A tremedeira de Alexandre de Moraes ocorre até com grandes oradores

Ao fazer a leitura da agenda das sessões durante o julgamento de Bolsonaro, ministro estava visivelmente tenso, com as folhas de papel tremendo em suas mãos

  • Por Reinaldo Polito
  • 27/03/2025 16h06
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Antonio Augusto/STF Primeira Turma do STF julga denúncia sobre o núcleo 1 da Pet 12.100 Alexandre de Moraes é o relator no STF do caso da suposta tentativa de golpe

Por baixo da aparente calmaria, havia no ar uma grande tensão pairando na sala onde a primeira turma do STF avaliaria nesta terça (25) a procedência da denúncia da PGR sobre a tentativa de golpe de Estado. Frente a frente estavam os dois maiores protagonistas da história recente do Brasil, Alexandre de Moraes e Jair Bolsonaro

Não importa se este foi presidente da República e aquele esteja à testa de um dos maiores processos políticos de que se tem notícia no país, pois são, na verdade, dois seres humanos com suas fraquezas e vulnerabilidades naturais. Por mais duros que pudessem se mostrar, em suas veias corre sangue como em qualquer outra pessoa. 

Como nem todos se dão conta dessa realidade, durante o julgamento um fato chamou a atenção: ao fazer a leitura da agenda das sessões, Alexandre de Moraes estava visivelmente tenso, com as folhas de papel tremendo em suas mãos. O episódio surpreendeu, dada a figura poderosa representada pelo ministro.

O que alguns não sabem é que, assim como a tribuna mostra a força e a convicção do orador, pode também revelar seu nervosismo e desconforto, principalmente para ler o discurso. A leitura é, sem dúvida, a atividade mais difícil da arte de falar em público. Raramente encontramos alguém que tenha total domínio desse tipo de comunicação.

Questões de ordem técnica

A dificuldade para ler bem é explicada por vários motivos, sendo os mais relevantes de ordem técnica. É preciso acertar a altura do papel: se ficar muito baixo, pode dificultar a leitura; se muito alto, esconderá o rosto do orador. Apenas quem tem experiência sabe que a melhor posição é na altura da parte superior do peito.

Ao deixar as folhas no local adequado, a leitura se torna mais confortável, permitindo que a plateia veja a fisionomia do orador e favorecendo o contato visual. A cada pausa prolongada e nos finais de frase, deve olhar para os ouvintes, demonstrando que a mensagem está sendo dirigida a eles.

O dedo polegar

Uma dica preciosa: depois de olhar para o público, para não se atrapalhar ao voltar ao texto, um bom recurso é marcar a linha de leitura com o polegar. Assim, evitará o retorno afobado ao papel e a pressão desnecessária, pois saberá exatamente onde parou.

Outra recomendação importante é alternar o olhar entre quem está à direita e quem está à esquerda. Com esse cuidado, os ouvintes se sentirão incluídos no processo de comunicação, pois o contato visual cumprirá sua função: valorizar e prestigiar a presença de todos.

Oradores experientes sentem dificuldade

O que aconteceu com o ministro ocorre até com os melhores e mais experientes oradores. Lembro-me de quando José Sarney era presidente. No último ano de seu mandato como chefe do Executivo, ao discursar no Congresso, mesmo com seus longos anos de experiência, suas mãos tremeram de forma descontrolada, balançando as folhas que segurava.

Nesses casos, ocorre o fenômeno da realimentação da descarga de adrenalina. Quando o orador percebe que seu tremor foi notado pela plateia, fica ainda mais vulnerável. Sentindo-se impotente para controlar a situação, as glândulas suprarrenais despejam mais adrenalina para aumentar a pressão arterial, fortalecer os músculos e preparar o corpo para a fuga daquele momento de tensão.

As mãos ficam trêmulas

Como ele não pode fugir, a adrenalina não é metabolizada e, entre os efeitos provocados, deixa as mãos trêmulas. Se não houver onde apoiar as folhas, o constrangimento diante do público é inevitável.

Sempre que treino alguém para ler discursos em eventos importantes, recomendo o uso de folhas com gramatura mais alta. Assim, se houver um leve tremor, esse desequilíbrio emocional poderá passar despercebido pela audiência.

Marcações no texto

Outra recomendação é a de fazer marcações no texto. Por exemplo, um traço vertical nos locais em que deva ocorrer pausa expressiva; e dois traços verticais que indicarão o momento mais adequado para olhar na direção dos ouvintes. Com bastante treino, esses apontamentos permitirão que a mensagem seja bem interpretada e farão com que o orador se sinta mais seguro e confiante diante da plateia.

Esses exemplos são valiosos para quem faz apresentações em público. Assim como pessoas em cargos hierárquicos elevados, como o ministro, podem ser surpreendidas por um nervosismo inesperado, qualquer um pode passar pela mesma situação.

Todo cuidado é pouco

Por isso, é prudente se precaver ao ler um discurso. Primeiro, treinar bastante. Depois, cuidar dos aspectos estéticos: altura correta do papel, contato visual com o público, marcação do texto com o dedo e impressão em papel mais firme.

Ah, sempre que possível, deixe as folhas sobre uma mesa ou em um púlpito. Assim, as mãos terão onde se apoiar, caso falte segurança. Se o ministro tivesse feito isso, talvez hoje não estivéssemos falando de seu desempenho como orador naquele evento. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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