Dane-se se o Enzo Celulari não gosta de carne

Filho de Claudia Raia e Edson Celulari criou polêmica ao questionar se a queda do consumo de proteína animal na pandemia teria relação com a conscientização; gostos devem ser respeitados, sem a patrulha do politicamente correto

  • Por Paulo Mathias
  • 30/05/2021 08h00 - Atualizado em 30/05/2021 11h54
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Instagram/@enzocelulari Enzo Celulari, homem de cabelos castanhos pretos e bigode, deitado em cima de uma poltrona e tirando uma selfie Publicação foi deletada alguns minutos depois, mas já havia viralizado, e trouxe ao empresário, que é adepto ao veganismo, uma chuva de críticas

Esta semana, um comentário infeliz feito pelo empresário Enzo Celulari, filho de Claudia Raia e Edson Celulari, foi destaque na mídia. Enzo questionou nas redes sociais a queda do consumo de carne durante a pandemia, como forma de conscientização dos consumidores. O que ele se esquece, com esse posicionamento um tanto lunático, é que hoje, no país, a queda no consumo de carne pela maior parte da população não se trata da alta de preços, nem da consciência de quem deixa de consumir o produto, mas da fome que infelizmente assola o Brasil. A indignação com a pergunta do empreendedor social foi imediata e mostrou o seu desconhecimento sobre um problema que, embora tenha sido agravado pela pandemia, não é nenhuma novidade. Além disso, para quem está faminto, não existe a possibilidade de uma escolha consciente a respeito do que come, muito menos a de ser um consumidor de produtos que substituam a proteína de origem animal. Atualmente, no Brasil, há 14 milhões de desempregados, que recebem auxílio de R$ 150,00 por mês do governo, não restando muitas opções para suprir a fome da família.

Alguns arriscam a própria vida para roubar um pedaço de carne no supermercado. Segundo o colunista da UOL, André Santana, o comentário de Enzo Celulari “evidencia o abismo que há entre aqueles que podem escolher o que comer e as milhares de pessoas que acordam sem saber como matar a fome”. Respostas a um questionamento impróprio sobre uma possível alienação de quem aprecia e consome carne. Novamente, a turma dos “politicamente corretos” querendo aparecer nas redes, como donos da verdade e ditadores de regras. A publicação foi deletada alguns minutos depois. No entanto, já havia viralizado na web, o que trouxe ao empresário, que é adepto ao veganismo, uma chuva de críticas e ofensas que, a meu ver, poderiam ter sido evitadas. Vivam e deixem os outros viverem como quiserem. Muito chato tudo isso.

Nada contra veganos e vegetarianos. Respeito às diferenças é essencial em uma sociedade democrática como a nossa. Cada um no seu quadrado, defendendo suas ideias e preferências, de forma elegante, com argumentos convincentes, sem denegrir a imagem de ninguém. Os veganos escolheram não consumir laticínios, ovos ou quaisquer outros produtos de origem animal, assim como a carne. Opção válida para quem assim decide se posicionar. Falando de veganismo, há uma série de motivos pelos quais as pessoas optam pelo não consumo de carne e de seus derivados. Algumas se dizem contrárias ao sofrimento dos animais, enquanto outras tentam manter um estilo de vida mais saudável. Porém, se todos nós resolvêssemos nos tornar veganos ou vegetarianos, as consequências poderiam ser dramáticas para milhões de pessoas. Viva os churrasqueiros e amantes de carne, que possuem acesso a uma boa alimentação, o que não quer dizer que sejam pessoas alienadas aos problemas sociais brasileiros e que ignorem o drama de mais de 58 milhões de pessoas que não têm acesso a uma alimentação rica em nutrientes. Preferir uma coisa a outra não determina a consciência de ninguém, muito menos coloca pessoas em lados contrários. Até quando vamos conviver com essa “guerra” silenciosa entre posições opostas. Uma hora, são os seriados com personagens que afetam a moral e os bons costumes; agora, preferências alimentares que polemizam nas redes, pelo simples fato de existirem pessoas que apreciam um bom churrasco.

No Brasil, durante a pandemia, após atingir o menor patamar em 15 anos, com 27,6 quilos, o consumo de carne bovina per capita deve registrar nova queda em 2021, se o governo argentino proibir as exportações do país além dos 30 dias previstos inicialmente. Hoje, com a crise provocada pelo coronavírus, o mundo todo está pagando mais pela comida. Segundo dados recentes do IBGE, o preço das carnes em geral subiu 35% no país. Além disso, de acordo com César de Castro, consultor de agronegócios do Itaú, “neste ano vamos produzir menos e exportar um pouco mais, o que significa que o consumo vai cair novamente”. O que, mais uma vez, não se trata de conscientização, mas de uma realidade econômica pela qual passa o mundo todo neste período pandêmico. A crise na Argentina afeta a exportação de carne para países como o Brasil. Fatos que respondem ao questionamento de Celulari. Apenas fatos.

Em momentos como este, em que se discute o porque do consumo de carne em um país como o nosso, não apenas ao Enzo Celulari, destaque na mídia por um recente comentário infeliz, mas há muitos brasileiros que, como ele, acreditam que existam opções para o consumo de determinados produtos, faço um alerta: conscientizem-se da realidade que nos cerca, de uma população, em sua grande maioria, que apela por comida, sem opção de escolha, apenas matar a fome. A conscientização sobre comer ou não carne não está contida em preferências alimentares, muito menos no preço atual do produto, mas na falta de opção pelo empobrecimento da população no mundo todo. Por outro lado, “dane-se se o Enzo Celulari não gosta de carne” e “dane-se, se eu sou um amante de churrasco”. Gostos devem ser respeitados, cada um ocupando seu espaço, seguindo sua vida em paz, sem a patrulha do politicamente “correto”, que pra mim, passou de todos os limites. E viva uma picanha na brasa, acompanhada de um bom vinho neste fim de semana. Saúde!

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