Após banir carbendazim, Anvisa mira outros fungicidas

Tiofanato Metílico é o próximo ingrediente ativo selecionado para reavaliação de uso; ainda há mais três fungicidas, um herbicida e um inseticida na lista da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

  • Por Kellen Severo
  • 10/08/2022 09h00 - Atualizado em 10/08/2022 09h07
Anvisa/Ascom Sede da Anvisa Autarquia publicou resolução que proíbe a comercialização, distribuição, importação e uso dos produtos da marca

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) classificou o Carbendazim como cancerígeno para humanos e baniu o uso do fungicida no Brasil em decisão divulgada nesta semana. O produto, usado para tratamento de sementes e aplicação foliar em culturas como algodão, arroz, feijão, trigo, milho, soja e citros, estava presente há décadas na agricultura daqui. Segundo a consultoria Global Crop Protection, o setor será impactado pela ausência do produto e terá desafio adicional de agora em diante: lidar com novas suspensões de ingredientes ativos que poderão ocorrer. Depois do Paraquat e do Carbendazim, outros estão na fila para revisão, como o Tiofanato Metílico. Esse é considerado o principal substituto para o Carbendazim. O professor sênior da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), José Menten, me disse que se a agência reguladora seguir o mesmo rigor adotado na reavaliação do Carbendazim, há chance de o Tiofanato Metílico também ser banido. Aí, a agricultura brasileira ficará sem nenhum substituto do mesmo grupo de fungicidas. Veja lista de ingredientes ativos selecionados para reavaliação da Anvisa: O Carbendazim foi banido e agora outros 4 fungicidas, 1 herbicida e 1 inseticida ainda serão reavaliados. Não há data para definição do processo. De 2006 para cá, dos 19 ingredientes ativos revisados pela Anvisa, 12 foram proibidos.

Após a proibição do uso, produção, importação e comercialização do Carbendazim, que vale para todos os produtos técnicos e formulados, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) quer reverter a decisão da Anvisa. Ainda está em estudo qual instrumento deverá ser utilizado para tentar suspender a medida. Fontes me disseram que a Anvisa adotou rigor excessivo ao proibir o químico, especialmente porque ao fazer o tratamento de sementes, o uso industrial tem menor exposição humana ao produto se comparado com a utilização nas fazendas. Há aqui um desejo de que a agência de vigilância possa reconsiderar a decisão. Na agricultura brasileira há outros grupos de agroquímicos com mecanismo de ação diferente do Carbendazim, por exemplo, que também são eficientes, aponta a Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Rio Verde. Segundo eles, existem moléculas modernas e agronomicamente seguras para substituir o agora banido fungicida. As pragas e doenças causam danos à produção de alimentos e os agroquímicos são remédios para as plantas se desenvolverem. Vale lembrar que os defensivos são usados dentro de um sistema de manejo integrado de pragas, onde são adotadas várias medidas e o químico entra quando necessário. Ao banir uma molécula do mercado, o setor agro precisa se adaptar a uma nova era, muitas vezes, mais cara para a produção de alimentos.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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