Milei promete cortar impostos sobre o agro; entenda os impactos

Gustavo Segré, comentarista da Jovem Pan, e Antonio Sartori, diretor da consultoria Brasoja Agro, falaram com a coluna sobre o fim das ‘retenciones’

  • Por Kellen Severo
  • 05/08/2024 10h46 - Atualizado em 06/08/2024 01h13
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EFE/EPA/MARTIN DIVISEK javier milei Javier Milei participou de feira agrícola e citou cortes de taxas para o setor de carnes e leite

O presidente da Argentina, Javier Milei, prometeu cortar os impostos sobre as exportações de produtos agrícolas, as chamadas “retenciones”. Em uma das principais feiras agrícolas, ele citou cortes de taxas para o setor de carnes e leite e a redução do imposto de importação. Confira a conversa que tive com Gustavo Segré, comentarista da Jovem Pan, e Antonio Sartori, diretor da consultoria Brasoja Agro, sobre o tema.

Qual o efeito da medida no agro brasileiro e quando você espera o fim das “retenciones”?
Antonio Sartori: Eu acho, que no momento, não passa de um sonho utópico. Ele tinha prometido nas eleições, nas prévias, que ia retirar as “retenciones”. Quando ele tomou posse, ele disse “sim, eu vou retirar, só não sei quando”. E ele disse no último dia 28 que vai retirar as “retenciones” e vai tirar o cepo, que os dois juntos consomem 70% da renda do produtor, quando zerar a inflação. Ora, isso é um sonho utópico. Qual é o país que não quer zerar a inflação. Como é que a Argentina, que tem uma herança como tem, vai conseguir zerar a inflação? Eu acho meio difícil, tomara que ele consiga dentro do período do governo dele. Mas, a curto prazo, eu acho que a chance é zero.

Você acha que a chance é zero também para o fim das “retenciones”?
Gustavo Segré: Melhora muito a competitividade. Não tem que pagar impostos, melhora muito, sem dúvida nenhuma. Eu sou um pouco mais otimista. Eu acredito que pode ser dentro do governo do Milei, nesses próximos anos. E vou mais longe, eu concordo que não vai ser possível zerar a inflação, nós viemos de uma inflação muito alta da Argentina. Mas me parece que, num contexto de tranquilidade inflacionária e controle inflacionário, como está aparecendo, isso poderia ir melhorando a situação. Milei menciona impostos à importação. Na realidade, o que ele vai diminuir a 7,5% e zerar em dezembro é o chamado “imposto país” e isso tende a pensar que o cepo, que era outra questão que foi mencionada aqui, vai ser mais rápido que as “retenciones”. Os dois são os que provocam essa falta de competitividade do agro, mas qualquer um que possa visualizar que está indo nesse caminho de zerar, isso pode ajudar. E me parece que o cepo será mais rápido que as retenções nesse ano ainda.

Qual é a sua avaliação de impactos para a cadeia agro com essa mudança, por exemplo, na questão das duas taxas que incidem sobre importação? Que efeito isso já deve trazer?
Antonio Sartori: Quando isso acontecer, sem dúvida a Argentina vai ser mais competitiva e deve aumentar a sua produção, principalmente de soja. Há 20 anos, a Argentina produzia 25 milhões de toneladas de soja. Neste ano, colheu 50 milhões. O Brasil, há 20 anos, colhia 50 milhões de toneladas e, neste ano, 150 milhões. E os Estados Unidos, há 20 anos, colhia 70 milhões de toneladas. Neste ano, vai colher 121 milhões. Então, a Argentina tem espaço para aumentar a sua produção. Não tanto na produção de por aumento de área porque eles não têm o potencial de aumento de área como tem o Brasil, mas, sim, por produtividade. Eles poderiam aumentar porque eles não estão usando tecnologia de ponta porque se negam a pagar os direitos de quem são os detentores da biotecnologia.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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