Moro saiu falando mal do presidente e agora corre o risco de ter o selo de ‘traíra’ carimbado na testa

O ex-juiz nunca foi ingênuo, sabia muito bem o que estava fazendo quando topou entrar no governo; ao rivalizar com seu ex-chefe, poderá ficar com a malvista fama de X9

  • Por José Maria Trindade
  • 03/12/2021 18h20
Eduardo Matysiak/Futura Press/Estadão Conteúdo - 02/12/2021 Em pé, com o microfone na mão esquerda, Sergio Moro fala sobre seu novo livro, cuja capa decora o painel atrás O ex-juiz e pré-candidato à Presidência Sergio Moro lança seu livro em Curitiba

Os aliados do ex-ministro Sérgio Moro adotam como alvo o presidente Jair Bolsonaro. Estão convencidos de que, para derrotar a polarização, tem que ser no setor do governo do qual ele era integrante. A fotografia é clara de que Bolsonaro e o ex-presidente Lula estarão no segundo turno. O novo Moro, 2021, modelo já 2022, está sendo apresentado como um “Bolsonaro melhorado”, um produto novo na política — mas não é político e muito menos melhor ou igual ao presidente. Com a abertura para lançamento de livro, Moro vai a Pernambuco para tentar popularidade em locais controlados e falas ensaiadas. Depois, viaja para os Estados Unidos, fica um tempo com a família e prepara a transferência para a campanha no Brasil. Está mesmo decidido. O desempenho imediato à filiação chamou a atenção do mundo político por aqui. A estratégia do Podemos é rivalizar com o presidente Jair Bolsonaro. 

A figura de traidor é mal vista. O X9, informante da polícia, sofre no sistema penitenciário. Pode ser sentença de morte em algumas regiões e, na história da humanidade, sempre foi considerado um ser repugnante, como foi o denunciador de Jesus, o ex-seguidor Judas. Teria dado o Moro o beijo mortal no presidente Jair Bolsonaro? A resposta é não. Ele sabia o que estava fazendo quando entrou no governo. A um líder, não é dado o direito a ser um ingênuo. Moro nunca foi ingênuo e sabia muito bem com quem estava lidando quando condenou merecidamente o ex-presidente Lula e seus seguidores, mas tinha a ciência de que entrava num governo, não numa igreja. Imagine um ex-marido que logo depois da separação saia por aí falando mal da família e mostrando detalhes sórdidos. Apontando quem fala mal de quem, os que não tomam banho, os que gostam de pedir dinheiro emprestado e não pagam e os que, em vez de bonzinhos, na verdade são os bobos e explorados. O afastado passaria a ser odiado também. 

O ex-presidente Itamar Franco nomeou Luiza Erundina como ministra do Trabalho. Foi uma disputa. O PT, partido de Erundina, não queria e a expulsou. Itamar,  firme, manteve a ministra até que, depois de divergências, ela foi demitida e saiu falando. Disse que Itamar era “um boboca”.  Com a sua reserva mineira, o presidente respondeu de forma calma: “É … Talvez eu seja bobo mesmo. Eu a fiz minha ministra”. Este é o resumo de uma relação de poder quando fica desgastada. “Só lembram da demissão, esquecem a batalha para o nome do aliado chegar ao Diário Oficial”, lembra o deputado de muitos mandatos Bonifácio Andrada. No caso de Sergio Moro, ele já ocupou cargo de  confiança e sabe muito bem como funciona. Até o dia em que a confiança acaba. Um pacote fechado. As ideias, propostas, gestos e ônus. Aliados do presidente Jair Bolsonaro vão carimbar na testa dele a palavra “traidor”.  O filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro antecipou a disputa e disparou: “O povo pode até gostar de traição, mas não perdoa o traidor”.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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