Bom desempenho de Bolsonaro no Flow pode influenciar o resultado das urnas

Simples, natural, brincalhão, espirituoso e simpático, o presidente não fugiu de nenhuma pergunta e talvez tenha conseguido mudar a opinião de eleitores que jamais pensaram em dar seu voto a ele

  • Por Reinaldo Polito
  • 11/08/2022 09h00 - Atualizado em 12/08/2022 07h56
Reprodução/Jovem Pan News Programa Os Pingos nos Is mostra cena de Bolsonaro no Flow O presidente Jair Bolsonaro concedeu entrevista ao Flow Podcast na ultima segunda-feira, 8

Na última segunda-feira, dia 8, havia uma disputa silenciosa e acirrada no ar. No final de 2021, Lula conquistou um resultado excepcional. Ao participar de uma entrevista no podcast Podpah, atingiu a extraordinária marca de 292 mil espectadores. Você não leu errado não — foram quase 300 mil pessoas interessadas em ouvir o que o ex-presidente tinha a dizer. A esquerda soltava fogos, se beliscava e se vangloriava dessa conquista. Dava para emoldurar. E com razão. Afinal, esse desempenho era a demonstração de força e de aceitação do seu ídolo, que surfava livre, leve e solto em primeiro lugar em todas as pesquisas de intenção de votos. Alguns calçaram o salto alto e já esfregavam as mãos comemorando a fatura, que seria liquidada no primeiro turno.

Antes de preparar a omelete, entretanto, é preciso esperar que as galinhas ponham os ovos. Foi o que aconteceu. Ou melhor, o que não aconteceu. Houve algo tão inusitado para que esse jogo, aparentemente ganho, mudasse de fisionomia? Os rojões tiveram de ser recolhidos. No dia da disputa silenciosa, Bolsonaro jogou água no chope dos lulistas. Ao participar do Flow Podcast, de maneira surpreendente até para os mais otimistas seguidores do presidente, o chefe do Executivo conseguiu manter quase 600 mil pessoas interessadas em ouvir sua mensagem por mais de cinco horas. Sim, neste caso seus olhos também não o traíram. Essa multidão toda ficou grudada na frente da tela assistindo à conversa do Capitão.

Espera lá. Mas Bolsonaro não é ruim de discurso? Não é um orador sofrível? Um presidente que não respeita a liturgia do cargo e só abre a boca para falar besteiras? Depende do ponto de vista de quem analisa. Independentemente de viés ideológico, pense na seguinte hipótese. Certo candidato de um país distante ganha as eleições sem dinheiro, sem coligações partidárias, desconhecido pela maioria dos eleitores, sem tempo de televisão para falar de suas propostas, sem nenhum apoio partidário relevante, sem nenhuma estrutura física, contando apenas com um simples telefone celular. Se mesmo sem conhecê-lo, tivesse de avaliar a comunicação dele, que tipo de julgamento você faria? Provavelmente concluiria que se trata de um político com capacidade oratória fenomenal.

Pois bem, Bolsonaro, que é tão criticado às vezes por não saber se expressar em público, se enquadra, sem grandes retoques, no perfil do político que acabamos de descrever. Ninguém com deficiências gritantes de comunicação chegaria à presidência com essas limitações intransponíveis. O presidente é, sim, um orador com muitas qualidades. Demonstrou essa habilidade nessa entrevista de segunda-feira. Muitos que o detestavam por terem sido influenciados por comentários de terceiros ficaram surpresos e muito impressionados com o que viram. Ali na entrevista estava um homem simples, natural, brincalhão, espirituoso, simpático. Não fugiu de nenhuma pergunta, por mais impertinente que pudesse parecer. É possível até que tenha conseguido mudar a opinião de eleitores que jamais pensaram em dar seu voto a ele.

E foi com esse jeitão de quem não esconde nada, que fala o que sente, transpirando autenticidade, independentemente de as pessoas gostarem ou não do seu comportamento, que encantou a maioria. Temos de pensar também que pouca gente tem paciência para assistir a entrevistas, especialmente se o tema for política. Para muitas pessoas, esse é um assunto chato e indigesto. Assim que “suas excelências” começam com suas ladainhas manjadas, quem está na frente da tela vira a chave e põe a cabeça em outra atividade. Foi um verdadeiro milagre que ele tenha conseguido despertar o interesse de tantos espectadores e mantido a atenção de todos por tempo tão prolongado. Com o passar dos dias, a entrevista continua repercutindo. Entre aqueles que assistiram à apresentação inteira visualizando o vídeo, os que se interessaram em ver apenas os melhores momentos e as menções, segundo cálculo de Kim Pain, já ultrapassou com sobra a casa de 1 bilhão. Esse podcast pode certamente fazer enorme diferença na opinião do eleitorado e influenciar o resultado das urnas. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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