O que você deve evitar no início do discurso

Chegar diante do público tendo consciência de que certos tipos de introdução não são aconselháveis fará com que o orador utilize o início para atingir sua real finalidade: conquistar os ouvintes

  • Por Reinaldo Polito
  • 29/06/2023 09h00
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wavebreakmedia_micro/Freepik Homem branco de camisa azul e calça jeans fala em público Quem já falou em público sabe que o início é o pior instante da apresentação

O início do discurso tem por objetivo motivar os ouvintes a acompanhar bem o restante da fala. É nesse momento que o orador deve se dedicar à conquista da torcida, da atenção e da docilidade do público. Para atingir esse objetivo, podemos inverter o raciocínio e analisar o que é desaconselhável nessa parte inicial, pois, sabendo o que deve ser evitado, fica mais simples acertar na introdução. Observe que estou dizendo “desaconselhável”. Essa precaução deve ser considerada porque, mesmo não sendo recomendável, há situações em que esses recursos arriscados para começar podem dar bons resultados. Vamos estudar cada um deles separadamente. 

No início evite:

1. Contar piadas

Quem já falou em público sabe que o início é o pior instante da apresentação. A adrenalina foi despejada no organismo e ainda não metabolizada. Por isso, naturalmente, provoca disfunções. O coração bate mais forte. As mãos ficam geladas, ou passam a suar. As borboletas iniciam revoadas no estômago. A voz enrosca na garganta. Os pensamentos que eram tão brilhantes, claros e lógicos, desaparecem. Enfim, o começo é o momento de maior insegurança e desconforto.

Ora, se com essa instabilidade emocional você começar contando uma piada, e ela não tiver graça, ficará ainda mais perdido diante dos ouvintes. Você poderia alegar que a piada é, com certeza, muito boa. Pois é, pode ser pior ainda, já que piada engraçada corre com velocidade espantosa, principalmente nos tempos atuais, com o uso generalizado das mídias sociais. Neste caso, você conta a piada com a certeza de que ela tem ótima qualidade, mas, como é conhecida, as pessoas não reagem e, talvez, sua atuação seja comprometida. Se, todavia, a piada for boa, inédita, curta e guardar interdependência com o conteúdo da apresentação, poderá produzir resultados excepcionais. Ou seja, é um expediente que pode ser bom, mas sempre arriscado.

2. Pedir desculpas

Há dois tipos de desculpas que devem ser evitados: por problemas físicos e pela falta de preparo para falar sobre o tema. Ninguém ganha nada contando para a plateia que está rouco, resfriado, enjoado. Os ouvintes não irão se compadecer e passarão a prestar a atenção nas atitudes do orador. Querem saber se a voz irá ou não desafinar, se a fala manterá ou não a energia que o tema requer. Estarão com o pensamento longe da mensagem. Saiba que, se a mensagem for boa, as pessoas talvez nem percebam o seu desconforto físico.

Se o orador não conhecer o assunto, não deveria estar ali para falar. Por outro lado, se for obrigado a se apresentar, não haveria benefício nenhum em revelar seu despreparo. É importante lembrar que a resistência do ouvinte com relação ao orador se dá pelo fato de não confiar na sua competência. Por isso, se houver dúvida a respeito da sua autoridade para tratar da matéria, seria conveniente demonstrar, com sutileza, conhecimento sobre o assunto. Poderia, por exemplo, mencionar um projeto que tenha desenvolvido, um empreendimento do qual tenha participado, de uma tarefa que tenha liderado. Desde que essas informações estejam associadas ao tema da apresentação, reforçarão sua autoridade para se apresentar.

3. Tomar partido sobre assuntos polêmicos ou controversos

Se uma pessoa não quiser, não deve se despersonalizar dizendo o que não deseja. Cada um que fale o que julgar conveniente, mas não no início. Se a sua opinião contrariar a vontade de parte do público, e começar falando o que pensa, ao mesmo tempo em que agradará os que concordam com sua teoria, poderá aumentar ainda mais a resistência daqueles que pensam de forma distinta. Isto é, dificultará seu trabalho para convencer ou persuadir aqueles que estão na defensiva. 

É recomendável nessa situação elencar todos os pontos comuns que tenha com a plateia e, com cuidado, sensatez e inteligência, começar tocando nos argumentos que estejam em sintonia com a maneira de pensar das pessoas. De tal forma que, depois de algum tempo, comecem a imaginar que as opiniões possivelmente sejam mesmo semelhantes. Assim, se desarmam, baixam as resistências e, despoliciados, poderão aceitar com mais facilidade suas propostas. Só o fato de você chegar diante do público tendo consciência de que esses tipos de introdução precisam ser evitados, já fará com que utilize o início para atingir sua real finalidade — conquistar os ouvintes para que recebam bem a sua mensagem. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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