Lições do fracasso da Disney: quem lacra não lucra

Gigante do entretenimento é uma das maiores expoentes do movimento woke, que usa sua influência para impor, de forma piramidal e inconteste, ideologias políticas às massas

  • Por Pedro Henrique Alves
  • 11/02/2023 10h00
Divulgação/Disney+ disney+; disney plus Disney+ chegou ao Brasil em novembro

O fenômeno denominado “Woke” está em pleno desenvolvimento, entretanto, sua seiva já é muito bem conhecida por  aqueles que estudam os movimentos ideológicos à esquerda. Como bem resumiu Vivek G. Ramaswamy, em Woke Inc., o movimento woke nada mais é do que usar as plataformas e influências corporativas do grande mercado para impor, de forma piramidal e inconteste, ideologias políticas às massas. Em outras palavras, isto é feito para ser imposto, e não proposto, por aqueles que dominam o capital e aquilo que ele pode comprar.

Talvez, hoje, uma das maiores expoentes do movimento woke mundial seja a Disney. Desde 2020, quando Bob Chapek assumiu como CEO da gigante do entretenimento americano, a agenda progressista tornou-se o éter das animações, a agenda das redações de seus canais, a  Bíblia dos roteiristas, a religião de seus atores. Chapek, em várias entrevistas, anunciou publicamente sua intenção de trazer a agenda LGBTQIA+ para o centro das produções da Disney; além dele, Abigail Disney, herdeira do referido conglomerado de entretenimento, defendeu abertamente que a empresa deveria deixar de ser politicamente neutra, ao mesmo tempo que atacava os conservadores americanos.

E, vejam, não precisam acreditar em mim, caso não  estejam inteirados sobre os recorrentes fracassos populares e econômicos da Disney e de sua sanha ideológica, basta assistir a duas recentes animações da produtora: “Mundo Estranho” e “Lightyear”, e verificar as repercussões e bilheterias desses longas. No primeiro caso, temos protagonistas gays que, entre uma e outra fala, além do próprio contexto da obra, fazem aquela militância básica transvestida de fantasia mirim; no segundo, uma das astronautas da trama, a mais empoderada das personagens, mantém um relacionamento abertamente lésbico. Ambos os filmes com a classificação indicativa da Disney: “Livre”, ou seja, sem restrição de idade.

Não preciso dizer que as animações têm como público-alvo as crianças e que o lobby aberto da Disney tinha a clara intenção de pautar um ensinamento político-moral às crianças, incluindo entre um contexto de aventura e inocência de um desenho animado uma imposição ideológica, como se fosse dever deles ensinar aos filhos alheios o que é ou não moralmente correto. O famoso “do seu filho cuido eu”. O resultado, evidentemente, foi o fracasso das bilheterias de ambos os filmes, sendo o Mundo Estranho, talvez, o maior da história da Disney nos cinemas ‒ é estimado um dano econômico na casa dos 150 milhões de dólares. Quando os dirigentes abertamente afirmam que a intenção da empresa é doutrinar  as crianças, esperar que o público aceite passivamente que isso ocorra com seus filhos não passa de uma paranoia coletiva digna de aplausos.

Como bem explicava o filósofo Isaiah Berlin, o principal e mais profundo efeito da ideologia nos indivíduos é torná-los cegos para a realidade mais óbvia. No entanto, sobretudo a realidade econômica, quando se apresenta aos entorpecidos, ela não costuma fazer carinho antes de dar suas pancadas, ela se apresenta antes tal como é. O serviço de streaming da Disney ‒ Disney+ ‒, por exemplo, anunciou  esta semana que registrou uma queda de 2,4 milhões de assinantes desde o seu lançamento, em 2019; poucos dias depois, anunciaram também que irão demitir cerca de 7 mil funcionários a fim de economizarem 5,5 bilhões na esperança de uma recuperação econômica rápida. Ao que parece, os acionistas não estão felizes com as atitudes políticas desastrosas da empresa. Efetivamente não se nega nos corredores mais altos da Disney que o momento é de crise. Para quem se importa mais com a sociedade e o bem-estar social e político dela, demitir 7 mil pessoas, colocando-as no ostracismo social, é bem pouco “woke”, empático, progressista, não acham?

Se essa crise foi causada direta ou indiretamente pela guinada progressista da empresa é difícil delimitar com certa cientificidade, mas com certeza teve sim seu forte peso. Em meados de abril do ano passado, vários pais e entidades conservadoras norte-americanas protestaram contra a inclusão de pautas ideológicas nas animações e, ao mesmo tempo, contra a pressão política que a Disney exercia nos bastidores contra as leis anti-ideologia de gênero na Flórida. No Brasil, por exemplo, uma petição online, assinada por mais de 233 mil brasileiros pediram a extinção da implementação da pauta LGBTQIA+ nas animações. Sem falar dos pais e indivíduos no geral que, sem alarde, simplesmente não consumiram e não consumirão tal entretenimento, fazendo suas oposições silenciosas e domésticas contra o uso ideológico da produtora.

Em março do ano passado, o ex-CEO, Bob Chapek, chegou a abertamente prometer aos progressistas norte-americanos que as suas animações teriam, no mínimo, 50% de personagens assumidamente gays ou trans; quando seu trabalho é criar desenhos para lares, na sua esmagadora maioria de classe média, conservadora e cristã, desconheço receita mais precisa para o fracasso do que fazer tais promessas para agradar grupelhos militantes. Na afobação imatura e atrapalhada de se tornar politicamente correta, a Disney agiu com aquela inocência que deveria antes compor os seus desenhos, ao invés de transformar cada televisão em um palanque progressista. Aliás, vai aqui uma daquelas inversões morais típicas de nossos dias: a Disney conseguiu ser politicamente ingênua enquanto tentava extirpar a inocência das crianças através de propagandas políticas.

Fato é que, quando uma empresa passa a precisar mostrar a todo custo ao mundo o quanto ela é legal, provando aos seus deuses políticos como ser catequeticamente fiel a uma pauta ideológica, devemos nos questionar o quanto de sanidade existe em tal empresa e o quanto deveríamos apoiá-la ‒ seja com audiência ou ações de mercado. Não à toa que, em novembro de 2022, Bob Chapek foi demitido sem demora, após os repetidos resultados efêmeros das animações da produtora; Bob Iger, antigo CEO, conhecido internamente por uma visão mais familiar e conservadora sobre o papel da animação e do entretenimento da Disney, foi chamado quase que às pressas com a clara missão de arrumar a baderna moral e econômica deixada por Chapek.

Quando a empresa parou de produzir entretenimento e passou a produzir cartazes e gritos políticos, as pessoas começaram a desligar suas televisões, a se  retirarem das salas de exibições, os pais passaram a afastar suas crianças dos produtos Disney. Poucas lições contemporâneas servem mais ao mundo corporativo, às empresas e aos CEOs  politicamente corretos que usam suas cadeiras e influências para testarem seus poderes político-sociais. Aliás, eu assistiria a um documentário mostrando essa guinada de erros e fracassos da casa do Mickey, daria até o título para os produtores se eles  quisessem: “Disney: if you go woke you go broke”, ou em português: “Disney: quem lacra não lucra”.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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