Política de três filhos na China não aumentará demanda do agronegócio brasileiro de imediato

País asiático passa a permitir mais crianças por casal, mas o incremento populacional ainda é incerto

  • Por Kellen Severo
  • 21/06/2021 08h54
Wu Hong/EFE Mulher chinesa com uma criança no cangote, ambos de máscara, anda nas ruas de Pequim A política do filho único vigorou na China até 2016, quando o país passou a permitir dois filhos por casal; agora, há autorização para três crianças

A China, país mais populoso do mundo e principal parceiro comercial do Brasil, está preocupada com o envelhecimento da população e decidiu estimular as famílias a terem mais filhos. A nova regra, anunciada nas últimas semanas, permite até 3 crianças por casal. Vale lembrar que até 2016 vigorou a política do filho único, depois os casais receberam autorização para ter dois filhos. E agora, com a queda da natalidade, o presidente chinês Xi Jinping autorizou uma terceira criança por família. Mesmo com a mudança na política demográfica, aumentar o número de chineses no mundo não será tão simples assim. Alto custo de vida, aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho e a elevada carga horária nas empresas são alguns dos fatores que limitam o desejo de ter filhos. O incremento populacional dependerá da adesão à nova política. De acordo com informações da Agência Brasil, a população chinesa pode começar a cair já a partir do próximo ano. A projeção leva em conta informações dos últimos censos, que apontaram o crescimento populacional chinês mais lento dos últimos anos. Na década de 60, o número médio de filhos era superior a 6 por casal, nos anos 80 caiu para 3 e em 2020 o número médio de filhos por cada chinesa foi de 1,3.

De imediato, a nova política demográfica da China não vai gerar aumento na demanda por alimentos para o agro brasileiro porque ainda é incerto o sucesso da medida. Segundo, mesmo que haja ampla adesão à ideia de 3 filhos por casal, o que acho difícil acontecer, ainda assim levaria tempo para sentirmos os impactos no mercado consumidor de alimentos. Agora, atenção, para o setor agro, tão importante quanto o aumento da população consumidora chinesa é o desenvolvimento econômico do país e o incremento de renda dessa população. É o que me disse a Chefe do Núcleo China do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aqui no Brasil, Larissa Wachholz.

“A partir do momento que tem um desenvolvimento econômico saudável e esse incremento da renda continua, as famílias vão continuar consumindo. Alguns alimentos o consumo vai ficar mais ou menos o mesmo, que são as bases, nos alimentos de maior valor agregado, é onde está a diferença. Para um país como o Brasil, que é exportador de alimentos, o incremento de renda da população é o grande salto de agregação de valor.” Mesmo que a política de natalidade de Xi Jinping falhe, o agronegócio tem oportunidades no mercado chinês por causa da urbanização. Cerca de 64% das famílias vivem em cidades, o que, de acordo com conclusões do Núcleo China no MAPA, é relevante, pois essa população urbana tende a ter incremento de renda, e esse aumento de renda leva a uma mudança da dieta, com entrada de mais proteínas animal, frutas, leites. O Brasil tem fatias importantes desse mercado para ocupar.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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