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Padre celebrante foi preso por não seguir regras básicas da arte de falar em público

Já imaginou um padre ser preso porque não rezou a missa de acordo com os preceitos básicos da boa comunicação? Pois é, a história que vou relatar é verídica e conta como Sua Reverendíssima foi parar no xilindró porque não cumpriu o bê-á-bá da arte oratória. Vamos aos fatos desde os primórdios. Um dos maiores cuidados que o orador deve ter atualmente é com a brevidade de seus discursos. Os ouvintes, geralmente muito atarefados, esperam que o palestrante não consuma muito tempo para transmitir sua mensagem. Vale a boa máxima de não usar duas palavras quando uma pode ser suficiente para explicar a ideia.

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Mensagens longas desestimulam

Nas últimas décadas como professor de oratória, essa tem sido uma busca constante – orientar os alunos a transmitir a mesma mensagem no menor tempo possível, sem perder a essência. Essa precaução não deve se limitar apenas à Comunicação Verbal, precisa ser considerada também na arte de escrever. Mensagens longas, principalmente quando transmitidas por e-mail, WhatsApp e outros meios semelhantes, são desencorajadoras. O leitor se sente desestimulado. E não são poucos aqueles que nem leem. Esta história tem tudo a ver com a prática da objetividade. Foi interessante como nasceu, ao acaso, uma excelente regra para tornar os discursos mais instigantes e atraentes. Tudo aconteceu por causa de um velho hábito que cultivo desde criança.

Lições do acaso

Há “pérolas” que nos caem às mãos assim do nada. Um de meus prazeres prediletos é me sentar à escrivaninha, em frente ao meu acervo de livros, pelo qual tenho verdadeira paixão, e ler. Nada programado. Pinço uma obra aqui, outra acolá. Abro ao acaso. E me delicio com o que nem imaginava poder encontrar. Às vezes, seleciono os mais antigos. São livros que já ultrapassaram os 300 anos de idade. Eles guardam verdadeiros tesouros nas entranhas de suas páginas. Há momentos em que giro a cadeira e me detenho em obras mais contemporâneas. O processo é o mesmo.

Uma sopa de letrinhas

Em uma dessas aventuras, me deparei com a publicação de autoria de Raimundo Magalhães Jr., “Dicionário de provérbios, locuções, curiosidades verbais, frases feitas, etimologias pitorescas e citações”. Ulalá! Quem ficaria indiferente à essa quantidade de promessas feitas já no título? Logo na leitura inicial, notei uma informação curiosa: ABCDE. O que significaria essa sequência de letras? Descobri que a explicação serviria para determinar as características de um discurso perfeito. E nada como uma boa regrinha para orientar os nossos passos.

Não que elas devam nos aprisionar, absolutamente. Ah, não sei como fazer. Muito bem, siga essas orientações que poderão dar certo. Ah, mas eu gostaria de agir de forma distinta. Certo, ainda que as sugestões sirvam de guia para nos comportarmos bem diante do público, se depois de avaliada a circunstância, pesados os prós e contras, o orador sentir que abandonando a regra terá mais chances de sucesso na sua apresentação, que vá em frente.

As consequências de cada um

Acima de tudo a liberdade. Lembrando que a responsabilidade pelas consequências do sucesso ou do fracasso será sempre de quem se apresentou. E qual a explicação dada por Magalhães Jr. para essa “sopa de letrinhas”? Conta que o padre Vicente Pires da Mota, que no período imperial presidiu com mão de ferro várias províncias, foi o protagonista da narrativa. Em Minas Gerais, depois de assistir a uma missa, mandou prender o padre celebrante. Oito dias depois, ao ser libertado, o padre foi até a presença do presidente para agradecer por estar livre novamente.

Um discurso perfeito

Pires da Mota, então, deu a ele a explicação pela atitude que tomara: “Mandei prendê-lo porque Vossa Reverendíssima infringiu os preceitos da igreja, marcados pelas letras do alfabeto: A B C D e E. A missa será dita em voz Alta, será Breve, Clara, Distinta e Exata”. Que melhor recomendação poderia ser dada a quem profere discursos atualmente, quando os ouvintes, a cada dia mais, exigem objetividade e clareza nos pronunciamentos que ouvem?! Ninguém tem tempo para as longas e intrincadas arengas dos oradores, especialmente quando esses se apresentam nas reuniões da vida corporativa. Assim sendo, ao discursar, siga as sábias palavras do padre Mota: Fale com voz Alta, seja Breve, Claro, Distinto e Exato. Siga pelo Instagram: @polito

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