Coincidências eleitorais? Uma análise das margens apertadas em eleições recentes

Analisar coincidências eleitorais pode ser intrigante, mas é essencial fazê-lo com cautela para evitar interpretações errôneas

  • Por Reinaldo Polito
  • 30/07/2024 22h16
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Rayner Peña R/EFE Personagens participaram de uma marcha chavista em apoio ao presidente da Venezuela Nicolás Maduro Na Venezuela, Nicolás Maduro não deixa que seus mais importantes competidores concorram com ele

Nicolás Maduro se reelegeu presidente da Venezuela com apertada margem. Obteve 50,62% dos votos. Esse percentual tão estreito levanta dúvidas sobre a autenticidade das eleições. Essa desconfiança não é apenas dos venezuelanos, mas sim de diferentes líderes mundiais. Muitos países não reconheceram sua vitória. Querem maior transparência da votação. Por causa desse entrevero, o governo de Caracas retirou seu corpo diplomático do Chile, Argentina, Costa rica, Peru, Panamá, República dominicana e Uruguai.

Realmente, a vitória de Maduro não convenceu mesmo a comunidade internacional. Como sabemos, as eleições são a base de sustentação da democracia. Definem o rumo político e econômico de uma nação. Recentemente, observamos uma série de eleições com margens mínimas para a vitória em vários países da América Latina, resultando na eleição de candidatos de viés progressista sobre adversários conservadores.

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Coincidências?

Será que esses resultados seriam apenas fruto de coincidências? Muita gente julga que não. Enquanto não houver provas definitivas, essas suspeitas podem ser vistas como irresponsáveis. Mas quem pode proibir interpretações dessa natureza, ainda mais quando o assunto é política? Como disse Dona Geo: “São coincidências demais para serem meras coincidências. São muitos acasos para serem por acaso. Então de quantos acasos coincidentes é feito o destino?”

Se fosse um ou outro caso, talvez os eleitores se conformassem com o resultado. Com os fatos se repetindo em países diferentes a favor da linha progressista, as dúvidas são incontroláveis. Os vencedores sustentam que o resultado é consistente e afirmam que as reclamações são apenas o choro dos perdedores.

Afastando competidores

Na Venezuela, Nicolás Maduro não deixa que seus mais importantes competidores concorram com ele. Sempre encontra uma forma de retirá-los da disputa. Desta vez, a Suprema Corte Venezuelana tornou Maria Corina Machado inelegível. Ela estava com larga vantagem nas pesquisas. Por esse motivo, a percepção de irregularidades foi ainda mais exacerbada.

De forma semelhante, no Brasil, Lula venceu Jair Bolsonaro, batendo na trave, com 50,88% dos votos, levando o petista pela terceira vez ao Palácio do Planalto. A eleição de 30 de outubro de 2022 foi uma das mais acirradas da história recente do país, refletindo uma nação profundamente dividida. É possível dizer que o país foi segmentado ao meio.

Mais coincidências

No Peru, Pedro Castillo, do Partido Socialista Peru Livre, venceu Keiko Fujimori com 50,125% dos votos, uma diferença de apenas 44.058 votos. Fujimori, uma defensora do livre-mercado, contestou os resultados, mas o Tribunal Eleitoral peruano rejeitou suas acusações de fraude, chamando-as de irresponsáveis sem provas concretas.

Na Colômbia, Gustavo Petro, um ex-combatente da guerrilha M-19 e economista, foi eleito presidente em 19 de junho de 2022, com 50,49% dos votos, derrotando Rodolfo Hernández. Petro se tornou o primeiro presidente de esquerda na história do país, com uma diferença de somente 717 mil votos em um total de 22 milhões.

Rui Barbosa

A contestação de eleições não é prática recente. Em 1910, por exemplo, Rui Barbosa perdeu as eleições presidenciais para Hermes da Fonseca, e o resultado foi fortemente repudiado. Rui afirmou que o pleito havia sido manipulado. E alardeava que fora uma roubalheira. Suas reclamações, porém, de nada adiantaram; mesmo que tivesse vencido, não levou.

Os episódios atuais, marcados por coincidências, se revestem de um ingrediente distinto e muito curioso. Ocorrem com diferenças pequenas a favor de candidatos progressistas. Por isso, as pessoas começam a questionar os fatores que podem influenciar tais resultados. É importante destacar que cada eleição tem seu contexto e particularidades, e enquanto algumas disputas eleitorais são contestadas, os sistemas judiciais locais frequentemente atuam para assegurar a legitimidade dos resultados.

Alternância no poder

Analisar coincidências eleitorais pode ser intrigante, mas é essencial fazê-lo com cautela para evitar interpretações errôneas. No caso das eleições brasileiras, é fundamental considerar a preocupação que as autoridades demonstraram com a integridade do sistema eleitoral.

Tanto assim que tem ocorrido alternância no poder. Em outras nações, a fiscalização internacional e os sistemas judiciários locais poderiam desempenhar papéis relevantes para garantir eleições justas e transparentes. Observando de longe, todavia, parece que os responsáveis por assegurar a lisura das votações não têm cumprido bem o seu papel. Pelo menos é o que deixam transparecer.

Cada país possui suas próprias dinâmicas e desafios, e a observação das margens apertadas de vitória pode servir como um ponto de partida para discussões mais profundas sobre o estado atual da democracia na América Latina. Siga pelo Instagram: @polito

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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