O papel de Geraldo Alckmin no mundo de Lula

Caso petista ganhe, ex-governador de SP seria um grande interlocutor e emprestaria o seu perfil pacificador para a posse, apaziguando os questionamentos quanto às urnas eletrônicas ou à campanha eleitoral

  • Por José Maria Trindade
  • 23/12/2021 10h54
Reprodução/Estadão Conteúdo/Secom Governo de São Paulo Políticos de terno discursam em eventos públicos Montagem com as fotos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-governador Geraldo Alckmin

O PT calçou salto alto, se considera vitorioso e já se preocupa com os passos seguintes: posse e governabilidade. E é exatamente aí que entra a parceria com Geraldo Alckmin. É muito bom saber que as pesquisas são, na verdade, um retrato do momento, num ambiente extremamente tumultuado e dividido, portanto, fora da realidade da política nacional. Os aliados de Lula sabem lidar com cenários e são profissionais da política. Forjados na disputa sindical, onde uma carta sindical é como uma lojinha num camelódromo, que tem que ser defendida todos os dias, a aposta é de que o caminho não está tão livre assim. Os alertas são de que, se ganhar, como eles acreditam, haverá contestação. Nesta fase, os petistas e novos petistas devem mostrar que estão com um lado considerável da população. A âncora seria a elite, quem verdadeiramente manda. 

Nos livros do intelectual Olavo de Carvalho, que ele diz nunca serem lidos pelo grupo que está no governo, a mensagem é de que mandato não é poder e nunca foi. A orientação é de que os cargos, mesmo o de presidente da República, podem ser o caminho e devem ser usados para se chegar ao poder, mas não são mando. Há uma diferença que não é tão sutil. O presidente Jair Bolsonaro tem apoio popular, mas a dificuldade maior é de assumir o comando. Grupos organizados sabotam, resistem e acabam fazendo o governo tomar decisões nos seus interesses. A receita, segundo Olavo, é tomar setores estratégicos de cultura e de educação. São os formadores de opinião. Aí, o grupo do presidente não entrou e tem dificuldades. Este é o diagnóstico. 

A aliança portanto, é com o PSDB. Não com o partido formal, mas com o alto tucanato, representado por Alckmin. Lula, na arrogância natural dos petistas, está fazendo já um seguro. A desconfiança é de que depois das eleições haja questionamentos quanto às urnas eletrônicas ou procedimentos durante a campanha eleitoral. Neste caso, Alckmin seria um grande interlocutor e emprestaria o seu perfil pacificador para a posse. Esta é uma possibilidade alta. A campanha nacional contra as urnas eletrônicas e pelo voto impresso deixou marcas. O TSE reagiu e foi uma vitória do grupo do presidente Jair Bolsonaro. O acompanhamento agora é mais fácil pelos partidos, Polícia Federal, OAB, imprensa e Forças Armadas. Mesmo assim, ainda restam grupos pressionando pelo voto impresso. Isto poderia ser o estopim de uma resistência à aceitação do resultado. 

O terceiro passo do processo eleitoral seria a formação do novo governo. O objetivo: a governabilidade. Acreditem, Lula, já está pensando nesta fase. Uma eleição é feita de etapas. A primeira é a campanha, coligações e eleição. A segunda, a posse, e a terceira, a formação do governo. Cada fase tem as suas peculiaridades e é realizada com grupos diferentes da campanha eleitoral. As forças que elegeram o presidente Jair Bolsonaro estão divididas para o primeiro turno, mas nada que possa tirá-lo da disputa final. A polarização é a realidade e o enfrentamento fica mais claro. O eleitor será chamado para decidir entre Bolsonaro ou Lula. O futuro do país está em jogo. Quanto a Geraldo, que chegou ao governo de São Paulo como vice de Mário Covas, entra agora numa nova aventura. Agora mais ampliada, rumo à presidência da República.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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