Com uma comunicação fora da curva, ministro Gilson Machado usa até dotes com a sanfona para entreter o público

Irônico, brincalhão, vibrante e com respostas afiadas na ponta da língua, pernambucano conquista seus ouvintes com um jeito peculiar de se expressar

  • Por Reinaldo Polito
  • 21/10/2021 09h00
Roberto Castro/Mtur - 16/09/2021 Sentado à frente de um microfone, usando chapéu, óculos,, colete e calça, o ministro Gilson Machado toca sanfona e canta a céu aberto, com outro sanfoneiro à sua esquerda; atrás dele, três pessoas conversam O ministro Gilson Machado toca sanfona em visita a Dourados, no Mato Grosso do Sul

Há uma pergunta que tem sido recorrente: por que o ministro Gilson Machado é tão aplaudido em suas apresentações? Antes de analisar a sua comunicação, vamos a alguns conceitos relevantes da oratória. O conteúdo em voo solo não basta para encantar uma plateia. Precisa ser acompanhado de certa quantidade de espetáculo para se tornar atraente. Por isso, quem fala em público deve explorar o que tiver de melhor para envolver os ouvintes e fazer com que se interessem pela mensagem. Contar piadas, narrar histórias curiosas e pitorescas, cantar, recitar poesias, fazer imitações, enfim, qualquer habilidade que o orador tenha o ajuda a conquistar e a manter a atenção da audiência. Não conheço um palestrante de agenda lotada e bem remunerado que não seja bom contador de história e bem-humorado. A plateia comparece a um evento para ampliar seus conhecimentos, lógico, mas também para ter um pouco de entretenimento. Se a pessoa for modorrenta e sem vida, em pouco tempo vai se tornar desinteressante àqueles que foram ali para ouvi-la. Ainda que o conteúdo seja precioso, sem algum tipo de show não manterá o interesse da plateia.  

Eu me lembro de uma época em que os palestrantes estavam faturando alto. Os mais requisitados conseguiam fechar palestras para todos os dias da semana cobrando acima de R$ 25 mil. Havia até quem fosse contratado por mais de R$ 30 mil. Esse mercado empolgou alguns professores universitários que pensavam: “Esse palestrante não possui dez por cento do meu conhecimento e ganha em uma hora e meia o que eu não consigo auferir em um mês de aulas cansativas. Quer saber de uma coisa? Também vou proferir palestras”. A maioria foi para o mercado falando do mesmo jeito, sem empolgação, como se expressava em sala de aula. Muitos deles, com discurso sem brilho, não emplacaram, e tiveram de voltar rapidinho para a academia. Outros perceberam que, além de todo conteúdo, precisavam também encantar o público com certa dose de espetáculo. Vestiram essa nova roupagem e ganharam muito dinheiro com suas apresentações.

Nem só os palestrantes profissionais precisam atentar para essa questão. Todos aqueles que falam em público devem levar em conta essa aspiração de boa parte das plateias – receber conteúdos consistentes, mas também um pouco de divertimento. Vamos ao ministro do Turismo. Nos últimos tempos, Gilson Machado Neto tem se destacado em suas entrevistas e apresentações. Ele adotou um jeito peculiar de se expressar. Irônico, brincalhão, vibrante, indignado com os problemas. Com aquela fala meio arrastada e gestos enérgicos, consegue encantar as plateias por onde se apresenta. Com respostas rápidas e contundentes, enfrenta os adversários políticos de forma enérgica e competente. Bem preparado para o cargo que ocupa, tem as respostas afiadas, na ponta da língua. Todas as vezes em que usa a palavra em público, fala de maneira eloquente, com vibração e entusiasmo. Bom contador de histórias, ilustra os números que expõe sempre com uma narrativa adequada e interessante. Não deixa uma pergunta sequer sem resposta. Se alguém questiona sobre um teatro, um hotel, uma região turística, o ministro aborda o tema com conhecimento de causa, pois, na maioria dos casos, já esteve lá, e demonstra segurança no que diz. Descreve as belezas naturais do país com tanto envolvimento que ninguém consegue ficar indiferente. Ao terminar sua explanação, as pessoas já estão com vontade de visitar aquela região que, segundo ele, possui incontáveis atrativos turísticos. Se formos analisar tecnicamente, sua comunicação é bem fora da curva, muitas vezes até contrariando as regras clássicas da boa oratória. Mas é esse jeito diferente de ser que o torna único. E, se não bastasse sua oratória contagiante, em certos momentos se vale de outra habilidade primorosa para conquistar os ouvintes – é um bom sanfoneiro. Toca muito bem o instrumento e é afinado para cantar. E a plateia vibra.

Gilson é um excelente exemplo de orador que fez da sua forma diferente de se apresentar em público um recurso excepcional para ter sucesso com a comunicação. Por isso é sempre convidado para entrevistas e para participar dos mais diferentes tipos de eventos. Se outros homens públicos tivessem essa mesma habilidade que o ministro do Turismo, os discursos políticos e as entrevistas certamente seriam mais atraentes e interessantes. Talvez não saibam como ele tocar instrumentos, nem falar com tanta eloquência, mas, com certeza, possuem alguma habilidade que poderia tornar suas apresentações menos chatas, cansativas e muito mais encantadoras. Siga pelo Instagram @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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