O retrato da fúria: Até desafetos do vozeirão Olimpio se entristeceram pelo fim trágico desta última batalha
Senador, que teve morte cerebral por complicações da Covid-19, não desistia nunca e defendeu vacinação em massa; parlamentar apoiou Bolsonaro em 2018, mas rompeu com o presidente na divisão do PSL
Leve no trato pessoal e firme nas defesas e convicções. Assim era o senador Major Olimpio, que fez a transição de militar para político, sem esquecer as raízes. O vozeirão rouco foi a marca na atividade profissional e na vida política. “Ladrão é ladrão, seja de esquerda ou de direita”, dizia com insistência. Vai fazer falta na política. A última conversa com ele, foi sobre a eleição da Mesa Diretora. Apostava no efeito “Severino”, a divisão de governistas, para entrar como opção. Não deu certo e ele me ligou dizendo que apoiaria a senadora Simone Tebet, do MDB. “Será melhor para o Senado e para a democracia”, argumentou para admitir um raro momento de desistência e de recuo. O senador Major Olimpio não desistia nunca e, como disse o presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco, “lutou até o último suspiro contra” este vírus maldito que transformou o mundo.
Eu estava envolvido no trabalho de cobertura do Palácio, durante o governo Dilma Rousseff; era um cerimônia importante no Salão. A presidente daria posse ao ex-presidente Lula como ministro-chefe da Casa Civil. Preocupado com anotações sobre presentes e falas, ouvi uma voz no fundo, no momento em que a presidente iniciava o discurso. Eram gritos altos de “vergonha! Vergonha!”. Reconheci de longe. Era o combatente deputado Major Olímpio que se infiltrou entre convidados, como deputado teve passe livre, e foi bradar frente à Dilma e Lula que aquele era um momento de vergonha nacional. A presidente da República, Dilma Rousseff estava tentando sabotar a Lava Jato, entregando um cargo ao ex-presidente Lula, que ganharia foro especial e sairia da 13ª Vara Federal, para a cumplicidade do Supremo. O deputado, inicialmente constrangido por convidados, depois pelo forte esquema de segurança, foi arrastado do salão, empurrado para o elevador e retirado do Palácio. Saiu à força e aos gritos. Plantou o constrangimento geral e jogou vergonha no ato que depois foi cancelado por uma decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes.
Sempre foi firme nas suas ações e manifestações. Ninguém apostava na eleição dele para o Senado da República. Depois de uma campanha forte, na sombra do presidente Jair Bolsonaro e da onda que passou pela política, rompeu com o presidente na divisão do PSL. Continuou apoiando o governo e o presidente, até se desfazer de vez do grupo do presidente do PSL e passar para a independência total. Questionava os atos de Bolsonaro em todos os sentidos. O início do distanciamento foi a decisão do governo em extinguir o Ministério da Segurança Pública. A última disputa foi exatamente sobre a maneira de encarar a pandemia. Ele defendia a vacinação em massa e criticava o governo pela falta de empenho. O estopim da crise com o presidente foi a CPI da Lava Toga. “Traidor”, falou o senador se referindo ao ex-aliado Bolsonaro. O senador Flávio Bolsonaro ligou para ele retirar assinatura do requerimento de CPI, e o senador retrucou que abaixasse o tom, dizendo que era senador, e não assessor. Foi aí que o caldo entornou, e além de passar para o outro lado da política, ganhou a inimizade da família e dos aliados de primeira hora de Bolsonaro.
O presidente Jair Bolsonaro manteve distância do senador, mas evitava críticas pessoais. Ao receber a notícia da morte do senador, cancelou ida programada ao Senado para entregar a medida provisória que recria mais quatro parcelas do salário emergencial. Até desafetos do vozeirão Olimpio se entristeceram pelo fim trágico desta última batalha perdida pelo combatente. É o terceiro senador morto pela Covid-19. Neste momento, o eterno soldado deve estar incomodado com a calmaria do paraíso. Será difícil fazê-lo “descansar em paz”, mas ele merece e muito.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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