Agro critica importação de arroz pelo governo
Está previsto para amanhã o leilão da Conab para compra de arroz pelo Governo Federal, com estimativa de importação de cerca de 100 mil toneladas nesta etapa; a medida tem sido criticada pelo agro
Conversei sobre o tema com o consultor de mercado de arroz na Safras&Mercado, Evandro Oliveira. Acompanhe um trecho da entrevista.
Qual é o impacto dessa importação do governo? O primeiro impacto seria um aumento do desincentivo à cadeia produtiva. Então esse é um dos principais motivos pelo qual as principais entidades ligadas à cadeia produtiva tem se mostrado contra essa medida, que no momento ela é considerada desnecessária e de difícil operacionalidade por conta dos elevados preços internacionais e a necessidade de um subsídio desses preços para chegar às prateleiras nos patamares que o governo deseja, ali em torno de R$ 4 o pacote de 2 kg, como tem sido citado, e até em torno de R$ 20 o pacote de 5 kg, como foi citado. Então para isso vai ser necessário um subsídio por parte do governo em um momento que os produtores gaúchos passam por enormes prejuízos e até alguns que perderam tudo. Então uma cadeia produtiva que já vem de duas temporadas de La Niña, com estiagens severas no Rio Grande do Sul, e agora enfrenta uma das piores calamidades da história do Rio Grande do Sul e o governo vem se mostrando com a preferência de subsidiar um produto de fora em vez de contribuir para o escoamento, que esse sim é o maior problema nesse momento para a cadeia produtiva do arroz.
Quanto um produtor de arroz tá recebendo por uma saca de 50 kg hoje no mercado brasileiro? Esse patamar varia de estado para estado. No Rio Grande do Sul, por exemplo, nós já temos indicações na faixa de R$ 130 livre ao produtor em regiões onde temos arroz de qualidade nobre, acima de 60% de grãos inteiros. Até regiões com menores rentabilidades, que tem preços na faixa de RS 110 livre ao produtor. E nós temos que lembrar que um grande vilão para a cultura do arroz são os altos custos de produção que ficam em torno de R$ 100 por saca. Esse sim deve ser um assunto muito debatido que nesse momento preços ao redor de R$ 110, R$115 vem trazendo uma rentabilidade favorável aos produtores e que resultaria em um incentivo para um aumento de área para a próxima temporada. O mercado já vinha se ajustando em busca de um equilíbrio para o ano de 2025 e agora uma medida nesse sentido de uma importação de um volume significativo, como foi citado de 1 milhão de toneladas, só serviria para bagunçar ainda mais o mercado e trazer esse desincentivo, o que resultaria em áreas cada vez menores para a cultura do arroz e uma necessidade cada vez maior de importações. As estimativas que nós temos nesse momento, primeiro nós temos que lembrar que quando essa calamidade atingiu o estado do Rio Grande do Sul nós já tínhamos aproximadamente 84% das lavouras colhidas, lavouras que vinham apresentando boas produtividades. Então a região da Fronteira Oeste, que é a principal região produtora de arroz do país já tinha praticamente finalizado suas colheitas, assim como a região da zona sul do estado e as planícies, questão famosas por rentabilidade favoráveis. Contando com isso, as estimativas apontam para que nós já tenhamos colhido cerca de 6,4 a 6,5 milhões de toneladas de arroz em casca com as áreas restantes, áreas principalmente na região central do estado que foram bastante afetadas, temos o potencial de colher ainda entre 500 e 700 mil toneladas. Com isso a produção gaúcha ficaria em torno de 7 milhões de toneladas, uma produção bastante semelhante à produção do ano de 2023. São dados que nos mostram e confirmam o que já toda a cadeia produtiva vinha afirmando, que teríamos um ano de 2024 bastante semelhante ao ano de 2023. Obviamente um ano de aperto de oferta e agora com uma produção bastante semelhante. Com isso, a safra nacional tem potencial de ficar entre 10 e 10,2 milhões de toneladas porque uma coisa que tem que ser lembrada é que praticamente todos os estados produtores de arroz do Brasil tiveram um forte aumento de área, como por exemplo o Mato Grosso, que praticamente dobrou sua área de arroz e vem com suas lavouras apresentando ótimas rentabilidades, assim como o estado do Tocantins, o terceiro maior produtor do cereal que também teve um avanço na casa dos 30% na sua área de arroz e também com ótimas rentabilidades. Esses dois estados vêm sofrendo uma pressão nesse momento.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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