Participação de Karol Conká no ‘BBB21’ provou que caráter não tem cor de pele

Cantora teve demonstrações de xenofobia, violência psicológica, entre outros problemas; sua história serviu de exemplo para mostrar que a ética deve ser sempre colocada acima de qualquer tema racial

  • Por Paulo Mathias
  • 28/02/2021 08h00
Reprodução/Globo Karol Conká saiu do Big Brother Brasil com 99,17% de rejeição do público

Nesta semana, assistimos ao desfecho da participação de Karol Conká no Big Brother Brasil. A eliminação da rapper com 99,17% dos votos tirou a participante do programa. Este índice, o maior da história do reality show, nos faz refletir sobre questões como caráter, conduta ética, preconceito e tantas outras, que, com certeza, não vêm atreladas à cor da pele, à descendência, etnia, ou qualquer característica física que carregue uma conotação equivocada. Ao longo do programa, Karol foi claramente demonstrando sua inclinação à xenofobia, relativização de assédio e outros mais. Bissexual assumida, dita feminista e, segundo ela, defensora das minorias, Karoline dos Santos Oliveira pertence a uma família humilde de Curitiba. A mãe, amante de poemas, influenciou Karol a compor suas músicas, participar de grupos de dança da comunidade, até iniciar uma carreira no mundo artístico. Costumava reforçar o “K” do nome, o que deu origem à sua denominação no meio musical. Iniciou a carreira aos 17 anos, ficou grávida aos 19 anos, mãe de menino, precisou se afastar dos palcos para cuidar do filho. Separou-se do marido logo em seguida. Uma pessoa que conseguiu destruir sua imagem durante a participação no programa.

Foram vários os motivos que justificaram a eliminação de Karol. Um deles é a questão da xenofobia ao se dirigir a uma participante nordestina com desdém, fazendo questão de dizer que era natural de Curitiba, portanto, mais “educada” que a outra concorrente. Com a manifestação de um preconceito velado, Karol recebeu muitas críticas dentro e fora do programa, bombando as redes sociais de comentários contra a atitude da rapper. Não bastando isso, Karol Conká, por meio de um discurso em que relativizava o assédio a uma das concorrentes, colocou em dúvida a palavra das vítimas sobre o problema e outras variantes de violência sexual. A eliminada insinuou que uma das meninas havia simulado um assédio, o que colocou mais um “pecado capital” na lista de Karol, dessa vez, a mentira.

Além disso, a cantora mostrou preconceito contra as religiões de origem africana, ao afirmar que precisaria rezar um “Pai Nosso”, em volta de participantes que são simpatizantes das religiões afro. Assim como questionou por diversas vezes a existência de Deus, que, de acordo com ela, se encontrava ausente para ajudar a todos que disputavam o programa. Mais um ponto a favor do movimento de rejeição à sua permanência. Juntando-se ao rol de preconceitos, Karol associou características físicas de um dos participantes ao seu caráter ao falar que um deles tinha mau hálito, associando esse fato à suposta “ruindade” do colega de programa. A meu ver, outro sinal de insanidade por parte da rapper. Isso me fez lembrar de outra bola fora de Conká, equivocando-se ao fazer comentários sobre saúde mental. Ao tomar conhecimento de uma passagem da vida de um dos colegas sobre uma possível tentativa de suicídio no decorrer de sua vida, afirmou, de forma leviana e irresponsável, que esse relato poderia induzir outras pessoas a fazerem o mesmo. Comentário infeliz, principalmente para quem viveu ou vivencia um quadro de depressão. Como também zombou de episódios de ansiedade apresentados por alguns participantes da casa. Lastimável.

Mas como nada fica livre de consequências, depois de todas essas atitudes agressivas, comentários impróprios e ações descabidas, Karol passou a acumular prejuízos, iniciando a perda de contratos, o corte de milhares de seguidores nas redes sociais e de prestígio com os patrocinadores, que temem associar sua marca a alguém que pratica violência psicológica. Outra grande perda foi o cancelamento do programa “Prazer Feminino”, exibido pela GNT sob o comando de Karol. Além de cancelamentos de shows, perda de apoiadores artísticos, famosos decepcionados e exclusão de seu perfil no Twitter. O que resta é poder juntar os cacos e tentar rever tudo o que ocorreu durante sua permanência no BBB. Não boto fé nos pedidos de desculpa da cantora, como o que ela disse em entrevista concedida ao programa “Mais Você”, da apresentadora Ana Maria Braga, na TV Globo. Na entrevista, Karol manifestou estar arrependida por seus atos, disse que irá procurar apoio psicológico, pedindo perdão em rede nacional. Assumiu, perante as câmeras, que perdeu o controle e que suas atitudes não retrataram o que ela é de verdade. Não me convenceu, e acredito que a muitas pessoas também não. Isso não quer dizer que não creio no arrependimento e que não possa trazer consciência para uma mudança na vida de qualquer um. Pelo contrário. Todos aqueles que realmente desejam se tornar um ser humano melhor devem reconhecer seus erros. Nesse sentido, a história de Karol Conká serviu de exemplo para a sociedade, uma vez que ficou claro que em qualquer circunstância, a ética deve ser sempre colocada acima de qualquer tema racial, social, em que as pessoas possam ser distinguidas pelo seu caráter, que independe da cor de pele. O que espero com este artigo é que todos reflitam sobre a relevância da ética, acima de qualquer coisa. Vida que segue.

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