Uma semana após acordo da ONU, retomada das exportações da Ucrânia ainda é incerta
Há esperança de que pelo menos parte da produção seja escoada; fontes do mercado ouvidas pela coluna dizem que navios que podem sair de lá são os que já estão carregados com grãos há meses
Uma semana após a assinatura do acordo da Organização das Nações Unidas (ONU) entre Rússia e Ucrânia para retomar as exportações de grãos em importantes portos ucranianos, há ceticismo sobre a real capacidade logística para operacionalizar a saída dos cereais do país. Logo depois do acordo, a dúvida cresceu ao ser revelado que um míssil russo atingiu o porto de Odessa, por onde antes da guerra aconteciam as principais exportações da Ucrânia. O ambiente bélico, cheio de minas e barcaças afundadas faz com que muitas companhias concluam que é perigoso operar no Mar Negro. O colapso na logística é um entrave a grandes avanços em volume de exportação.
Há esperança de que pelo menos parte da produção seja escoada. Fontes do mercado me disseram que os navios que podem sair de lá são os que já estão carregados com grãos há meses. O desafio vai ser voltar e recarregar devido à incerteza do ambiente de guerra que cerca a região. Por tudo isso, é difícil acreditar em um desdobramento positivo e rápido para os embarques de grandes volumes de produtos. Mas, analistas que atuam no mercado ucraniano me disseram estar confiantes que a rota dos grãos funcione a medida que os problemas logísticos estão sendo resolvidos pouco a pouco e os embarques pelo Mar Negro sejam desbloqueados. A expectativa é que no primeiro mês de acordo sejam escoados 1 a 2 milhões de toneladas de grãos, abaixo dos cerca de 4 a 6 em tempos pré-guerra. Dependendo da disponibilidade de embarcações, em até 10 dias podemos ver os primeiros navios carregados deixarem a Ucrânia.
O acordo da ONU vale por 120 dias e gerou expectativas para a retomada das exportações de grãos. O bloqueio nos portos da Ucrânia limitou significativamente os volumes de embarques de commodities como milho, trigo e cevada. A crise alimentar tem atingido regiões como o Oriente Médio e África, alguns dos destinos desses grãos. Dados divulgados pelo Financial Times citando o Ministério da Agricultura da Ucrânia apontam para um recuo de 40% nas exportações de trigo, milho e cevada em junho de 2022 ante junho de 2021. Enquanto a guerra persistir, são frágeis as possibilidades de forte recuperação das exportações de grãos da Ucrânia. O mercado internacional deve seguir sustentado com a ausência desse importante participante do mercado global. No mundo dos negócios, o agro do Brasil tem oportunidade para conquistar clientes para os produtos daqui.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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