Lula vai visitar o rei Charles, mas o melhor aperto de mão foi do primeiro-ministro britânico
O fato de o presidente brasileiro conseguir um espaço na agenda de Rishi Sunak na véspera da coroação indica vontade de Londres em ampliar o relacionamento com Brasília
Lula fez parte da seleta lista de dois mil convidados que puderem se sentar dentro da abadia de Westminster. O presidente brasileiro se sentou perto do líder francês, Emmanuel Macron. Os dois se cumprimentaram cordialmente e trocaram sorrisos. Fidalguia à parte, o gesto pode ser um importante aceno diplomático. O presidente francês entrou na lista de desafetos de Jair Bolsonaro. Mas em Londres, Macron foi um personagem terciário. Até o protagonista da festa, o coroado Charles III, teve um papel político menos significativo se olharmos pela ótica mercantilista. Um dia antes da cerimônia que oficializou o rei no trono britânico, o primeiro-ministro Rishi Sunak recebeu poucas delegações em seu gabinete. O que significa conseguir uma reunião na véspera de um evento tão marcante, no qual o próprio premiê teria papel de destaque? A resposta: oportunidade.
A guerra na Ucrânia ainda é um relevante ponto de divergência entre os governos. Lula não mostra uma posição firme de crítica à Rússia, o que incomoda o Reino Unido que vocifera contra Vladimir Putin. A desavença ficou em segundo plano. O encontro foi, principalmente, sobre pautas afins. Ao explicitar que os Estados Unidos haviam contribuído com 500 milhões de dólares, o presidente brasileiro usou de um constrangimento discreto para colocar o Reino Unido no jogo. Sunik se comprometeu a colaborar, também. Só ficou faltando divulgar o valor. Lula manteve o assunto vivo ao cumprimentar Charles, na visita ao Palácio de Buckingham no mesmo dia que conversou com o premiê. Reforçou a importância da coroa participar da preservação da floresta. O presidente sabe que o tema é caro ao rei. Outro discurso que ganha força entre governo e entidades britânicas é a realização da COP-30 – a Conferência do Clima da ONU – na capital paraense Belém, em 2025. A coluna conversou com a presidente da Câmara de Comércio Brasil-Reino Unido, Ana Paula Vitelli, que apontou duas vantagens: aumentar a liderança brasileira nas discussões sobre o clima e, principalmente, atrair investimentos estrangeiros para o chamado “setor verde”.
Por fim, o mais valoroso: a bitributação. Foi assinado um acordo, em novembro do ano passado, para evitar a cobrança de impostos nas duas pontas da transação, envolvendo importações e exportações entre Brasil e Reino Unido. Para a medida entrar em vigor falta a aprovação dos parlamentos dos dois países. “A Câmara de Comércio Brasil-Reino Unido vem trabalhando fortemente para a celeridade deste processo porque é um acordo que – de fato – poderá gerar muitas oportunidades nas relações bilaterais”. O Reino Unido é a sexta maior economia do mundo. Desde janeiro de 2020, os britânicos estão revendo parcerias internacionais por conta da saída da União Europeia. O potencial de acordos com o Brasil cresceu exponencialmente, desde então. A desvalorização do real frente à libra apetece os compradores, além do fato do Brasil fornecer ao território do rei matéria-prima e alimentos. Outras portas que poderiam se abrir quando o ambiente tributário for menos hostil são as indústrias voltadas à tecnologia e a pesquisa científica, campos que o Brasil vê minar há trinta anos.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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