Homenagem a uma querida professora
A professora Yolanda talvez nem imagine o impacto que teve ao despertar esse meu interesse pela escrita; por isso, queria descobrir um jeito de encontrá-la e contar como seu incentivo me transformou em escritor
Houve um tempo em que comecei a pensar na minha carreira de escritor. Tentei me lembrar em que momento havia nascido em mim essa vocação. Concluí que tudo começou com a Professora Yolanda Teixeira Monteiro. Ela foi a primeira pessoa a me estimular a escrever. Tive aulas de Português com ela nos anos 1960, em Araraquara, no interior de São Paulo. A professora Yolanda talvez nem imagine o impacto que teve ao despertar esse meu interesse pela escrita. Por isso, queria descobrir um jeito de encontrá-la e contar como seu incentivo me transformou em escritor. Sabia que, após mais de 40 anos, não seria fácil encontrá-la.
Tentei por vários meios saber onde ela estava, mas ninguém tinha informações. Como escrevia semanalmente para o Jornal Tribuna Impressa de Araraquara, resolvi contar a minha história em um dos artigos, da maneira como está a seguir.
Onde andará Yolanda?
As pessoas nem sempre se dão conta de como suas atitudes podem influenciar e marcar a vida daqueles que as cercam. A professora Yolanda não deve imaginar como suas atitudes foram decisivas para que eu aprendesse a gostar de escrever. Ela pegava as poesias que eu escrevia e levava às outras classes para mostrar que um dos colegas da mesma série tinha jeito para compor.
Ah, na aula seguinte eu, com cerca de 15 anos, chegava pelo menos meia hora antes e ficava esperando com ansiedade o momento de entregar a ela uma nova poesia. Que incentivo para eu continuar!
Infelizmente, nunca mais ouvi falar da professora Yolanda, que desapareceu da minha vida. Como eu gostaria que ela soubesse de como foi determinante para que me tornasse um escritor.
Mas onde andará Yolanda? Quem sabe, com este texto, ela se lembre de mim e me diga onde está para que eu possa visitá-la e levar alguns de meus livros de presente. Onde andará você professora Yolanda?
Publiquei esse texto num domingo. Assim que cheguei de uma viagem ao Rio de Janeiro, minha mãe me avisou toda sorridente: a Yolanda ligou. Leu seu artigo e está aguardando sua ligação. O texto que escrevi para a edição seguinte na Tribuna explica o que aconteceu.
Encontrei Yolanda
Impressionante! Encontrei Yolanda. Na semana passada falei nesta coluna sobre uma professora de Português chamada Yolanda, que foi decisiva para que eu passasse a gostar de escrever. Iniciei e encerrei indagando: “Onde andará você, Yolanda?”. O que pretendi com meu texto foi levantar um tema para que pudéssemos todos refletir: que pessoas influenciaram a nossa vida?
Por causa do texto, a minha antiga e querida professora reapareceu. Não só leu como vários de seus amigos também leram e a procuraram para fazer comentários. A nossa conversa foi um momento de grande emoção. Falamos sobre o que ocorreu com a nossa vida ao longo de todos esses anos. Ela sempre foi uma pessoa diferenciada.
Formada em Letras Neolatinas, fez especialização em Literatura Brasileira e Portuguesa e em Filologia Portuguesa. Aposentada, mora na mesma casa. Escreveu alguns livros de poesias e contos e publicou um deles – Passos Largos.
Se ela foi sempre tão competente para ensinar a escrever, dá para deduzir que qualidade tem os textos que produz. Já marcamos um encontro. Vou fazer uma palestra para advogados e estudantes de direito da Uniara, e ela prometeu que estará lá para me assistir.
Sou muito cuidadoso com as minhas palestras, mas nessa vou caprichar ainda mais, pois quero que ela fique orgulhosa do seu aluno. Afinal, agora encontrei você, Yolanda!
E nos encontramos
No dia da minha palestra lá estava Yolanda toda bonita, sentada na primeira fila, com um envelope na mão, pronta para me ver em ação. Quando seu nome foi citado a plateia aplaudiu demoradamente e me ajudou a prestar aquela homenagem tão merecida.
No final ela me fez uma surpresa. Descobri que não apenas ela havia influenciado para que eu me tornasse um escritor, mas que de certa maneira eu também a estimulara a seguir com mais dedicação o magistério. Pediu-me que lesse na frente do público uma carta que eu escrevera e que ela guardara por mais de 40 anos. Este foi um dos trechos:
…Não poderia deixar de lhe agradecer de todo o coração o carinho que me dispensou durante o último ano. Vendo-a quase todos os dias e seguindo seus conselhos tornei-me seu fã pela maneira como trata seus alunos. Jamais a esquecerei e a levarei entre as minhas mais belas recordações… As pessoas se emocionaram, pois ali estavam muitos de seus ex-alunos.
A história continuou
Yolanda havia escrito diversos livros de poesia, esperando a oportunidade para serem publicados. Luiz Vasconcelos, dono da Editora Novo Século, prontificou-se a publicar seus livros. Ele garantiu: ‘A partir de agora, a senhora terá não só uma editora, mas também um editor para cuidar de seus livros’. No início, eu queria encontrá-la, no fim, nós nos encontramos! Siga pelo Instagram: @polito
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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