Alexandre de Moraes e Daniel Silveira são individualistas e não se importam com problemas atuais do Brasil
Atenções estão 100% voltadas para a prisão do deputado, enquanto o país pede socorro na saúde, economia e em tantas outras áreas prioritárias, porém, aparentemente esquecidas pela opinião pública
É impressionante como a política e o judiciário brasileiro vivem uma realidade paralela. Os debates públicos se atém a fatos de segunda ordem, deixando de lado questões que clamam por resultados imediatos como as notícias, a olhos vistos, sobre o número crescente de mortos por Covid-19 no Brasil, superando 10 milhões de casos da doença; o término das vacinas em diversas capitais do país; o caos econômico que se desenhou ao longo da pandemia, e tantos outros temas que necessitam de atenção emergencial. Com os olhos da opinião pública voltados para a recente prisão do deputado Daniel Silveira, a meu ver, de forma injusta, embora ele tenha cometido abusos em sua fala, reitera-se a identidade de nosso país, uma nação travada, que pouco foca no prioritário e que, se assim permanecer, dificilmente sairá do rol dos países subdesenvolvidos. Alexandre de Moraes e Daniel Silveira são exemplos dessa falta de coletividade. Ambos agiram de maneira absolutamente individualista, não se importando com o momento em que vivemos.
Embora o deputado Daniel Silveira tenha se excedido em sua fala descabida e ofensiva, sabe-se que a atitude do ministro Alexandre de Moraes, ao decretar a prisão de Silveira, ultrapassou os direitos contidos na Constituição, que impedem a prisão de qualquer parlamentar, por opiniões, palavras e votos. Pela lei brasileira, parlamentares são invioláveis, salvo se forem pegos em flagrante por crimes inafiançáveis, como homicídio, racismo ou tráfico de drogas. Além disso, há uma interpretação absolutamente questionável a respeito da prisão em flagrante: quando um indivíduo posta um vídeo com conteúdo ilegal na internet, que se perpetua e continua no ar, o mesmo permanece em situação de flagrante? Para mim, não. Entendo que a situação não configura prisão em flagrante, porque o ato criminoso seria a postagem do vídeo. A interpretação contrária a isso nos levará a jurisprudências diferentes para uma mesma situação, nos colocando em caminhos perigosos para a nossa democracia. Portanto, tanto de um lado quanto de outro houve abuso de poder, falta de bom senso, o que gerou ações descabidas e inconstitucionais. Atenções 100% voltadas para o caso, enquanto o país pede socorro na saúde, economia e em tantas outras áreas prioritárias, porém, aparentemente esquecidas pela opinião pública. Lastimável.
O caos na área da saúde, assistido pelo mundo todo, apontou, na última quinta-feira, o Brasil com o 5º dia consecutivo com mais mortes por Covid-19, superando dez milhões de casos, o terceiro maior registro em 2021, com uma média de mortes acima de 1.000 por dia. Assim como, o nosso país é o terceiro em número de infectados, de acordo com a Universidade John Hopkins. Dentre os estados com aceleração de caso de Covid-19, o Nordeste aparece como a região com 28% dos óbitos. Não bastando isso, enquanto a grande maioria dos países europeus e dos outros continentes trabalham de forma incansável para a fabricação e aquisição de diferentes vacinas que imunizem a maior parte da população, o Brasil caminha a passo de tartaruga, apesar de todo esforço do Instituto Butantã, incansável em suas ações durante a pandemia. Em vários estados brasileiros, o estoque das vacinas dura até este final de semana. Segundo a gerente da Vigilância Epidemológica de Campo Grande, uma das cidades afetadas pela falta da vacina, espera-se que cheguem mais doses na próxima semana.
Em meio a tantas notícias desesperançosas, nesta semana, os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, reafirmaram as votações da agenda econômica e de combate à pandemia. Em reunião com o ministro da economia, Paulo Guedes, e com o ministro da Secretaria do Governo, general Ramos, tratou-se de pautas como a economia e o retorno do auxílio emergencial. Em uma fala na Câmara, Lira declarou: “Vamos continuar a tratar dos assuntos importantes do Brasil”. De acordo com Arthur Lira, após a prisão do deputado Silveira, mesmo com todos os problemas, as pautas traçadas pelo governo, pela Câmara e pelo Senado deverão ser mantidas. Menos mal.
Diante de tantos fatos desencorajadores e outros que buscam soluções para o destino do país, deseja-se que haja uma cumplicidade popular e política para que possamos sair da pandemia de cabeça erguida, com redução diária de mortes, ampliação na aquisição de vacinas, avanços econômicos e interesses comuns acima de vontades próprias. Casos como o da recente prisão do deputado Silveira, que extrapolou os limites da razão e da decência em suas declarações, e de sua prisão, decretada de forma arbitrária pelo ministro Alexandre Morais, portanto descabidas de ambos os lados, buscam encobrir a realidade de uma nação assolada pela atual pandemia e de uma economia estagnada, invisível a olho nu. O Brasil precisa rever suas prioridades, se quiser reduzir os índices de pobreza do país e atingir uma estabilidade política e econômica. Desavenças políticas, interesses particulares e temas sem relevância devem dar espaço ao que de verdade importa. Se Alexandre de Moraes e Daniel Silveira fossem menos individualistas, teríamos tido uma semana mais proveitosa.
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