Céu em cores: parece belo, mas é poluição
A poluição atmosférica é composta por partículas finas, como a fuligem, que se infiltram nos pulmões e na corrente sanguínea
Nos últimos dias, o céu de São Paulo e de outras cidades do Brasil amanheceu com um tom vermelho vibrante, chamando a atenção dos moradores. O que parece apenas um fenômeno curioso é, na verdade, um alerta: a cidade enfrenta uma das maiores crises de poluição do ar em sua história recente. Segundo o monitoramento do IQAir, São Paulo atingiu um dos piores índices de qualidade do ar (AQI) do planeta, superando 160 pontos em algumas ocasiões — um nível considerado insalubre para a população. Por trás desse cenário, estão as queimadas recordes em várias regiões do Brasil. Mais de 150 mil focos de incêndios florestais foram registrados até agora, um número alarmante que coloca biomas essenciais como Amazônia, Cerrado e Pantanal em risco. A fumaça resultante desses incêndios é levada pelo vento até centros urbanos, como São Paulo, deteriorando a qualidade do ar e agravando a situação de saúde pública.
A poluição atmosférica é composta por partículas finas, como a fuligem, que se infiltram nos pulmões e na corrente sanguínea. Em São Paulo, o Instituto Saúde e Sustentabilidade divulgou que as internações por doenças respiratórias, como asma e bronquite, aumentaram em 30% nos últimos meses. Crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas estão entre os mais afetados. Além das doenças respiratórias, a exposição contínua à poluição pode provocar doenças cardíacas, derrames e até câncer de pulmão. O impacto na saúde pública é devastador e reflete diretamente na sobrecarga do sistema de saúde da cidade, já pressionado por outras crises.
A seca prolongada que atinge São Paulo agrava ainda mais essa situação. Com os reservatórios de água em níveis críticos, o Brasil tem sido forçado a recorrer a usinas térmicas, que além de mais caras, são altamente poluentes. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revelou que o uso de termelétricas aumentou em 12% em 2024, elevando as tarifas de energia para os consumidores. O impacto é direto no bolso da população, que já enfrenta altos custos com alimentação, energia e saúde. Esse cenário é insustentável a longo prazo. São Paulo, como maior cidade do Brasil, é também um dos principais polos econômicos da América Latina, e uma crise ambiental dessa magnitude coloca em risco a economia local. Custos com saúde, perda de produtividade e aumento de gastos com energia são apenas algumas das consequências visíveis.
Enquanto as queimadas continuam a devastar florestas, pouco se faz para combater efetivamente as causas. A fiscalização contra desmatamento ilegal e incêncios criminosos é insuficiente, e as políticas públicas de prevenção são inconsistentes. São Paulo, com sua capacidade tecnológica e econômica, tem a oportunidade de liderar esse movimento, mas isso depende de políticas públicas assertivas e de longo prazo. A poluição do ar e a crise climática não são problemas distantes ou isolados. Seus impactos são sentidos no cotidiano da população, nas filas dos hospitais, nas prateleiras dos supermercados e nas contas de luz. Enquanto tratarmos esses desafios como fenômenos naturais inevitáveis, continuaremos a pagar a conta com nossa saúde, nossa economia e nosso futuro.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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