dos indicados. Ele é líder importante no centro que não participa do grupo e é um dos participantes desta tentativa de acerto. Aguinaldo foi ministro de Dilma e carrega a experiência de ser réu no Supremo na operação Lava Jato. O deputado Luciano Bivar, dono do PSL, partido que elegeu o presidente Jair Bolsonaro, é outro postulante e já até se aproxima de Bolsonaro. Por último, o deputado Baleia Rossi, líder do MDB. Este conta com apoio da velha guarda e está na janela esperando exatamente a banda passar. Não teria força política para impor a candidatura, mas pode ser a opção se tudo der errado com os outros candidatos. Contra Rossi, filho de político e amigo dos antigos mandatários da Câmara, está a esquerda. O PT e aliados não se esquecem do voto e movimentação dele pelo impeachment da ex-presidente Dilma. 

Na prática, é a Câmara em disputa e é como se os líderes se sentassem na mesa para dividir o bolo. Cada partido quer o seu pedaço, se possível, maior. A conversa é a divisão. Cada um tem que ser contemplado com a parte que vai dividir com os integrantes do baixo clero. É quando o parlamentar vira massa de manobra. O trabalho da tropa é apertar o botão e votar no acordo dos líderes. Só que, desta vez, os líderes se multiplicaram. No Senado, o cenário vai no sentido de um presidente que desafia a Constituição. Cabe ao articulador, de um lado o deputado Arthur Lira, e do outro o deputado Rodrigo Maia, a tarefa de dar a cada um a parte que lhe cabe deste latifúndio de interesses. Mais ou menos assim: você fica com estas comissões, este com estes cargos, ele com as relatorias e vamos dividir aqui os cargos na Mesa Diretora. O senador Davi Alcolumbre está decidido a se candidatar à reeleição. Sem possibilidade de emenda constitucional, a possibilidade é mudar o regimento interno do Senado, ação considerada frágil demais. A aposta é que ele será reeleito e que logicamente os adversários recorram ao Supremo, para que decida que esta parte da Constituição deve ser “interna corporis”, ou seja, transferência do controle constitucional para deputados e senadores.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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