Lula prova, mais uma vez, que é ruinzinho de debate
Por não se lembrarem das fracas atuações do ex-presidente em confrontos anteriores, petistas estavam ansiosos para o duelo com Bolsonaro
Lula é ruinzinho de debate. Desde sempre. Não estou dizendo que o petista seja péssimo orador. Não, longe disso. O ex-presidente falando em uma tribuna é um encantador de serpentes. Impressiona sua capacidade oratória e habilidade para seduzir os ouvintes. Sua principal característica na arte de falar em público é a competência para levantar questões políticas, sociais e econômicas que vão ao encontro do interesse das plateias. Sabe, como ninguém, se valer do uso da ironia, do deboche e do sarcasmo para ridicularizar os adversários. É verdade que depois de deixar a prisão perdeu um pouco a mão do palanque. Continua bom, mas não é nem sombra do que já foi. Com a voz enfraquecida, repetitivo, defendendo teses contraditórias, só encontra eco entre aqueles que o veneram. Mesmo assim, ninguém pode dizer que não seja um orador com muitas qualidades.
Nos debates, não. E não é de agora. Em 1989, apanhou nos confrontos com Collor. Entre os motivos para não ter vencido aquelas eleições presidenciais está o seu fraco desempenho nos enfrentamentos com o ex-governador de Alagoas. Os vídeos estão na internet para provar como o candidato pelo PT ficou acuado diante da argumentação do adversário. E para piorar, a Globo, que torcia pela eleição do alagoano, produziu cortes do debate favoráveis a Collor e prejudiciais a Lula. Nas eleições de 1994 não foi possível avaliar sua conduta porque Fernando Henrique compareceu a apenas um debate. E os candidatos censuraram o modelo proposto pela TV Bandeirantes, com a participação de uma quantidade excessiva de postulantes. Também em 1998 não deu para analisar a conduta do petista pelo fato de FHC não ter comparecido a nenhum dos confrontos programados.
Em 2002, Lula foi eleito pela primeira vez ao cargo de presidente. O seu adversário no segundo turno foi José Serra. Adversário é maneira de dizer, pois, segundo alguns, aqueles debates confirmaram a existência do teatro das tesouras. As discussões que teve com Serra se assemelharam mais a uma boa conversa de compadres. E olha que Serra era bom de combate. Seus pronunciamentos empolgantes, entretanto, se apagaram diante do petista. E não parou por aí. Ao duelar em 2006 com Alckmin, hoje seu candidato a vice, levou uma surra que até perdeu o rumo. O ex-governador paulista é muito bom de debates. Como possui facilidade para guardar números, cifras e datas, encurrala seus adversários de tal maneira que não deixa espaço para defesa. Tanto é que Lula apelou para o deboche nos momentos em que foi confrontado. Devido à sua altíssima popularidade, mesmo tendo sido derrotado na guerra dos argumentos, venceu as eleições.
Lula jamais havia enfrentado Bolsonaro em um debate. No dia 28, domingo, fizeram a estreia. Tanto lulistas quanto bolsonaristas estavam ansiosos. Os petistas, em sua maioria, por não se lembrarem das fracas atuações do seu líder em confrontos anteriores, acreditavam na competência do seu candidato. Os bolsonaristas receavam que a falta de experiência do presidente em debates poderia prejudicá-lo. Deu a lógica. Já na primeira pergunta, Bolsonaro quase pôs o adversário a nocaute. Foi direto no seu ponto mais vulnerável — a corrupção. Lula rodopiou aqui e ali, mas não conseguiu dar explicações convincentes. Os outros adversários, que estavam ali para desferir golpes nos dois primeiros colocados nas pesquisas, sentindo o cheiro de sangue, partiram também direto para jugular. Quase todos pressionaram o petista com a história dos malfeitos na época do seu governo.
Lula permaneceu praticamente sem reagir. Não conseguiu agredir seu adversário direto. Demonstrou fraqueza. E deixou claro que realmente não sabe digladiar. Seu histórico prova mesmo que ele é fraquinho nos debates. Posso estar enganado, mas, a não ser que não tenha outra saída, ele não aceitará convites para outros confrontos. Precisará se virar com o tempo de televisão, apresentando peças preparadas pelos marqueteiros, e com as apresentações diante de plateias já favoráveis a ele. Imaginando que as pesquisas estejam certas, com essas opções, Lula permanecerá com o mesmo percentual de intenções de votos e talvez até perca muito do que já conquistou. Bolsonaro, ao contrário, terá muitas possibilidades de crescimento. Poderá conquistar o que era inimaginável para os lulistas, vencer as eleições. Como na prática a teoria é outra, vamos acompanhar. Com essa campanha de tiro curto, em poucos dias saberemos o resultado. Siga pelo Instagram: @polito.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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