Lula vai visitar o rei Charles, mas o melhor aperto de mão foi do primeiro-ministro britânico

O fato de o presidente brasileiro conseguir um espaço na agenda de Rishi Sunak na véspera da coroação indica vontade de Londres em ampliar o relacionamento com Brasília

  • Por Marcelo Favalli
  • 09/05/2023 19h21 - Atualizado em 10/05/2023 01h32
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Ricardo Stuckert/PR/Divulgação Lula cumprimenta Rishi Sunak durante encontro em Downing Street Lula se encontrou com Rishi Sunak no Reino Unido

Lula fez parte da seleta lista de dois mil convidados que puderem se sentar dentro da abadia de Westminster. O presidente brasileiro se sentou perto do líder francês, Emmanuel Macron. Os dois se cumprimentaram cordialmente e trocaram sorrisos. Fidalguia à parte, o gesto pode ser um importante aceno diplomático. O presidente francês entrou na lista de desafetos de Jair Bolsonaro. Mas em Londres, Macron foi um personagem terciário. Até o protagonista da festa, o coroado Charles III, teve um papel político menos significativo se olharmos pela ótica mercantilista. Um dia antes da cerimônia que oficializou o rei no trono britânico, o primeiro-ministro Rishi Sunak recebeu poucas delegações em seu gabinete. O que significa conseguir uma reunião na véspera de um evento tão marcante, no qual o próprio premiê teria papel de destaque? A resposta: oportunidade.

A guerra na Ucrânia ainda é um relevante ponto de divergência entre os governos. Lula não mostra uma posição firme de crítica à Rússia, o que incomoda o Reino Unido que vocifera contra Vladimir Putin. A desavença ficou em segundo plano. O encontro foi, principalmente, sobre pautas afins. Ao explicitar que os Estados Unidos haviam contribuído com 500 milhões de dólares, o presidente brasileiro usou de um constrangimento discreto para colocar o Reino Unido no jogo. Sunik se comprometeu a colaborar, também. Só ficou faltando divulgar o valor. Lula manteve o assunto vivo ao cumprimentar Charles, na visita ao Palácio de Buckingham no mesmo dia que conversou com o premiê. Reforçou a importância da coroa participar da preservação da floresta. O presidente sabe que o tema é caro ao rei. Outro discurso que ganha força entre governo e entidades britânicas é a realização da COP-30 – a Conferência do Clima da ONU – na capital paraense Belém, em 2025. A coluna conversou com a presidente da Câmara de Comércio Brasil-Reino Unido, Ana Paula Vitelli, que apontou duas vantagens: aumentar a liderança brasileira nas discussões sobre o clima e, principalmente, atrair investimentos estrangeiros para o chamado “setor verde”.

Por fim, o mais valoroso: a bitributação. Foi assinado um acordo, em novembro do ano passado, para evitar a cobrança de impostos nas duas pontas da transação, envolvendo importações e exportações entre Brasil e Reino Unido. Para a medida entrar em vigor falta a aprovação dos parlamentos dos dois países. “A Câmara de Comércio Brasil-Reino Unido vem trabalhando fortemente para a celeridade deste processo porque é um acordo que – de fato – poderá gerar muitas oportunidades nas relações bilaterais”. O Reino Unido é a sexta maior economia do mundo. Desde janeiro de 2020, os britânicos estão revendo parcerias internacionais por conta da saída da União Europeia. O potencial de acordos com o Brasil cresceu exponencialmente, desde então. A desvalorização do real frente à libra apetece os compradores, além do fato do Brasil fornecer ao território do rei matéria-prima e alimentos. Outras portas que poderiam se abrir quando o ambiente tributário for menos hostil são as indústrias voltadas à tecnologia e a pesquisa científica, campos que o Brasil vê minar há trinta anos.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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