Empresas de fertilizantes suspendem venda com entrega em 2022

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal, que representa 108 empresas do segmento, movimento de congelamento dos negócios ainda é pontual, mas pode aumentar

  • Por Kellen Severo
  • 01/10/2021 09h00 - Atualizado em 01/10/2021 12h30
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Pixabay plantação de soja Compra antecipada de fertilizantes é uma prática adotada na agricultura brasileira para diminuir riscos na comercialização e logística dos produtos

A China não saiu da pauta do agronegócio nesta semana. Nós adiantamos aqui na Jovem Pan que isso aconteceria, principalmente, por causa da crise energética que o país asiático vive e os potenciais impactos do racionamento de eletricidade na oferta de insumos ao redor do mundo. No cenário de cortes de energia, há especulações de que o governo chinês passará a limitar exportações de fertilizantes para garantir o abastecimento do mercado interno. Caso a medida aconteça, o Brasil ficará vulnerável à escassez de produtos e a reajustes de preços. A China é um dos maiores fornecedores de insumos agrícolas. No caso de fertilizantes, produto essencial considerado o alimento das plantas, o país asiático é o maior produtor mundial de nitrogenados e fosfatados. Levantamento feito pelo Itaú BBA revela que 20% do volume importado de nitrogenados pelo Brasil vem da China e 7% dos fosfatados.

Com as incertezas sobre a disponibilidade de matéria-prima, empresas no Brasil suspenderam venda com entrega programada para 2022. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal, entidade que representa 108 empresas do segmento de fertilizantes, o movimento de congelamento dos negócios ainda é pontual. Roberto Levrero, presidente da Abisolo, diz que, com os novos acontecimentos ligados à crise energética e questões geopolíticas, a tendência é que a situação se agrave.  A analista chefe do GlobalFert, Juliana Lemos, afirma que as companhias mudaram a postura no ambiente de negócios brasileiro. “Realmente houve uma mudança de comportamento nas misturadoras de fertilizantes no mercado nacional. Boa parte delas está receosa em colocar preço para o próximo ano e para os próximos meses. Um dos fatores é o preço dos fertilizantes que semana a semana vêm apresentando alta, e a segunda questão é quanto às matérias-primas, que tem mostrado altas. Um dos mais evidentes casos é o do gás natural, que deve impactar o valor dos fertilizantes nitrogenados. Isso tem feito com que as misturadoras tenham postura de maior cautela”, explica.

A compra antecipada de fertilizantes é uma prática adotada na agricultura brasileira para diminuir riscos na comercialização e logística dos produtos. Para o primeiro semestre de 2022, dados da StoneX indicam que 39% das necessidades de fertilizantes já foram adquiridas. Agricultores que desejam antecipar os negócios estão sentindo dificuldades nos últimos dias. “De fato alguns dos maiores produtores internacionais de fosfatados se retraíram recentemente preferindo evitar vendas para entregas em 2022 dadas as sucessivas crises internacionais que estão impactando o segmento de fertilizantes. Os preços de fertilizantes já subiram muito nos últimos anos, fosfatados em dólar por tonelada, são o dobro do que eram em setembro de 2020 e a tendência é que venham a subir ainda mais nos próximos meses”, diz o Head Fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello. A suspensão de novos negócios com entrega para 2022 não é um movimento que atinge todas as companhias do setor, mas os eventos pontuais já sinalizam para a necessidade de darmos atenção ao tema. O desarranjo na logística global e os novos acontecimentos na China adicionaram tensões que tendem a ser precificadas pelo mercado e podem levar outras companhias a paralisar negociações futuras em função do risco de faltar matéria-prima.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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