O insaciável Centrão vai voltar ao poder

Apoiados por Jair Bolsonaro, o senador Rodrigo Pacheco (DEM) e o deputado Arthur Lira (PP) são favoritos nas eleições do Congresso, mas defenderão, antes de tudo, os interesses dos partidos de centro

  • Por José Maria Trindade
  • 20/01/2021 18h34 - Atualizado em 20/01/2021 19h33
Michel Jesus/Câmara dos Deputados O presidente da Câmara, Arthur Lira, durante sessão no plenário da Casa O deputado Arthur Lira, do PP, é líder dos partidos de centro na Câmara

Jair Bolsonaro fez a sua aposta e vai ganhar, mas não levará. Os candidatos do presidente vencerão. Nenhum, porém, será de integral confiança. Na Câmara, deve vencer o líder dos partidos de centro, deputado Arthur Lira (PP-AL). No Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o indicado do atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre. As contas já estão sendo feitas e a situação continua tensa, mas a disputa está polarizada, com vantagem para o candidato governista na Câmara. O pessimismo de aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o que denuncia a dificuldade de Baleia Rossi, do MDB paulista, que conta com o apoio do bloco formado por Maia. Entre os senadores, os levantamentos mostram que Simone Tebet (MDB-MS) espanta até colegas de partido. Foi adotada pelo grupo Muda Senado, e a situação ficou pior. Históricos emedebistas não confiam na candidata que o partido banca. O quadro atual aponta que, apesar de outros postulantes, Pacheco é o favorito. O senador Major Olímpio, do PSL de São Paulo, mantém a candidatura e adianta que, se a resistência aos dois rivais aumentar, ele levará vantagem. “Serei um novo Severino.” Uma alusão a eleição do deputado Severino Cavalcanti numa resistência aos atores colocados. 

O presidente Jair Bolsonaro recebeu líderes emedebistas no Senado e avisou que o candidato dele será Rodrigo Pacheco. Só que este não é um nome considerado do bolso do colete do presidente e pode surpreender. Além disso, os compromissos assumidos pelo senador do DEM impedem qualquer postura de aliado incondicional. Promessas ao PT e PSDB contrastam com a figura de um presidente do Senado aliado ao governo federal de forma incondicional. Advogado de formação e prática na área criminal deram ao rondoniense (que exerce o mandato por Minas Gerais) a experiência de visões diferentes da mesma tese. A família dele é detentora de concessões de transporte de passageiros em Minas. Portanto, no que depender do senador, a projeção é de que inimigo, não, porém longe de ser um coligado até o fim.

A postura do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, de travar embates constantes com o governo levou Bolsonaro a apoiar explicitamente o candidato do Centrão, o novo aliado Arthur Lira. Alimentando a certeza de que poderia ser reeleito, o deputado eleito pelo Rio, que teoricamente sairia em vantagem, adiou todas as articulações. Lira não ficou parado e rodou o país. Conseguiu mais apoio. O bloco formado para dar sustentação ao que seria o candidato de oposição ao governo tem dificuldades, apesar do projeto de dominar a Câmara por meio das comissões permanentes e relatorias, inclusive de futuras CPIs. Mesmo com apoio do presidente, o discursos do candidato do Centrão é de independência. Neste caso, a dependência aí é do grupo que tradicionalmente se especializou em minar governos e extrair da máquina pública o combustível para a reeleição, ou seja, dinheiro. Um líder de partido importante confidencia que Arthur Lira e a sede do Centrão podem levar o presidente a dificuldades maiores do que Baleia Rossi. 

O processo está longe de ser tranquilo. Há movimentações fortes e participação do governo. O senador Major Olímpio denuncia uso de emendas e cargos. A senadora Simone Tebet fala em força do governo no Congresso, o que o candidato Baleia Rossi classifica como intervenção. O certo é que sempre foi assim, e o governo tem o peso da caneta, o que pode ser decisivo. O estranho no momento é que os deputados estão sendo contabilizados mais de uma vez. Somando o que dizem ter os candidatos, a Câmara, em vez de 513 parlamentares, teria pelo menos 700. O irônico é que a polarização leva deputados a apostarem nos dois lados para não correr o risco de ter na presidência um adversário. O deputado Arthur Lira vai num estado e convoca reunião, todos os deputados vão. Chega Baleia Rossi e se reúne com apoiadores, e todos vão. É que a votação não será aberta e, como dizia Tancredo Neves, “no escurinho do plenário, dá uma vontade danada de trair”. 

Este será um ano decisivo para a política. Acomodação partidária, acertos do governo com o Congresso e formação de base para 2022, ano eleitoral. O que vai acontecer nas eleições de governadores e presidente da República, além de deputados e senadores, depende exatamente deste 2020. Daí a importância das eleições na Câmara e Senado. Os presidentes das duas casas serão os condutores de uma política que passa por turbulências. A opção do presidente pela definição no Congresso mostra que ele já está de olho neste projeto de reeleição. O que há na política e grita aos cantos do poder é a falta de personalidades fortes. Há um apagão de líderes, e Jair Bolsonaro simplesmente optou pelos menos desgastados. A famosa redução de danos. 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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