A tristeza inconsolável dos bolsonaristas
Está certo que o baque para quem torceu pela vitória do presidente foi de tirar o chão, mas, passadas algumas horas, cada um deve sacudir a poeira, espantar o desânimo, e vida que segue
Miguel de Cervantes, na sua imortal obra “Dom Quixote de la Mancha”, disse com lucidez incomparável: “As tristezas não se fizeram para os animais, mas sim para os homens; mas se os homens as sentem demais, tornam-se animais”. Tenho visto bolsonaristas arrasados. Uns dizem que estão de luto. Outros revelam que se sentem impotentes diante da vida. E há aqueles ainda que confessam não saber o que farão daqui para frente. Segundo Cervantes, uma tristeza que os aproxima dos animais. Está certo que o baque para quem torceu pela vitória de Bolsonaro foi de tirar o chão. Passadas algumas horas, entretanto, cada um deve sacudir a poeira, espantar o desânimo, e vida que segue.
Democracia é assim. Uns vencem em determinada época e perdem em novas ocasiões. Outros, da mesma forma, experimentam vitórias e derrotas em distintas circunstâncias. A alternância de poder é saudável e até necessária. Evita que decisões equivocadas se perpetuem. Torna possível a análise, a reflexão sobre o que queremos para o país e nós mesmos. Em 2018, os petistas também ficaram desolados quando perderam as eleições. Afinal, queriam ao menos se vingar do “golpista” Michel Temer, que, segundo eles, traiu a “presidenta” Dilma e surrupiou o poder. Nessa época Lula estava preso nas dependências da Polícia Federal em Curitiba. Precisou impor “um poste”, de acordo com os bolsonaristas, para concorrer ao cargo de presidente, Fernando Haddad. Um político não muito conhecido no país, tanto assim que em certas regiões do Nordeste era chamado de Andrade.
Bolsonaro se elegeu e quebrou a hegemonia de quase 30 anos da esquerda no comando do país. O projeto para dominarem os países da América do Sul tinha de ser adiado. E eles não precisaram de muito tempo para voltar ao poder, apenas quatro anos. Só que agora em condições muito diferentes. Bolsonaro conseguiu com seu poder de liderança criar novos líderes conservadores. Ou seja, perdeu o poder, mas deixou plantado um legado muito significativo. Basta dizer que o Congresso tem hoje a maioria de deputados e senadores de centro/direita. Só nessas eleições foram 14 senadores, que somados aos que já estão no cargo passam a ser 37. Já na Câmara os deputados conservadores serão 273. Se o presidente não fizer mais nada na vida pública, essa contribuição terá sido decisiva para que o Brasil não caia definitivamente no regime da esquerda.
Além desses números relevantes no Congresso, Bolsonaro conseguiu que seu ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas se elegesse governador de São Paulo, o Estado mais rico do país. Um político que valoriza a iniciativa privada e sempre prezou pela retidão de conduta. Se fizer uma boa administração, e os ventos soprarem a favor, quem sabe poderá até se tornar o próximo presidente. Por isso, que fiquem tristes os bolsonaristas, mas que não desanimem. Um olhar mais isento nos indica que não será fácil para a esquerda impor seus projetos progressistas com facilidade. Na verdade, Lula terá muita dificuldade para governar. Se não atender às causas conservadoras, não terá condições de aprovar suas propostas no Congresso. Mais ou menos a resistência que Bolsonaro teve de enfrentar com Rodrigo Maia na presidência da Câmara e com Alcolumbre, e depois com Rodrigo Pacheco no comando do Senado. Em pouco tempo, depois das comemorações, quando Lula tiver que comparecer diante dos deputados e senadores, verá que sua vitória foi apenas parcial, pois o país não se dobrará incondicionalmente às suas vontades. Siga pelo Instagram: @polito
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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