Presidente não abre mão do tratamento precoce e declara guerra contra isolamento social

Mesmo com troca no Ministério da Saúde, Bolsonaro segue irredutível e vai ao Supremo Tribunal Federal para reverter medidas de restrições na Bahia, Rio Grande do Sul e Distrito Federal

  • Por José Maria Trindade
  • 19/03/2021 16h23
Mateus Bonomi/Agif/Estadão Conteúdo De terno, gravata e máscara de proteção, Bolsonaro leva a mão ao peito O presidente Jair Bolsonaro vai ao STF para reverter restrições de circulação na Bahia, no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal

O presidente Jair Bolsonaro entra em rota de colisão com governadores e prefeitos. Mais do que tentar no Supremo Tribunal Federal (STF) impedir o isolamento social, confinamento ou fechamento do comércio, ele leva o governo para o confronto. Para se ter uma ideia, o discurso de posse do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga está sendo revisado. Será lido e não pode conter nenhuma citação a isolamento social, fechamento de comércio e qualquer possibilidade de críticas ao tratamento precoce. A tese está sendo fortalecida pelo grupo mais próximo do capitão e conta com resistências na área política, mas ninguém fala diretamente a Bolsonaro sobre a possibilidade de agravamento da crise.

Um líder importante no meio bolsonarista me questiona: “Se a pandemia se acirrar? Se houver um aumento de mortes, a níveis insuportáveis? Se o caos se abater sobre hospitais com níveis de internação bem acima dos de hoje com mais de 5 mil pessoas morrendo por dia? O presidente vai continuar contra o isolamento”?  O medo chegou ao coração do poder.  O presidente chamou para uma reunião, na quarta-feira, os presidentes da Câmara, do Senado, do Supremo e do Superior Tribunal de Justiça. Os governadores e integrantes do próprio governo também foram convocados. A pauta é que seja debatida uma saída legal em caso de emergência. Assim como o presidente se reposicionou na vacinação, deu a volta por cima e já conseguiu contratar doses que podem chegar à maioria da população, se a situação recrudescer, ele poderá admitir isolamentos regionais. O fechamento de divisas estaduais. Mas este seria o último caso, e com críticas aos que defenderam — e aos que colocaram em prática — um fechamento precoce e sem fim. 

O governo quer criar uma equipe para lidar diretamente com governadores, estabelecer regras nacionais e indicações de como devem combater a Covid 19. Este caminho passaria, segundo o governo, por tratamento precoce, medicamentos e atendimento. Será um novo tipo de enfrentamento: abastecimento de insumos hospitalares, recursos para pagar UTIs privadas e hospitais de emergência. Neste gabinete de crise, estaria também um trabalho de comunicação para uma campanha nacional de cuidados pessoais e informações sobre o novo coronavírus. Até agora, o governo federal não fez uma campanha forte e consistente sobre a pandemia, e aí pode estar a base de tanta desinformação. 

Para demonstrar que não está para brincadeira nem pensa em recuo, o presidente Jair Bolsonaro mostra as armas novas. Reclamando há uma semana de que os Estados e municípios estão exagerando nas medidas de restrição, o presidente vai ao Supremo pedir a inconstitucionalidade das medidas de toque de recolher. Para ele, a Bahia, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal estão, na verdade, em estado de sítio. Um artifício admitido pela Constituição, mas que só pode ser decretado pelo presidente da República. Mais uma vez, a decisão fica nas mãos dos ministros do Supremo. O direito de ir e vir é garantido, mas o entendimento novo é de que nenhum direito é absoluto na Carta. O que já está certo por aqui é que a condução da pandemia ganhou mesmo contornos políticos e será o principal assunto do debate eleitoral de 2022. A avaliação política é que o presidente está perdendo e só a vacinação em massa pode recuperar a sua imagem.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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